sábado, 4 de maio de 2019

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Bolsonaro “culpa” Venezuela por preço do que a impedem de vender

A crise politica da Venezuela não vai afetar o preço mundial do petróleo, por uma simples razão: ela já afeta faz tempo.
A Venezuela exportava, antes, quase 2,5 milhões de barris por dia.
Vivia disso, o que representava 95% de suas exportações.
Depois dos embargos econômicos feitos pelos EUA, este volume havia baixado, em fevereiro último, para perto de 0,5 milhão, apenas, quase todo ele (80%) comprado pela Índia.
As empresas norte-americanas ou que fazem negócios nos EUA podem até comprar petróleo lá, mas os venezuelanos não podem receber por ele, porque os valores serão bloqueados.
Além de não vender, os venezuelanos estão impedidos de produzir, primeiro porque a capacidade de estocagem está esgotada, depois porque se ressentem da importação de diluentes à base de nafta que possibilitem escoar o petróleo local por oleodutos, porque são muito densos para fluir por eles.
Aí vem o senhor Jair Bolsonaro, hoje, dizer que os preços dos combustíveis aqui podem subir, com os problemas do país vizinho.
Podem, mas apenas se os demais produtores especularem com isso, pois o petróleo venezuelano está virtualmente fora do mercado faz tempo.
Mas, ainda que fosse acontecer, qual seria o papel do governo brasileiro senão o de batalhar pelo restabelecimento da produção e do comércio daquele óleo, até para aliviar os preços mundiais e evitar o impacto sobre os preços internos?
Como é isso, a diplomacia “com ideologia” jogando contra nossos próprios interesses?
A Venezuela, podem apostar, servirá como “bode expiatório” para a elevação dos preços internos, porque estes estão -segundo o louco critério de fixarem-se apenas pela paridade câmbio/preço internacional – ainda abaixo do que deveriam estar, segundo os que advogam esta irresponsabilidade.
“A culpa é do Maduro”, dirão, embora sejamos cúmplices integrais desta política de embargo comercial.

UM SUCESSO DE NALDO BENNY JÁ TÁ DIFÍCIL LEMBRAR...

UM

Cortar mais na educação é aula de ineficiência

Reportagem do UOL, hoje, mostra que, de 2014 até hoje – e ainda sem contar os cortes anunciados pelo “Encarregado da Educação” (aproprio-me da ótima expressão usada ontem por Delfim Netto, na Folha) – os investimentos em educação decresceram na inacreditável marca de 56%.
As despesas totais do MEC, no mesmo período, caíram 11,7%.
É o retrato contábil do que se comentou ontem aqui: cortes orçamentários são, em geral, um incremento da perda de eficiência de qualquer instituição e muito especialmente as de ensino.
Vejam, segundo os números produzidos pela assessoria técnica da Câmara e publicados na reportagem.
Em 2014, cada real investido em educação (R$ 11,3 bi) representava R$ 4,32 em pessoal e encargos (R$ 48,8 bi).
Ano passado, depois do corte dos investimentos para R$ 4,9 bi, cada real despendido nesta rubrica passou a representar R$ 11,10 em pessoal mais seus encargos.
Com os cortes anunciados por Weintraub, esta relação crescerá mais e não é improvável que, de quase três vezes maior, passe a quatro ou até a cinco vezes mais.
De novo, peço desculpas aos leitores por tratar do assunto de forma “contábil”, porque ele tem uma importância que transcende imensamente esta visão. O problema é que, da boca pra fora, todos louvam o investimento em educação e até o “Encarregado” diz que vai lançar o dinheiro dos cortes em “creches”, o que qualquer criança sabe que não se fará.
Mas por ser uma das áreas onde a hipocrisia nacional, a que desmonta em nome do “progresso”, mais se agarra para explicar o estado de penúria em que vivemos. é onde se precisa demonstrar, com seus próprios argumentos, como é falso o que dizem de forma cínica.
Na Educação, esta conta perversa é ainda mais grave. Ela se reflete em estagnação e, sobretudo no grau superior, na pesquisa pura ou aplicada da ciência, estagnação é morte.
Esta, sim, é o objetivo da turma do “corta-corta”. Não é para não ter festa no campus ou para reprimir “extravagância” de jovens em nome da “moral”.
Enquanto isso, as empresas privadas, aquelas que fazem uma educação “meia-boca”, escancaram por inteiro as suas bocarras, prontas para devorar o público  formado por jovens que, sem o “canudo”, têm chance zero num mercado de trabalho cada vez menor.

Se o Exército está em ruínas, vai investir em soldo?

