sábado, 26 de dezembro de 2015

SEÇÃO: POLÍTICA

Um presente para quem acredita que o Brasil virou um “coitadinho”

fmi
Na edição natalina de O Globo há um artigo que bem que poderia ser dado de presente aos que, emprenhados pela mídia que mais sabota seu país, acham que o Brasil regrediu décadas e que hoje somos uma espécie de “coitadinhos” mundiais.
Paulo Nogueira Batista, ex-representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional – sim, o velho e sabido FMI -, escreve sobre a ascensão no Brasil no ranking das finanças mundiais, numa avaliação perto da qual Moody’s, Fitch ou Standard & Poors são meros palpiteiros de apostas no Jockey.
Passamos, de pedintes submissos a parceiro respeitável e nossa posição, dentro da composição do órgão, passou de um 18º lugar para o 10º maior “dono” do fundo, que ainda não é o registro preciso de nosso tamanho econômico e que não lhe tira a posição de ser, ainda, uma espécie de “pacto colonial” das finanças entre os EUA e a Europa.
O FMI é o que é, mas o Brasil já não é o que foi. Quem tem saudades da escravidão ainda tem a mente escravizada.

O Brasil e o FMI

Paulo Nogueira Batista Jr.
O Congresso dos EUA finalmente ratificou a reforma do FMI, concluída em 2010. Fiquei contente. Trabalhei muito na montagem desse acordo e a demora dos EUA em ratificá-lo já me fazia temer que ele nunca seria implementado. A reforma do FMI terminaria assim por ter a mesma sorte que a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio.
Demorou mas saiu. O esforço não foi em vão. O Brasil é, depois da China, o maior beneficiário da reforma em termos de aumento de quota e poder de voto.
Quando cheguei ao FMI, em 2007, o Brasil tinha uma quota de 1,4% e era o 18º maior quotista. A reforma de 2008 levou a nossa quota para 1,8% do total e o Brasil subiu para 14º no ranking. Com a entrada em vigor da reforma de 2010, a nossa quota sobe para 2,3% e o Brasil, para 10º no ranking. O aumento acumulado em termos de poder de voto com as reformas de 2008 e 2010 foi o maior obtido pelo Brasil em toda a história do FMI.
A chave para esses resultados foi o diálogo com Dominique Strauss Kahn, na época diretor-gerente do FMI, que compreendia a necessidade de abrir mais espaço para os países de economia emergente. Uma característica importante de Strauss Kahn é que ele cumpria os acordos que fazia. Essa foi a minha experiência, pelo menos.
Em 2007, quando Strauss Kahn era candidato ao cargo de diretor-gerente, combinei que o Brasil votaria nele em troca do compromisso de aumentar a quota brasileira para 1,8% na reforma que seria concluída em 2008. (O então ministro da Fazenda, Guido Mantega, aliás, teve que conter integrantes do governo propensos a anunciar precocemente apoio à candidatura de Strauss Kahn.)
Quando da negociação do passo seguinte — a reforma de 2010 — mostrei a Strauss Kahn que Brasil, EUA, China, Índia e Rússia eram os únicos países que figuravam na lista dos dez maiores tanto em termos de PIB, como de território e população. Ele logo se deu conta de que a reforma teria que ter como um objetivo central colocar as dez maiores economias do mundo — os EUA, o Japão, os quatro grandes europeus, e os quatro Bric — como os dez maiores quotistas do FMI. Para tal, o Brasil precisaria dar novo salto e passar de 14º para 10º. Em fins de 2010, o acordo foi fechado com esse resultado.
A entrada em vigor das quotas negociadas em 2010 é um passo significativo, mas não resolve os problemas de legitimidade do FMI. A transferência de poder de voto dos países avançados para os países em desenvolvimento é modesta, apenas 2,6 pontos percentuais (que se somam à transferência de 2,7 pontos obtidos na reforma de 2008). Os países desenvolvidos ainda contam com ampla maioria e continuarão controlando a instituição. A distribuição de poder decisório no FMI não reflete as mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial.
Os próximos passos estão previstos no próprio acordo de 2010. Primeiro: a revisão da fórmula que calcula as quotas para melhor refletir o peso econômico dos países. Segundo: um novo realinhamento de quotas, que permita aumentar a representação dos países em desenvolvimento. O primeiro passo era para ter sido concluído até janeiro de 2013; o segundo, até janeiro de 2014. Ficou tudo atrasado com a demora dos EUA em ratificar a reforma.
Agora é correr atrás do prejuízo.

