sábado, 8 de fevereiro de 2020

Os “parasitas”

O senhor Paulo Guedes chega ao Ministério com um parasita dirigindo seu carro. Entra e outro parasita abre-lhe o elevador privativo, pelo qual sobe ao quinto andar, para seu gabinete.
Uma parasita transmite-lhe as mensagens que o aguardavam, enquanto outro parasita serve-lhe o café fumegante.
O “homem” já não era dos mais simpáticos, carregado do autoritarismo próprio dos banqueiros , ramo no qual simpatia não é coisa que se ofereça a subalternos.
Mas agora ele cruzou o limite entre a humilhação privada e a ofensa pública.
Afinal, embora não sejam raros os maus tratos no trabalho diário, outros executivos, ao menos publicamente, os chamam agora de “colaboradores”.
Cada um daqueles parasitas e centenas de milhares de outros levaram ontem um desaforo para casa.
Tiveram que enfrentar a irritação de mulheres e maridos, que os veem sair cedo e chegar tarde da repartição, muitas vezes além do horário.
Já acostumados ao perigo de falar, nos tempos de hoje, ruminam a vergonha em silêncio.
Sabem que é deles que se fala, não dos “bacanas”, os do segundo e terceiro escalão – em geral, funcionários requisitados do Banco do Brasil, da Caixa, da Receita ou das carreiras jurídicas, porque ganham relativamente bem e aceitam trabalhar pelos cargos da DAS que, sem isso, não contratam profissionais “competitivos”.
Não a eles, que há anos aceitam de tudo esperando aquela gratificação mixuruca, mas que faz falta em seus parcos vencimentos.
Não vão mais se aposentar tão cedo e nem terão reajuste. É tocar a vida com o que se tem, porque veem em volta que muitos não têm mais.
Guedes pode soltar notas “oficiais” dizendo que não disse o que disse nem que pensa o que pensa.
Gravou em sua própria testa um estigma indelével.
A maldição dos humildes gruda mais que um parasita.
random image

O “excludente” de ilicitude já existe quando o morto é pobre

A Corregedoria da PM paulista já decretou.
Os nove jovens que morreram do baile funk de Paraisópolis cometeram suicídio.
Ninguém mais, além deles próprios, foi responsável por suas mortes.
Os policiais agiram “em legitima defesa” ao encurralarem-nos num brete onde a única saída era pisotearem-se uns aos outros.
Ainda que possa não ter sido deliberado, foi o emprego abusivo da força.
Afinal, eles não são gente como eu ou você, não é?
A turma do “prende e arrebenta” ou do, atualmente,”nem prende, vai matando logo, cancela o CPF” está radiante.
O excludente de ilicitude já está, como há tempos, implantado.
E mais amplo do que queria Sergio Moro. Nem medo, nem surpresa, nem violenta emoção.
Basta que o morto seja pobre, quer maior prova de que era um criminoso?

Guedes elege o novo inimigo da Nação: o servidor público

Diz o G1 que o ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou funcionários públicos a “parasitas” ao comentar, hoje, as reformas administrativas pretendidas pelo governo federal. em palestra na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Segundo ele, seria absurdo o reajuste anual dos salários dos servidores que, segundo ele, já têm como privilégio a estabilidade no emprego e “aposentadoria generosa”.
Como todo autoritário, apela para estratégia de criar um “inimigo interno”, aquele que deve aparecer como causador de todos males.
Os “parasitas”, certamente, não incluem os servidores militares, única categoria com aumento de vencimentos que, este ano, importará numa despesa extra de R$ 4,7 bilhões, mais R$ 7 bi em 2021 e R$ 9 bilhões em 2022.
Nem acha que a “aposentadoria generosa” é a do capitão Jair Bolsonaro, aos 33 anos de idade.
Claro que há maus servidores públicos, daqueles que querem que “o mundo se acabe em barranco para morrerem encostados”. Mas há também, em muitísimo maior escala, o caso do servidor malvisto porque é que personifica “a cara” do serviço público deficiente.
Ou será que você vai achar eficiente o sujeito que, depois de você esperar horas na fila, diz que seu benefício previdenciário, pedido há seis ou sete meses, não tem data para sair? Ou que o exame que você precisa, no hospital, vai demorar três meses?
Além disso, como seria ilegal – e Bolsonaro já afirmou que não se proporá isso – que a reforma valha para os atuais servidores, o impacto sobre as despesas com pessoal da União será, do ponto e vista prático, nenhum.
Como só valerá para novos servidores e os concursos estão suspensos, será zero.
Mas serve para a campanha de ódios.
Galinha