Na entrevista que deu, anteontem, ao falar da precariedade de nossas Forças Armadas, Jair Bolsonaro disse que, militarmente,  o Brasil “não pode fazer frente a ninguém” porque “não estamos bem de armamento”.
Embora seja uma asneira que diga isso alguém que está admitindo até uma “declaração de guerra” à Venezuela, Bolsonaro tem razão.
A única possibilidade de levar vantagem num conflito bélico com a Venezuela seria um colapso nas cadeias de comando do suposto “adversário”, se provocado pela entrada da Colômbia e dos Estados Unidos no confronto.
Por uma razão muito simples: o Brasil não tem vetores, os equipamento que permite a projeção territorial do poder militar: aviões, mísseis, submarinos e veículos de combate terrestres.
O pouco que poderíamos ter – desconsiderando as sucatas que já eram obsoletas quando as adquirimos – está atrasado e sendo mais atrasado ainda, porque para não se cancelar contratos “esticam-nos” no tempo de execução. Tudo – aliás tudo contratado nos governos Lula e Dilma –  desde os caças Grippen,que dificilmente começarão a ser entregues no prazo, até os helicópteros militares, os veículos artilhados leves Guarani e os sistemas de mísseis Astros, tudo foi retardado para as calendas gregas.
No caso dos mísseis, onde também há atrasos provocados pela quebra da Odebrecht – que vendeu a Mectron para os israelenses da Elbit -, há também a nos impedir o tratado ao qual o governo Fernando Henrique aderiu que nos impede de ter mísseis de alcance superior a 300 km. Da fronteira com a Venezuela, essa distância só deixa como alvo algumas ocas de indígenas e casebres de camponeses, pois é a metade da distância até alvos com importância ao Norte.
Dito isso, qual são as primeiras providências tomadas por Bolsonaro?
Primeiro, criar uma despesa extra de R$ 86 bilhões, em 10 anos,  com o aumento de soldos dos militares, quase o mesmo que todo o gasto com armamento pesado nos próximos 20 anos. Depois, cortar em R$ 5,1 bilhões – 38% do orçamento original para 2019 – as disponibilidades orçamentárias do Ministério da Defesa em 2019.
A não ser que se pretenda usar contracheques como armas – algo que faz parte da história de Bolsonaro desde que era “tenente-bombardeiro” na Aman, parece que nossas Forças Armadas continuarão dando razão ao seu ex-capitão e não vão poder “fazer frente a ninguém”.

SIMONE VAI RESPONDER?

RETARDA

Rumo ao PIB zero

Semana passada, o Itaú reduziu a perspectiva de crescimento do PIB brasileiro para 1,4%. Ontem, o Citibank fez o mesmo.
Em quatro meses, cortou-se à metade a precisão do início do ano.
Hoje, o IBGE jogou uma pá de cal nas perspectivas de uma variação positiva do PIB do primeiro trimestre de 2019  sobre o trimestre anterior, ao anunciar uma queda de 1,3% na produção industrial de março, o dobro do que era esperado pelo mercado.
As instituições financeiras também vão revisar suas previsões: esperavam 2% de expansão na indústria e e, em um quarto do ano, o que têm é uma redução  da produção industrial de  0,7% no primeiro trimestre deste ano frente ao quarto do ano passado e  e um recuo de 2,2%, comparada aos primeiros três meses de 2018.
Hoje mesmo o Goldman Sachs disse que o número do IBGE nos coloca próximo de um “PIB negativo”.
É cedo ainda, acho, para dizer isso, mas certamente não é para dizer que este é o rumo que se está tomando.
Nossa situação só não é pior, neste campo, porque a desvalorização do câmbio têm sustentado alguns ramos da indústria que, de outra forma, estariam arruinados com as perdas de exportação para vizinhos como a Argentina.
Tudo isso ocorre e nem por um minuto o governo se afasta do seu “samba de duas notas”: reforma da previdência e intervenção – senão militar, ao menos belicista – na Venezuela.
Nenhuma das duas, claro, tem capacidade – muito ao contrário – de estimular produção e consumo.
A resposta do governo à crise econômica é o elogio ao “cada um que se vire”.
O que funciona muito pouco em quase todos os setores e que, de nenhuma forma, funciona e matéria de política industrial.

PODE ISSO?