ASSISTA O VÍDEO ABAIXO: é para divórcio mesmo!

SEÇÃO: OPINIÃO

Opinião

A prisão de Cunha

Lavagem de dinheiro, definiu o STF, é crime permanente. Eis uma razão para encarcerá-lo
por Wálter Maierovitch — publicado 21/12/2015 05h23
Lula Marques/Agência PT
Pouca gente sabe, mas existe uma Escola de Cidadania na esquecida e populosa zona leste da capital de São Paulo: 3,3 milhões de indivíduos. Está instalada no bairro de Ermelino Matarazzo, funciona na Igreja de São Francisco e depende do trabalho do seu fundador, Antonio Luiz Marchione, o popular Padre Ticão.
Neste mês de dezembro participei, com o arquiteto Ruy Ohtake e a deputada Luíza Erundina, de dois colóquios de fim de ano. Os formandos e a comunidade ouviram considerações sobre a atuação e o comportamento ético de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e o impeachment.
Este é um instituto para julgamento político nascido no Parlamento inglês, em 1376, quando reinava Eduardo III e diante de acusações de incompetência e corrupção dos seus ministros e da sua  amante Alice Perrers: o impeachment restou incorporado ao sistema da Common Law.
Para defender a urgência na decretação daprisão cautelar de Cunha, lembrei prever o nosso ordenamento legal a prisão em flagrante delito e estabelecer o poder-dever das autoridades em dar voz de prisão, diante de situações estabelecidas na lei processual penal.
Mais, frisei o fato de poucos saberem que o nosso Código Penal contempla delitos de consumação instantânea e crimes permanentes: nos permanentes, o momento consumativo prolonga-se no tempo, como, por exemplo, na extorsão mediante sequestro. Aí caberá a prisão em flagrante enquanto a vítima for mantida em cativeiro, sob  domínio do sequestrador.
Importante lembrar, ao tempo do julgamento do “mensalão”, ter o Supremo Tribunal Federal (STF) decidido, com relação ao crime de lavagem de dinheiro (e Cunha está sendo acusado de lavagem de dinheiro), tratar-se de crime permanente.
No particular, o STF desprezou o entendimento de doutrinadores a sustentar a lavagem de capitais como crime instantâneo de efeito permanente. Pela atual jurisprudência do STF, o crime de lavagem de dinheiro se protrai, se alonga no tempo, ou seja, é crime permanente. 
No caso Cunha, a consumação delinquencial se alonga, com ocultação permanente de capitais em contas correntes. Tudo não declarado no Brasil, com evasão de divisas e dinheiro em odor de corrupção. Trocado em miúdos, pode-se dar voz de prisão em flagrante a Cunha.
Como reforço, convém lembrar o caso Delcídio do Amaral, preso preventivamente, tendo o ministro relator Teori Zavascki sustentado tratar-se o crime de formação de organização criminosa, de natureza permanente, e que poderia, até, ensejar prisão em flagrante.
Rodrigo-Janot
Janot poderia pedir a prisão preventiva de Cunha (Elza Fiúza/ Agência Brasil)

O mesmo raciocínio empregado pelo ministro Teori poderia ser adotado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, numa representação de imposição de prisão preventiva de Cunha.
Uma custódia, aliás, mais do que necessária, como é público e notório, para garantia da ordem estabelecida, conveniência da instrução criminal e a fim de se assegurar, no caso de condenação, a aplicação da lei penal.
Não se deve esquecer, ainda, poder qualquer cidadão representar ao procurador Janot para avaliar e eventualmente postular no STF a prisão preventiva de Cunha. Não se aconselha, embora legal, voz de prisão dada por comum mortal, pois a esperteza de Cunha poderia transformá-lo em vítima de desacato.
Por outro lado, a presidenta Dilma, é sabido, não está sendo acusada, ao contrário de Cunha, de corrupção e lavagem de dinheiro, crimes comuns.
Na denúncia mandada processar por Cunha, imputa-se contra Dilma autoria de crime de responsabilidade no exercício das funções presidenciais, por infração à lei em face de: 1. Créditos suplementares não autorizados pelo Congresso. 2. Irregularidades na Petrobras, com destaque à aquisição de Pasadena. E 3. Pedaladas fiscais, mediante adiantamentos realizados por bancos públicos.
Em casos de impeachment, o julgamento do mérito das acusações é político e cabe com exclusividade ao Senado, vencida a fase de admissibilidade da acusação na Câmara.
A bem da verdade, gasta-se tinta ao sustentar a falta de fundamento jurídico para oimpeachment sem se bater à porta do Supremo Tribunal Federal. Em uma situação como a atual, cabe sim ao STF analisar e decidir sobre ilegalidades e inconstitucionalidades.
A Corte, assim, poderá decidir se as acusações contra Dilma, em tese, se adequam ou não ao crime de responsabilidade. E o STF poderá declarar ser inadmissível o impeachmentpor atos ocorridos no primeiro mandato de Dilma, conforme está claro no artigo 86, parágrafo 4º da Constituição.
É ingenuidade achar que, no Senado, haverá julgamento à luz de aprofundado exame de questões jurídicas, mais especificamente sobre a tipicidade e a presença de intenção dolosa. Num julgamento político, colhido na base do “sim” ou “não”, pode contar o fato de outros presidentes terem dado pedaladas e não ter havido dolo por parte de Dilma.
Mas pode contar a oportunidade da permanência na função e de se considerar Michel Temer como a salvação da lavoura. Caso a decisão do Senado seja condenatória, o STF, salvo irregularidades formais e nulidades, jamais cassará decisão de mérito.

