sábado, 24 de outubro de 2015

MAU NEGÓCIO !

MAU

SEÇÃO: POLÍTICA, por Paulo Moreira Leite

Uma tragédia histórica nas mãos de Cunha


:
Há um aspecto trágico na situação política brasileira. No momento em que escrevo estas linhas, o destino imediato de uma democracia conquistada com tantas dores e muitas dificuldades pode depender de um único fator. O interesse pessoal de Eduardo Cunha, deputado apanhado com R$ 23 milhões em contas secretas na Suíça, em abrir uma investigação contra Dilma Rousseff, presidente eleita com mais de 54 milhões de votos, contra a qual não se aponta o mais leve desvio de conduta.
Em função do caráter presidencialista da Câmara de Deputados, Cunha tem a prerrogativa de dar início – ou não – ao processo de impeachment. Caso resolva disparar o gatilho, como gesto à beira do abismo, cujo sacrifício inevitável se mostra cada vez mais próximo, no dia seguinte a oposição esquecerá as envergonhadas manifestações de constrangimento a respeito das denúncias contra Cunha.
Estará na rua para mobilizar seus eleitores para avançar sobre deputados e senadores para pedir a cabeça de Dilma – ou aguardar pelo troco nas próximas eleições.
O quórum qualificado de 2/3 é sempre uma garantia nessas situações. Verdade que, ao  contrário do que ocorria com Fernando Collor, nada pode ser apontado contra Dilma.  Convém recordar, contudo,  que os humores de quem depende da simpatia do eleitor se tornam volúveis em situações de tumulto político. Traições podem transformar-se em fenômeno de massa, até porque são estimuladas pelos meios de comunicação, desde já empenhados em fazer o próprio povo vender a alma para o diabo e esquecer as regras elementares da democracia.
As contas suíças de Cunha deveriam ser um impeditivo a seus movimentos, especialmente os mais temerários do ponto de vista institucional. Severino Cavalcanti renunciou à presidência da Câmara, em 2005, uma semana depois que se comprovou que recebia suborno do dono de um quilo no Congresso, interessado em renovar contratos na casa. O cheque era de R$ 10.000. Em valores de hoje, os depósitos de Cunha na Suíça reúnem uma quantia 23.000 vezes maior.
Não estamos e nunca estivemos falando de ética, aprendemos mais uma vez.
Severino Cavalcanti foi derrubado porque, eleito como adversário, tornara-se um aliado do governo Lula.
Cunha sobrevive porque seu prêmio é muito maior: um PIB superior a US$ 2 trilhões e uma influência que se projeta por todo Hemisfério Sul. Pode entregar aquilo que Severino jamais seria capaz.   
Do ponto de vista dos adversários do PT, de Lula e de Dilma, Cunha pode prestar um serviço único e, no momento, insubstituível. Eles acreditam que o presidente da Câmara é um político tão leviano e inconsequente que seria capaz de um gesto irracional, semelhante aos instintos de um assassino bestializado, capaz de cometer crimes em série porque está convencido de que não tem mais nada a perder.
Essa é a tragédia do momento.  

HUMOR:

CUNHAFLAM

SEÇÃO: OPINIÃO

Nassif: A questão do impeachment é a diferença entre uma democracia saudável e uma república bananeira