Os brucutus de Rondônia são a emanação de Bolsonaro

Sai o “kit gay”, entra Machado de Assis; no lugar da “mamadeira de piroca”, ponha-se Aurélio Buarque de Holanda; em vez de “golden shower”, proíba-se Euclides da Cunha e, liberado o “imbrochável” capitão, vete-se o indigitado Franz Kafka, ou Kafta, como prefere o Ministro da Educação…
index librorum prohibitorum da Secretaria de Educação (!!??) de Rondônia, governado pelo coronel Marcos Rocha, do PSL e a caminho da aliança bolsonarista, é uma tragicomédia dos tempos em que vivemos.
A obscura Irany de Morais, que assina eletronicamente a lista, como a Dona Solange rondoniense, é só a mão desta história, como a censora da ditadura era a extensão do regime.
Todo este horror, infelizmente, infelizmente, é a consequência prática do que disse, há um mês, Jair Bolsonaro, quando disse que ia “suavizar” os livros escolares, cujo defeito era ter “muita coisa escrita”.
— Tem livros que vamos ser obrigados a distribuir esse ano ainda levando-se em conta a sua feitura em anos anteriores. Tem que seguir a lei. Em 21, todos os livros serão nossos. Feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa, vai ter lá o hino nacional. Os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado… Muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo
Pois é: “Em 21, todos os livros serão nossos”…
E como Machado, Euclides, Rubem Fonseca (que no Ipês conspirou por 64), Mário de Andrade e até minha amiga e contemporânea de faculdade, Rosa Amanda Strausz não são “deles”, fogueira para seus livros com aqueles “amontoado” de muita coisa escrita.
Um detalhe, porém, deve ter escapado a muitos.
A proibição a Rubem Alves, citado no rodapé da lista com um recolha-se para todo e qualquer livro seu, vai além da estupidez literária.
É que Rubem, um educador, psicanalista e pastor presbiteriano morto em 2014, foi parceiro de Paulo Freire e, como se já não bastasse este “pecado”, também um adepto da teologia da libertação no campo evangélico.
Quem fez a lista não era um tolo que a formulou por ignorância. Sabia muito bem o que estava fazendo.

DOAÇÃO INTERESSEIRA...

Interior

Sem medo de ser colônia, o troféu da Lava Jato

Matriz ou filial, samba canção de Lúcio Cardim que Jamelão imortalizou, já não serve para classificar o Brasil.
Agora, com o plano do governo Bolsonaro – adiantado hoje pela Folha, nem mesmo filial é preciso ter para ganhar dinheiro no nosso (?) país.
Bens, serviços e obras não precisarão mais, para serem comprados ou contratados, que empresas estrangeiras sequer abram aqui um escritório de representação.
Isso abrange, inclusive, o setor de construção pesada, no qual o Brasil era não só autossuficiente, mas também um exportador, com contratos por toda parte do mundo e onde os créditos do BNDES (estes mesmos que a auditoria da caixa-preta provou serem lícitos e corretos) serviam para estimular toda a cadeia de suprimentos para a sua realização.
Uma bomba nuclear não seria tão devastadora sobre estas empresas, sobre centenas de milhares de empregos e sua agora nula capacidade de trabalhar aqui e lá fora.
E, arruinadas aqui as nacionais, porta totalmente aberta para os estrangeiros.
Agora basta contratar a obra lá de fora, mandar uns místeres para cá, contratar a peonada, com uns tradutores-feitores e levar o grosso o dinheiro para fora.
A industrialização do Brasil, cujas bases Getúlio Vargas e JK lançaram, desparece. Nem mesmo montadoras de peças importadas precisaremos ter.
A elite brasileira se lançou no projeto de que aqui seja apenas um entreposto colonial, que que seu projeto econômico seja apenas o de receber comissões, como a proxeneta a nação.
Aliás, mesmo, o que vale lembrar é da velha expressão: “casa de porta aberta”.