E O PORTUGUÊS ONDE FICA ?

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SEÇÃO: OPINIÃO

Nas asas dos tucanos, Cunha pode perder cargo e conservar mandato

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Da coluna de Ilimar Franco, em O Globo,  que me fugiu nestes dias de Natal embrulhados com defeitos na conexão de internet:
“Derrotada no STF, a oposição ficou na incômoda situação de defender o rito do processo de impeachment estabelecido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O PSDB abandonou a palavra de ordem “Fora, Cunha”, e seu líder na Câmara, Carlos Sampaio, acompanhado de Mendonça Filho, do DEM, reuniu-se com Cunha para debater a reação à decisão do Supremo.”
Embora óbvia, a articulação é discreta e não desperta o apetite de nossa reportagem política.
Firmes na estratégia de fingir que “Cunha nada tem a ver com o impeachment”, enunciada duas semanas atrás pelo principal porta-voz midiático dos tucanos, Merval Pereira,  a parcela do PSDB aliada a Aécio Neves vai cultivando a hipocrisia e mantendo o essencial: sem o Presidente da Câmara não há chance para o  impeachment.
Assim, vai empurrando com o bico a situação de chantagem que Cunha já praticou com o Governo e que, agora, só resta a praticar com os tucanos.
O objetivo, agora, é que, vendo insustentável sua situação, Cunha concorde em deixar a presidência da Casa em torca de uma nova composição que preserve seu poder.
Isto fica claro pela leitura da matéria de hoje da Folha, que dá conta que os ” partidos de oposição ao governo Dilma” – leia-se, tirando o eufemismo da mídia: PSDB – concordam com a tese de que o simples afastamento de Cunha da Presidência, sem a cassação de seu mandato, deixaria o “cunhismo” no controle da Casa, através do deputado Waldir Maranhão, seu fidelíssimo aliado.
Maranhão, que tem três inquéritos no Supremo – Lava-Jato e outros dois  em que é acusado de crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores – seria o intermediário de Cunha e o simples afastamento, sem cassação – evitaria uma nova eleição para a presidência da Casa.
Falta combinar com a opinião pública que Cunha pode ser um ladrão-deputado se deixar de ser um ladrão-presidente da Câmara.
Mas isso não vem ao caso.

ASSISTA O VÍDEO ABAIXO: muito legal

SEÇÃO: POLÍTICA

Vendas na web sobem 26%, apesar da crise. Apesar da crise?

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É preciso muito cuidado na hora de olhar estas notícias sobre vendas catastróficas no Natal.
Claro que caiu e este é o “furo” da fórmula recessiva de ajuste fiscal adotada por Joaquim Levy.
Mas deve-se observar, também, a mudança de hábitos.
As compras via web tomaram boa parte do mercado das vendas presenciais,
Reuters registra que as vendas de final de ano pela internet(Natal + Black Friday), com base no serviço Ebit/Buscapé,  cresceram 26% em relação ao ano passado.
De R$ 5,85 bilhões para R$ 7,4 bilhões.
O valor médio das compras também cresceu, 8%, para R$ 420.
Os 17,6 milhões de pedidos feitos via internet certamente são parte da perda estimada de 5% nas vendas presenciais.
Os hotéis no Rio de Janeiro estão “bombando”, seja porque o realismo cambial tenha beneficiado a chegada de estrangeiros, seja porque a mesma cotação da moeda está mantendo no país os turistas brasileiros.
Mas a crise vai servindo de “muleta” para uma certa prostração empresarial.
Ontem, no Estadão, um empresário dono de uma rede de franquias e de marcas de calçado esportivos falou que era hora de parar com o chororô sobre impostos e se tornar mais eficiente e adequado ao mercado.
Mas o clima, estimulado pela mídia, é sempre o de nariz torcido.
A própria notícia que dou é um exemplo. A chamada da homepage do Estadão é “Apesar de também estar sendo afetado pela crise, o varejo eletrônico tem crescido mais que o físico”.
Jesus, 26% de crescimento, mais que as expectativas do setor , e não se livram do “apesar da crise”!