Criminalidade

Os R$ 500 mil do Ministro da Educação não foram um erro, mas uma aberração

Tales Faria, em seu blog, publica o vídeo – que reproduzo ao final do post  – onde o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seu presidente do Inep, o delegado de polícia (!!!) Elmer Vicenzi discorrem, longa e laudatoriamente, sobre a grande proeza de gastar apenas R$ 500 mil para avaliar sete milhões de alunos do ensino funadamental.
Não é possível que aos dois, por tanto tempo, faltasse a percepção de que o numero estava errado (são R$ 500 milhões).
Agfinal, bastava saber fazer uma divisão simples para saber que R$ 500 mil para sete milhões dá 7 centavos por prova, o que não paga um pacote de figurinhas, aliás nem mesmo uma só delas.
A razão era outra, como aponta Tales:
Alguém lhes falou dos R$ 500 mil e eles resolveram usar rapidamente como instrumento de marketing sem se questionar: como era possível? O indicativo de impossibilidade era tão grande que imediatamente os repórteres, durante a entrevista, já questionaram a quantia. Como puderam um ministro e o presidente do Inep, cercados de técnicos, não terem desconfiado? Só a pressa em demonstrar devoção pelo imperador pode explicar. Aliada, é claro, ao ódio guerreiro pelos “inimigos” que criticavam a retenção de recursos para instituições de ensino e pesquisa.
Mas não se culpe em demasia a dupla de palermas.
Afinal, eles fazem parte de um governo que se ocupa de quinquilharias como se estas fossem a redenção nacional: os cabelos tingidos do comercial do Banco do Brasil, as bananas do Equador, os pintos mal lavados, a condecoração do Olavo de Carvalho…
A economia, o emprego, a produção afundando enquanto Bolsonaro toca a harpa de suas bobagens.
Em matéria de avaliar o aprendizado do público infantil, a depender dele, gastar sete centavos é um desperdício…

Helena Chagas, Moro e a ratoeira. Mas afinal, quem pega quem?

Helena Chagas, em ótimo artigo n’Os Divergentes, hoje, diz que Sérgio Moro “caiu numa ratoeira” ao aceitar o cargo de “superministro” do governo Bolsonaro.
Verdade, no  que diz respeito ao fato de que o ex-juiz  se acostumou, ao longo de anos, em lhe fazerem todas as vontades, em  aceitarem todos os seus atropelos à lei, em aplaudirem todas as mediocridades com que sustentava o se papel de dublê de chefe de uma “Mãos Limpas” brasileira, inclusive com a manipulação da imprensa para sustentar o seu “direito de guerra”.
Isso deu a ele a ideia de que, no governo, seria o mesmo e que Bolsonaro e o Congresso fariam-lhe as vontades e teve a confiança em que poderia deixar a toga – e a toca – para se aventurar atrás de seu “queijo”: o poder político.
Acostumado a moltar tudo por sua única vontade, subestimou os riscos.
A ratoeira é só o meio, a armadilha com a qual se prende o rato. Sem que houvesse a perda da prudência e o império do apetite pelo queijo, ela não teria chances de funcionar.
Não é a ratoeira que pega o rato, é ele que se faz pegar.

Moro caiu na ratoeira

Helena Chagas, n’Os Divergentes
Um pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, por divergências em relação a posições do governo seria, a esta altura, um desastre político para o presidente Jair Bolsonaro – que já anda às voltas com uma insistente queda de popularidade. Por isso, Moro vem esticando a corda, numa investida pública, com seguidas entrevistas e manifestações, contra a transferência do Coaf de sua pasta para a Economia – o que, a depender do Congresso, hoje é muito provável.
Insatisfeito com essa e muitas outras trombadas que vem tendo no governo, onde já percebeu que não é prioridade, o que restaria a Moro? Pedir o boné e ir para casa?
Afinal, quase todas as suas derrotas têm o dedo do Planalto e de seus aliados. No caso do Coaf, por exemplo, o próprio presidente chegou a admitir negociar o retorno do órgão ao Ministério de origem em troca da aprovação da medida provisória que reestruturou administrativamente o governo sem outras mudanças mais danosas.
Com isso, Bolsonaro deixou Moro exposto ao sol e aos ventos da política, assim como em outros episódios constrangedores, como o da revogação da nomeação da socióloga Ilona Szabo e o quase engavetamento do pacote de mudanças penais enviado pelo ministro ao Congresso. Tudo indica que esse comportamento “quem manda sou eu” de Bolsonaro, meio semelhante ao que ele tem adotado em relação aos militares que supostamente o tutelariam, vai continuar.
E Moro, se derrotado mais uma vez, terá que avaliar se vale a pena continuar no governo para uma sucessão de desgastes e vexames. A possibilidade de sair tem sido aventada nos últimos dias por interlocutores próximos do ex-juiz, embora ainda cheire a pressão, sobretudo sobre o próprio chefe, para rever sua posição inicial sobre a devolução do Coaf.
O que se comenta nos meios jurídicos de Brasília é que a recente afirmação do ministro da Justiça de que seria “ganhar na loteria” ser nomeado para uma vaga no STF veio do fundo do coração. Foi um recado direto.
O grande problema é que nem isso está garantido para Moro, sobretudo se ele deixar o governo chutando o balde. Vaga no STF só haverá em 2020, e a nomeação depende da caneta de Jair Bolsonaro e, principalmente, da aprovação do Senado Federal – ou seja, daquele pessoal que não quer ver o ex-juiz da Lava Jato nem pintado.
Tudo indica que Sérgio Moro, apesar da popularidade, deve estar arrependido de ter deixado a toga pelo governo Bolsonaro. Caiu numa ratoeira.