publicado em 21 de outubro de 2015 às 14:53
Tóffoli, Gilmar e Dilma
Brincando de impeachment
O Ministro Marco Aurélio de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) está longe de ser um petista. Dia desses, chegou a fazer um apelo pela renúncia da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.
Mas tem um profundo respeito pela profissão que abraçou. Sabe que a força do Judiciário está no seu legalismo, no estrito respeito às leis e procedimentos. E um colega que manipula procedimentos e interpretações conspurca o Judiciário e, por tabela, a imagem de todos os operadores de direito.
Daí sua indignação ao tomar conhecimento que seu colega e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Dias Toffoli havia declarado que iria consultar PT e PSDB para saber se haveria alguma resistência à indicação de Gilmar Mendes para a relatoria do processo que julga as contas de Dilma.
Para Mello, “a iniciativa de Toffoli é inimaginável”. Em entrevista ao programa Roda Viva, manifestou sua vontade de ligar para Gilmar Mendes, para saber se houve mesmo essa “extravagância” por parte do presidente do TSE. E recomendou a Toffoli que “desautorize” as informações publicadas.
Por lei, só se aceitam juízes indicados por sorteio.
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Toffoli e Gilmar não são os únicos a brincar com a democracia brasileira. A leviandade com que está sendo tratado o tema do impeachment mereceu uma condenação  severa de André Ramos Tavares, professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e Procurador Regional da República. “A abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) sem a prova de crime de responsabilidade cometido no exercício do mandato vai significar a vitória do oportunismo de plantão, um flagelo à Democracia brasileira e um escárnio à Constituição”.
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Nos últimos dias, alguns advogados paulistas passaram a defender a tese de que crises de governabilidade são suficientes para fundamentar pedidos de impeachment.
É o caminho mais fácil para transformar o Brasil em uma república das bananas. Basta uma crise econômica, um presidente que perca provisoriamente o controle da base política, para grupos de mídia montarem uma campanha de escândalos e qualquer Fiat Elba servir de álibi para o impeachment.
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Admitir a tese do impeachment por perda de governabilidade, seria conferir aos grupos de mídia – e aos parlamentares carcará – o poder supremo sobre as instituições.
São esses brucutus do direito que, na Venezuela, acabaram legitimando a atuação de Hugo Chavez e sucessores. O poder excessivo de grupos de mídia levou à queda de um presidente liberal, Carlos Andres Perez, ao enfraquecimento de outro, social-democrata Rafael Caldera. Quando Chaves assumiu, uma mídia viciada e irresponsável ajudou a conferir legitimidade ao seu governo, ao pretender impor a mesma mão pesada que abateu seus antecessores e ter encontrado a reação..
O que pretendem esses oportunistas do direito? Provar que, no Brasil, só se consegue governabilidade com regimes ditatoriais?
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Dilma cometeu todos os erros políticos e econômicos e é capaz que cometa mais alguns. Mas como responsabilizar um governo que há quase um ano enfrenta diuturnamente o terceiro turno?A questão do impeachment não é uma mera disputa entre oposição e governo. É a diferença entre uma democracia saudável e uma república bananeira.

TOTALMENTE NATURAL!

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SEÇÃO: POLÍTICA

O governar tucano é fechar escolas?

fechaescola

Depois da decisão do governo de Geraldo Alckmin de fechar escolas, agora é o também tucano Beto Richa que planeja fechar escolas estaduais, noticia o jornal paranaense Gazeta do Povo.

Não uma ou outra, por justas razões operacionais ou de funcionalidade dos prédios. Nada menos que 150 delas, ou 7% das unidades escolares do Estado.

Chamam de “otimização”, enquanto a tendência mundial é a de aproveitar ao máximo o tempo e o espaço escolar para ampliar a formação dos jovens, porque vulneráveis às ruas, sobretudo os mais pobres.

Não parece haver mudanças, porém, nos planos de construir cadeias, sobretudo privatizadas, porque é cada vez mais um “bom negócio” botar pessoas em jaulas.

Governar, nos tempos de Washington Luiz, já foi “abrir estradas”, porque a economia ambicionava devorar espaços  para se ampliar.

No mundo de hoje, quando a educação é o principal fator de desenvolvimento autônomo dos país, parece que estamos diante de um “governar é fechar escolas” tucano.

Talvez pela mesma razão: agora a economia depende da inciência para continuar devorando gente.

E O PORTUGUÊS ?