CHURRASCO MAL PASSADO...

Carne

Delação premiada de Cabral é o “Palloci – Parte 2”

Rejeitada pela PGR, recebida como xepa pela Polícia Federal, a delação premiada de Sérgio Cabral, homologada hoje pelo sr. Luís Edson Fachin, servirá para o mesmo que serviu sua gêmea, a delação de Antonio Palloci: produzir algumas manchetes acusatórias e mais nada.
Ou alguém acha que o ansioso Ministério Público deixaria passar o “filé” de algo que tivesse alguma verossimilhança com a verdade nos seus depoimentos, ainda mais se implicasse Lula, Dilma ou o PT?
A história é toda um absurdo: que tipo de “benefício” se pode dar a alguém que está condenado a penas que vão se aproximando de três séculos?
Como assim Sérgio Cabral vai “devolver” R$ 380 milhões? Onde os guardou que, durante mais de quatro anos preso, a polícia não os encontrou? Porque devolvê-los, se não foram achados, e não faze-los esperar, nas mãos seguras de quem os tem agora em seu nome?
Obter redução de pena. Quanto? Quem sabe à metade, ficando com 134 anos, em lugar dos atuais 268?
Lembrem-se que, para cálculo de progressão de regime, o que conta é a soma das penas, não o limite de 30 anos de execução, nos termos da Súmula 715 do STF. Neste caso, Cabral ainda teria 18 anos em regime fechado, do qual sairia, com restrições, aos 75 anos de idade.
A delação, então, deve-se à quê? Conversão, arrependimento cristão? Façam-me o favor, não é?
O que lhe terão prometido além da posibilidade de vingar-se, usano a Justiça, e seus desafetos?
Está evidente que é uma jogada política. foi por isso que Fachin a acolheu, porque ele sente que pode alimentar ódios e desmerecimento de quem ele tem repulsa: dos que o puseram no STF.
cansei

Produção de veículos cai 3,9%. Máquinas agrícolas, 5,9%. Importações preocupam

Para ilustrar o que disse no post anterior sobre os sinais fracos da economia que não repercutem no mundo ilusório da especulação: a fabricação de veículos em janeiro de 2020 ficou 3,9% menor que em janeiro de 19, enquanto as vendas caíram 3,2%.
A de máquinas agrícolas, que refletem as expectativas do agronegócio, pior ainda: queda de 5,9% na mesma comparação, redução puxada pelas máquinas voltadas para a cultura de grãos, como soja e milho.
E o problema aí não é a China. Em parte é a Argentina, nosso maior importador nestes setores.
Problemas com a China, sim, já estamos tendo em outras áreas da indústria. O Valor noticia hoje que uma montadora de celulares da Motorola em São Paulo, vai parar dez dias por falta de placas importadas, o que está afetando também a filial da Samsung e outras empresas.
No Valor, prevê-se que dentro de poucas semanas a falta de insumos, em geral, e de componentes eletrônicos vai ser fortemente sentida por nossas indústrias. Os navios, diz o jornal, têm saído de lá com carga abaixo do normal, por falta de produção.
Em outro sinal preocupante, a China National Offshore Oil Corporation, petroleira chinesa parceira da Petrobras, suspendeu seus contratos de compra de gás natural. Como o gás alimenta fábricas, é de se supor que a demanda deste setor murchou acentuadamente.