A IMAGEM DIZ TUDO

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SEÇÃO: OPINIÃO

23/12/2015 - Copyleft

A fúria dos que saíram do armário

Essa direita troglodita ataca à traição. E sabe que figuras públicas não costumam reagir, para não alimentar a sede mesquinha dos escrevedores de intrigas.


Eric Nepomuceno
Reprodução
O que mais impressiona – e preocupa – na agressão verbal que um grupo de garotões cuja profissão principal é ser filho de pai rico lançou contra Chico Buarque na noite da segunda-feira, 21 de dezembro? Três coisas. Primeiro, a extrema fúria dessa direita desgarrada que acaba de sair do armário embutido. Segundo, a facilidade com que repetem o que dizem os grandes meios de comunicação. E terceiro, a incapacidade para qualquer gesto minimamente civilizado.
 
Chico saía de um jantar com amigos quando, ao buscar um táxi, passou a ser chamado de ‘petista’. Ouviu a repetição de clichês idiotas repetidos à exaustão pelos meios de incomunicação e pelos deformadores de opinião. A um dos garotões ele respondeu com humor. Dizia o valentão que defender o PT quando se mora em Paris é fácil. ‘Você mora em Paris?’, perguntou Chico. E o rapaz respondeu: “Não, quem mora em Paris é você!’. Chico, então, perguntou: ‘Você andou lendo a Veja?’. A ironia continua sendo uma válvula de escape. Mas para ter ironia é preciso inteligência, artigo definitivamente raro na praça.
 

 
Não foi a primeira nem a décima agressão verbal que ele e seus amigos ouvem, todas relacionadas ao PT, a Lula e a Dilma. O mais recomendável é, sempre, fazer ouvidos moucos. Mas também essa regra tem suas exceções. O episódio de segunda-feira foi inevitável: Chico estava no meio da rua, é pessoa pública, reconhecível a milhas marítimas de distância.
 
Mais grave é saber que não foi a primeira nem a decima ocasião, e também não terá sido a última. O país está polarizado como poucas vezes esteve nos últimos 50 ou 60 anos. O grau de agressividade, de furiosa intransigência dessa direita recém-saída de um imenso armário – certamente embutido – é o que mais chama a atenção. E preocupa. Muito. Dizer na cara de alguém ‘Você é um merda’ pode ter consequências sérias. Chico sabia e sabe que qualquer reação à altura não faria outra coisa que atiçar ainda mais a fúria dessa direita desembestada, fartamente alimentada pela grande imprensa. Até nisso a direita recém assumida em sua verdadeira essência é covarde. Até quando?
 
O país se acostumou às tristes cenas de violência entre torcidas organizadas no futebol. Elas pelo menos têm a decência de se uniformizar, ou seja, é fácil identificar o adversário à distância.
 
Essa direita troglodita, não. Ataca à traição. E sabe que figuras públicas como as que foram atacadas à sorrelfa não costumam reagir, para não alimentar a sede mesquinha dos escrevedores de intrigas.
 
Há poucos registros, que eu me lembre, de alguém que tenha saído do armário com tanta sede de ação. Cuidado com eles: tantas ganas reprimidas, quando subitamente liberadas, desconhecem limites.
 