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SEÇÃO: POLÍTICA

Leandro Fortes: Confissões de FHC revelam covardia e hipocrisia

publicado em 22 de outubro de 2015 às 15:31
FHCSempre a serviço do Brazil 
CONFISSÕES TARDIAS
Por Leandro Fortes
Esses tais “Diários da Presidência” foram bolados para que Fernando Henrique Cardoso possa, ainda em vida, usar o espaço decrépito da velha mídia para se tentar se projetar como estadista – e não como o triste golpista cercado de reacionários em que se transformou.
Mas, apesar de os quatros livros anunciados se anunciarem, também, como lengalengas intermináveis sobre o cotidiano de FHC, alguma aventura há de se extrair das elucubrações do velho ex-presidente do PSDB.
A primeira delas, referente à confissão de que, em 1996, FHC soube dos esquemas de corrupção da Petrobras, mas nada fez, é extremamente emblemática.
Eu era repórter, à época, do saudoso Jornal do Brasil, cujo alinhamento com o governo era permanente, mas sutil. Diferentemente de O Globo, por exemplo, que só faltava detalhar as partes íntimas das autoridades federais, a fim de excitar os idólatras que lhes frequentavam as páginas. Padrão semelhante se espalhava por todas os demais veículos de comunicação, à exceção honrosa da CartaCapital – que, por isso mesmo, era mantida à distância de verbas oficiais de publicidade, porque é assim a “democracia” tucana.
Havia, portanto, uma blindagem geral em relação ao governo federal, tanta e de tal monta, que em um dos famosos grampos do BNDES, pelos quais foi possível entender como o PSDB montou o esquema criminoso de privatização de estatais, FHC mostrava-se assustado com tanto apoio.
Em uma das fitas dos grampos, o então ministro das Comunicações, Mendonça de Barros, diz a FHC:
“A imprensa está muito favorável, com editoriais”.
Do outro lado da linha, o presidente tucano responde, galhofeiro:
“Está demais, né? Estão exagerando, até”.
E bota exagero nisso. Nessa mesma época, a TV Globo mandou para o exílio europeu a jornalista Miriam Dutra, supostamente grávida de FHC, uma estratégia que iria deixar o presidente da República, até o último dia de seu segundo mandato, refém absoluto da família Marinho.
Mais tarde, o mundo ficaria sabendo que o filho da jornalista sequer era de Fernando Henrique.
O tucano fora vítima de uma fraude, um golpe da barriga ao contrário.
Mas é ainda confiante nessa blindagem, nesse descaramento editorial que se transferiu integralmente com os tucanos para a oposição, que FHC se dá ao desfrute de confessar absurdos como este, da Petrobras.
Sabe que, apesar de ter admitido um fato criminoso e moralmente inaceitável, terá o noticiário a seu lado, nem que seja por omissão.
Mas, dessa inusitada confissão, surge um questionamento moral e ético mais profundo.
Em abril, em nota amplamente divulgada na imprensa, FHC mostrou-se apoplético com declarações da presidenta Dilma Rousseff sobre, justamente, acusações de delatores da Operação Lava Jato dando conta da corrupção na Petrobras, durante os governos tucanos.
Exatamente o que, agora, Fernando Henrique confessa, em seus diários.
Assim escreveu FHC:
“Trata-se [a corrupção na Petrobras] de um processo sistemático que envolve os governos da presidente Dilma (que ademais foi presidente do Conselho de Administração da empresa e ministra de Minas e Energia) e do ex-presidente Lula. Foram eles ou seus representantes na Petrobras que nomearam os diretores da empresa ora acusados de, em conluio com empreiteiras e, no caso do PT, com o tesoureiro do partido, de desviar recursos em benefício próprio ou para cofres partidários”.
Ou seja, escreveu isso mesmo sabendo que os esquemas tinham sido iniciados no governo dele. E, ainda assim, nada fez.
Foi um covarde.
E, agora, ao revelar-se como tal, tornou-se um hipócrita.
Por isso, algo me diz que esses diários irão, muito em breve, para o lixo da História.
Como, de resto, o próprio FHC.