CRISE, QUE CRISE?

Bolsonaro não é “o cara”, é o pária

cancelamento da viagem de Jair Bolsonaro a Nova York, para receber o prêmio – mambembíssimo – de “Homem do Ano”  da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, afinal uma reunião de homens que querem negócios mais fáceis com os EUA, mostra mais que um constrangimento do atual presidente do Brasil.
Quatro meses após sua posse, Jair Bolsonaro se tornou um estigma – fora dos meios financeiros, de quem sabemos o que provoca-lhes o amor – pelo mundo afora.
Em nota oficial, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rego Barros, passou recibo:
“Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”
É claro que é ideológico, como tudo no mundo é. Mas também é mercadológico.
Se empresas cancelaram o patrocínio a esta homenagem, certamente não foi por “ideologia”, foi pelo prejuízo comercial que ela poderia render.
O jornal Financial Times, a companhia aérea Delta Air Lines e a consultoria Bain & Company, que cancelaram seus patrocínios ao evento não são “ideologicamente opositores” de Jair Bolsonaro, ao contrário.
Mas certamente não estão dispostos a pagar para grudar em si um estigma de selvagens, que é a marca que Jair Bolsonaro tem a lhes oferecer.
É, para tristeza dos “mercadistas” uma questão de mercado. Jair Bolsonaro dá mais prejuízo do que lucro.
Inclusive ao Banco do Brasil, que patrocinará o jantar de milionários ao qual o presidente não comparecerá e no qual  há dúvidas se será representado pelo chanceler Ernesto Araújo ou pelo astrólogo Olavo de Carvalho.
O país que tinha “o cara” como símbolo, agora tem “o pária”.

C.Q.D. Não é estupidez, é crime

As três letrinhas, sublinhadas por uma “meia-lua” eram escritas no quadro negro logo abaixo da dedução de fórmulas matemáticas, onde se evidenciava que uma relação conhecida levava à conclusão de outra, ainda não sabida: “Como Queríamos Demonstrar”, abreviavam elas, embora os mais antigos o fizessem ainda com a expressão latina: Q.E.D, quod erat demonstrandum.
O governo Bolsonaro, primário como é, torna semelhante a isso qualquer análise que sobre ele se faça: não é difícil deduzir que ele uma suas anunciadas ” mudanças de prioridades” apenas como justificativa pública para o que é, de fato, seu objetivo: o desmonte do Brasil.
Não é diferente, mostram os números revelados pelo Estadão, nesta história do “corte” das verbas das uiversidades, alegadamente para “investir na Educação Básica”.
A mentira é posta em evidência: quase 40% das verbas da educação básica estão cortados. No caso das creches e escolas de ensino fundamental, que Abraham Weintraub invocou como razão suprema dos cortes, a tosa foi de 45%% dos recursos: R$ 146 milhões dos R$ 265 milhões previstos para construção ou obra em unidades do ensino básico.
O ensino técnico, aquele que o ex-capitão diz defender para que os jovens possam trabalhar foi virtualmente extinto:
Foram retidos recursos até mesmo para modalidades defendidas pelo presidente e pela equipe que comanda o ministério, como o ensino técnico e a educação a distância. Todo o recurso previsto para o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), R$ 100,45 milhões, está bloqueado. O Mediotec, ação para que alunos façam ao mesmo tempo o ensino médio e técnico, tem retidos R$ 144 milhões de R$ 148 milhões.
Até o Colégio Pedro II, aquele que o Imperador dizia que era a única instituição que ele desejaria governar, está inviabilizado com cortes de mais de 36% de seus recursos.
Esta gente odeia a educação, odeia o progresso, odeia a verdade.
São mais do que imbecis, como digo, são criminosos.