Eric Nepomuceno é jornalista e escritor, estava com Chico no episódio relatado

HUMOR:

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SEÇÃO: ECONOMIA E POLÍTICA

Eles já não pagam o pato e querem cobrar de você: Brasil não taxa dividendos e cobra menos imposto sobre propriedade ou herança que outros países

publicado em 26 de dezembro de 2015 às 00:36
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18/12/2015 09:35 
No Brasil, ricos pagam pouco imposto e convencem os patos
Uma das discussões atuais é sobre o tamanho do Estado, seus papéis e quem o financia. Em comparação com outros países, no Brasil os impostos incidem muito mais sobre consumo e salário do que sobre renda e patrimônio, o que dificulta cumprir os direitos sociais definidos na Constituição de 1988
A cobrança de tributos conforma um relevante aspecto da relação do Estado com a sociedade. Ao longo da história, os papéis do Estado foram alterando, absorvendo cada vez mais funções sociais como saúde, educação, previdência, assistência social, políticas de moradia, para além das básicas como segurança, defesa territorial e mediação de conflitos.
Tais transformações não ocorreram por acaso e tampouco espontaneamente. O processo de acumulação extremamente desigual e a oligopolização da economia constituíram o caldo de cultura para que o sindicalismo e os partidos operários e trabalhistas reivindicassem direitos sociais e distribuição da riqueza por meio de ação do Estado. Isso se deu, sobretudo, após a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial.
As políticas econômicas keynesianas, o aparelho estatal de oferta de bens e serviços e o sistema de bem-estar social do período 1945-1980 foram identificados, na crítica neoliberal, como elementos que traziam pesado ônus à situação financeira dos Estados.
Após 1980, essa “nova” sistematização de ideias foi implementada. Os resultados de tais políticas consistiram em fragilização dos sindicatos, ampliação das desigualdades, perda de direitos, descompasso entre variação salarial e produtividade do trabalho e ampliação significativa da participação do 1% mais rico na renda. Piketty (2014) quantificou essa concentração.
Presentemente, a disputa de ideias se dá, em grande medida, em relação ao “tamanho” do Estado, seus papéis e quem o financia.
No Brasil, em 2013, 51,3% dos impostos recolhidos nas três esferas de governo tiveram origem no consumo de bens e serviços, 25,0% na folha de salário, 18,1% na renda, 3,9% na propriedade e 1,7% em demais impostos (1).
Quando é efetuada uma comparação com outros países, se observa que na Dinamarca e nos Estados Unidos, por exemplo, metade da arrecadação está centrada em impostos sobre a renda e lucros (gráfico 1).
No que tange à América Latina, os países que mais tributam renda e lucros são: Peru, Chile e Colômbia, representando, respectivamente, 39,9%; 35,8% e 33,5% da arrecadação.
Os impostos sobre patrimônio também são mais baixos no Brasil. Eles alcançaram 3,9% da carga tributária em 2013. Já no Reino Unido, na Colômbia e na Argentina os impostos sobre patrimônio representaram, respectivamente, 12,3%; 10,6% e 9,2% da carga total.
O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) representam, respectivamente, 1,7%, 1,4%, 0,6% e 0,2% da arrecadação brasileira.
A participação do Imposto Territorial Rural (ITR) é de 0,04%do total. Não passa despercebido que o Brasil é um país extenso, conformado por vastas áreas rurais.
O Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) representou 2,7% do produto brasileiro em 2013. Nos países que integram a OCDE, esse valor corresponde a 8,5%, em média. Mesmo ao se comparar com países com níveis de renda semelhante, observa-se que no Brasil a relação é inferior. Na Turquia, por exemplo, é 13,5% e no México 13,6%.
Quanto às alíquotas marginais brasileiras, tanto a mínima, quanto a máxima estão entre as mais baixas. Desde 1998, a alíquota máxima, no Brasil, é de 27,5%. Já na Alemanha é de 45%, na Turquia é de 35% e no México é de 30%.
Além de alíquotas relativamente menores, no Brasil, é possível deduzir do imposto de renda as contribuições à previdência, despesas médicas, dispêndio com dependentes, pensão alimentícia, entre outros. Em 2013, as deduções foram de R$ 295,1 bilhões, 17,4% da arrecadação e 6,1% do produto.
Os 71.440 brasileiros mais ricos declaram deduções na ordem de R$ 100,1 milhões com dependentes, R$ 82,5 milhões com instrução e R$ 804,2 milhões em despesas médicas. No total, os abatimentos representaram uma média de R$ 13,8 mil por indivíduo.
Desses mais ricos, 51.419 são os recebedores de lucros e declararam um patrimônio total de R$ 1,1 trilhão. Dessa maneira, a renda média individual anual é de R$ 4,5 milhões e a média patrimonial é de R$ 20,8 milhões por pessoa.
Os rendimentos isentos e não tributáveis somaram R$ 632,2 bilhões em 2013. Os 71.440 mais ricos obtiveram R$ 297,9 bilhões, dos quais R$ 196,0 bilhões estão isentos, 65,8% do total.
O valor mais significativo dessa categoria provém dos lucros e dividendos distribuídos ao declarante e/ou dependentes. O total foi de R$ 231,3 bilhões. Cumpre frisar que no ano de 1995 a Lei nº 9.249 isentou a tributação sobre os dividendos.
Dentre o grupo de 34 países que integram a OCDE, apenas a Estônia aplica o modelo de isenção sobre os dividendos. No Reino Unido, a alíquota é de 36,1%; no Chile, 25%; nos Estados Unidos, 21,2%; e, na Turquia, 17,5%. O México passou a tributar em 17,1% os dividendos em 2014.
Ao se efetuar comparações das alíquotas do imposto sobre herança e doação, observa-se que o desalinhamento persiste sob o aspecto de justiça fiscal. A alíquota no Reino Unido é de 40%. Em outros países, ela é variável: nos Estados Unidos, a média é de 29%; no Chile, 13%. No Brasil a cobrança de ITCMD varia de acordo com cada estado. A alíquota média é 3,9%, porém, elas variam entre 1% e 8%, com faixas díspares.
Países como Argentina, Colômbia, França, Índia, Noruega, Suécia e Uruguai adotam o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), com alíquotas que estão entre 0,4% a 4,8%. O Brasil não cobra esse imposto.
Os direitos sociais no Brasil foram aprimorados na Constituição de 1988. Eles exigiram maior tributação. Assim como a Constituição, a configuração tributária brasileira não foi gerada espontaneamente. Ela representa interesses e o poder de segmentos da sociedade. Mesmo que haja uma constante tentativa de convencimento de que os ricos e os grandes empresários “pagam o pato”, ao se comparar os dados com outros países, observa-se o contrário. Os ricos no Brasil nunca pagaram o pato. Eles apenas convencem os patos que pagam.
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ESSA EU NÃO SABIA !