DÁ PARA ENTENDER ?

ATEU

SEÇÃO: OPINIÃO

A Folha e o Homem de Neanderthal

neanderthal

Segundo a Folha, shows de Michel Teló, Paula Fernandes e Fernando e Sorocaba, em 2012, custavam R$ 350 mil cada um, mais despesas de viagem,  hospedagem e toda a estadia para suas equipes. Já Thiaguinho, Luan Santana e Gusttavo Lima, um pouco menos: R$ 300 mil.

Com o devido respeito, nem sei quem são, salvo por Teló, que teve um sucesso com algo como “ai, se eu te pego” ou outra erupção poética do gênero.

A mesma Folha, porém, vai seguir amanhã ou domingo a linha aberta pela Época – com a sigilosa cooperação do Ministério Público do Distrito Federal – a linha de criminalizar os ganhos do ex-presidente Lula com a realização de palestras no exterior, com passagens pagas por empresas brasileiras e instituições e governos estrangeiros.

Pelo menos, é o que se deduz da nota “preventiva”  do Instituto Lula dando conta de que o jornal “procurou hoje a assessoria do Instituto Lula na tentativa de legitimar mais uma de suas ilações maliciosas a respeito do ex-presidente Lula. Desta feita, a ideia é associar a frequência das palestras de Lula ao andamento da operação Lava Jato.”

A tese é de uma obviedade asinina.

Os contratos de palestras para Lula minguaram após a Lava-Jato, ou seja, em 2014.

E muito mais em 2015, porque ninguém quer ser “acusado” de estar financiando o “lulopetismo”.

Que minguariam em 2014, é obvio: em meio ao processo eleitoral para a Presidência, uma palestra de Lula ganha contornos eleitorais óbvios e eu, você ou um Homem de Neanderthal que estivéssemos dirigindo uma empresa privada se  retrairia diante disso.

Mas, como a Folha não habita a mesma capacidade de raciocínio que eu e você, leitor, nem a do pobre do Homem de Neanderthal, pode ser que se esmere até num “infográfico” que mostre a “queda da procura” por palestras do ex-presidente desde o ano passado.

Pior que isso, porém, é achar que Lula viaja, tem um encontro protocolar com um chefe de Estado ou dirigente estrangeiro, na “monoglotice” que o caracteriza, e diz para o tradutor “aí, mermão, fala pra ele que tem quinhetinho para fazer essa obra”?

Folha não debocha da inteligência de seus leitores, debocha da inteligência humana.

HUMOR:

CERVERO

SEÇÃO: OPINIÃO

Editorial

O rebaixamento do QI

Além de política, econômica e social, a crise é a da inteligência
por Mino Carta — publicado 23/10/2015 09h27
Proclama a manchete da Folha de S.Paulode sexta-feira 16: “Delator diz ter repassado R$ 2 mi para nora de Lula”. Texto a justificar o título, retumbante na primeira página, relata que, segundo o lobista Fernando Soares, o Baiano, o dinheiro foi entregue por ele a um amigo de Lula para ser levado à mulher de um dos filhos do ex-presidente, de fato dotado de quatro noras. O tal amigo, apontado como intermediário da operação, nega.
Alto e bom som, como não poderia deixar de ser, o Estadão também na sexta trombeteia: “Baiano diz que amigo de Lula acertou propina de US$ 5 mi”. De novo em cena aquele prestativo amigo, esclarece o texto, capaz de precipitar a manchete, para entregar a grana ao já ilustre Nestor Cerveró e mais dois funcionários daPetrobras.
Nem o Washington Post  manifestou tamanha empolgação ao colher as provas do envolvimento de Nixon no Watergate. Pergunto aos meus estupefactos botões em que país dito democrático e civilizado confusas delações premiadas de um lobista, obviamente a carecerem de prova, seriam apresentadas pelos principais jornais com o destaque que lhes foi conferido pelos jornalões paulistas? Respondem em uníssono: Brazil, zil, zil. Algo me preocupa, nesta e outras situações similares, a saber a imediata credulidade de quem lê, pronto a repetir quanto leu qual fosse a sacrossanta verdade.
Há quem observe: contássemos com outra mídia, a opinião pública brasileira seria bem menos enganável. À parte o fato de que tenho dúvidas em relação à expressão opinião pública, em um país de 204 milhões de habitantes onde a Folha de S.Paulo se orgulha de alcançar 20 milhões, graças a cálculos baseados no fator multiplicador. Mas, no fundo, não é este o motivo da minha preocupação. A atual diz respeito, de fato, ao quociente de inteligência (nem ouso falar no espírito crítico) do leitor.
O momento do Brasil dos graúdos, devastado pela insensatez e movido a ódio de classe, favorece o triunfo da sandice e a impossibilidade de um debate justo, honesto, equilibrado. Inteligente. Por exemplo. Em um rompante de coerência, o PT se manifesta contra apolítica econômica do ministro Levy, e a mídia nativa, como sempre fiel do pensamento único, clama contra o engodo.
Ou, por outra, avisa: não se deixem enganar, isto é jogo de cena. Pelo comedido emprego de neurônios, não seria difícil entender que a sinceridade petista, no caso, bate de frente com os propósitos da presidenta. Não há, é solar, o  estratagema das cartas marcadas. 
Na moldura, se estabelece uma preciosa informação prestada por Fernando Henrique Cardoso em seu livro de memórias. Mereceria, esta sim, muito mais destaque do que lhe foi oferecido pelos jornalões de quarta 21: em 1996, quando presidente, o príncipe dos sociólogos teve sua atenção chamada para a corrupção reinante na Petrobras e deixou de intervir. Invoco a ajuda dos meus perplexos botões: “Mas a Petrobras não era governo também na época de FHC? Ou muito me engano?”
Esta, sim, é incoerência, dizem. Como assim? Recorrem a Justiniano: quem cala consente. Donde, concluo, seria o caso de dar à confissão do presidente tucano o peso devido, do tamanho de um deslize gravíssimo, de uma indiferença criminosa. Seria, retrucam, mas FHC tem poltrona cativa, adamascada, na casa-grande, e a reverência inoxidável da mídia nativa. Sei, sei, resmungo, mas ele também, ao confessar, não nos brinda com uma prova de esperteza. Pode tudo, no entanto.
Susto enorme levei, na manhã da quarta 21, ao tropeçar na manchete do Estadão. Ao vê-la de longe imaginei a eclosão da guerra mundial. Em toda a largura da primeira página, e em duas linhas. Ao lê-la, respirei aliviado, falava de uma das habituais delações destinadas a incentivar a crença no envolvimento de Lula em algum, qualquer, negócio escuso. Tentativa patética, se não estivéssemos no Brazil, zil, zil, ambiente cada vez mais propício ao rebaixamento progressivo do QI.
Nos últimos dias, me peguei diante de duas plateias bastante distintas. Em um debate sobre o excelente livro de Paulo Henrique Amorim, O Quarto Poder, Uma Outra História, em companhia de Laura Capriglione e do próprio autor.
Outra oportunidade tive ao receber o Prêmio Especial Vlado Herzog, que me honra e me comove, mesmo porque aquele assassínio cometido na masmorra do DOI-Codi é perfeito símbolo da violência de uma ditadura feroz e insana, ditadura antes civil que militar, porque nascida nas dependências da casa-grande, de onde saiu a convocação da caserna para a execução do serviço sujo.
Na primeira plateia, falava-se em democratização da mídia. Na outra, em liberdade de imprensa ameaçada. Pontos de vista opostos, ambos equivocados, conforme meus botões, embora o segundo seja ou hipócrita ou francamente néscio. Aqui a plateia acredita que liberdade se completa por si só, sem o corolário da igualdade, de sorte a se tornar, graças a tal ausência, na liberdade dos senhores de contar a história a seu talante.
Quanto à democratização da mídia, não sei o que exatamente significa. Bastaria aplicar por meio de leis específicas o que a Constituição determina com toda clareza contra o monopólio e o oligopólioSosseguem, leões: nosso Congresso nunca dará qualquer passo neste rumo. A democracia implica naturalmente uma mídia democrática. Precisaríamos é democratizar o Brasil. 