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SEÇÃO: POLÍTICA

Janio: Levy, corrigido; Aécio e Cunha, incorrigíveis

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A coluna natalina de Janio de Freitas:

Um erro, uma gafe

Janio de Freitas, na Folha
Joaquim Levy vai passar um bom Natal. Corrigir uma gafe sempre traz alívio. Muito educado e contido, como mostrou durante todo o ano de situações estressantes –o inverso do antecessor, Guido Mantega, grosseiro e irritadiço–, Levy não é dado a gafes, mas cometeu uma das grandes.
Dilma Rousseff vai passar um Natal menos ruim do que poderia prever há um mês. Graças ao alívio de Levy. Seu ar eufórico dos últimos dias comprova o reconhecimento (enfim?) do erro, tão grave, de convidar Levy à gafe de aceitar uma missão para ele impossível.
Poucos estão propensos a passar um Natal distenso de verdade, ainda que por um ou dois dias, ao final do exaustivo colar de apreensões e ansiedades que o erro de Dilma e a gafe de Levy, enquanto unidos, nos induziram dia a dia. Não foram, no entanto, os únicos autores desse encadeamento gerador de pesares, mas não de iras. Aécio Neves trouxe, difundiu e incentivou o componente odiento, de esgares, de ameaças destruidoras, de passagem da política de pessoas furiosas para a fúria sem política contra pessoas.
Aécio fez o envenenamento do ambiente, mas quem disso mais soube se aproveitar, por diferença de competências para os respectivos fins, não foi Aécio. Foi Eduardo Cunha. Uma prova de que foram no mínimo paralelos, quando não enlaçados por projetos de resultados semelhantes, é que o PSDB de Aécio e Cunha encerram um ano e começam outro de volta à aliança fraterna, domesticamente íntimos, a planejarem juntos os ardis convenientes a um e ao outro.
Ainda assim, apesar de Dilma e Levy, com ou sem Dilma e Barbosa, a economia brasileira se arranjará mais depressa, até por si mesma, do que o pântano da política se deixará drenar.
Eduardo Cunha recorre à Comissão de Constituição e Justiça. Eduardo Cunha foi ao Supremo em busca de alguma brecha, senão de uma artimanha em que o presidente Ricardo Lewandowski não caiu. Eduardo Cunha tem a Mesa da Câmara preparada para anular a sessão do Conselho de Ética que autorizou o processo de sua cassação.
Tudo isso em vão, até onde se pode perceber. No Ministério Público há a convicção de que Eduardo Cunha, mesmo que se salve dos R$ 5 milhões, das contas suíças e de tudo mais, vai sucumbir com as adulterações em medidas provisórias. São negócios que fraudaram a própria legislação.