HUMOR:

Enem 2015

SEÇÃO: POLÍTICA

Os Clinton podem; Lula, não.

clinton

Hillary Clinton, todos sabem, é  pré-candidata a Presidência do EUA. E lá, como aqui, os candidatos são obrigados a dizer quanto dinheiro ganharam e quem o pagou.

Hillary o fez em maio deste ano e o Washington Post destrinchou os dados.

” Os Clinton ganharam  mais de US $ 25 milhões para falar desde janeiro 2014″.

É notícia? Claro que é.

Mas o WP publica também o que ganharam os republicanos. Não o Trump, talvez porque este não tenha declarado por não ter exercido cargo público ou, quem sabe, porque os ganhos do megamilionário escandaloso não caibam numa página.

A Folha não se deu ao trabalho de verificar os ganhos de Fernando Henrique Cardoso, que tem a mesma atividade de palestrante pago.

O papel do Ministério Público, então, é vergonhoso e vergonhoso será se a instituição não tomar providências contra seu integrante que recebeu de Lula uma declaração espontânea, com todo o sentido de cooperação e correu a vazá-la para os jornais.

O que maltrata a reportagem  não é o trabalho do repórter, que registra o que recebeu, vá lá, ilegalmente de um promotor.  É a edição e a descontextualização da informação.

A obviedade, esta sim, não é notícia, mas deixar de registra-la para induzir os leitores a crer que, interrompida “a corrupção” , “interrompem-se as palestras”  é sórdido.

Surpreendente seria se as empresas estivessem chamando Lula para palestras e, no dia seguinte, vão encontrar uma acusação de repasse de dinheiro.

O dinheiro ganho por Lula nas palestras – embora seja várias vezes menor que o dos Clinton, claro – destina-se à atividade política e, claro, política tem conotação eleitoral.

Logo, não pode deixar de considerar que entre fazer palestras e participar de uma campanha eleitoral, claro que Lula dedicará seu tempo e reservas físicas à segunda, não ao primeiro.

Tanto que, em 2012, foram um quarto das feitas em 2011.

Lula tem palestras pagas por empreiteiras, mas também por governos, bancos (até o Itaú, conhecido contratador de FHC e Marina), associações,  empresas de outros setores. Até a Globo pagou.

Exatamente – a não ser pelos valores menores – como fez Bill Clinton que, registra a matéria, saiu “quebrado” do governo por conta de despesas com advogados em processos judiciais, entre eles o de Monica Lewinsky,

Agora imaginem se Lula tivesse feito como o casal Clinton e em lugar de um apartamento no Guarujá (Guarujá, meu deus!) tivesse comprado uma casa em Washington avaliada em US$ 4,5 milhões (R$ 18 milhões de reais)?

Quanto à queda na procura por palestras de Lula com a Lava Jato, é obvia, como disse antes. Quem quer ser criminalizado por contratar uma?

A mídia brasileira criminalizou a esquerda, embora a direita – ela inclusive – só tenha ganhos “legítimos”.

Nenhuma novidade, para quem, como eu, viu Brizola ser acusado por ter uma fazenda no Uruguai, o que sobrou da herança de sua mulher, Neusa, e fora do Brasil porque ele também era proibido de viver aqui.

Os métodos são os mesmos. É preciso apontar uma suposta riqueza de migalhas nos outros para conservar  seus próprios privilégios.

Aqui, na miséria de um “blog sujo”, ao menos, a gente tem liberdade de falar com a própria consciência.