sábado, 24 de fevereiro de 2018

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Nilo Batista: em 94, o Estado não entregou a Segurança ao Exército

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A ação das Forças Armadas no Rio de Janeiro, agora, é diferente daquela que ocorreu há mais de duas décadas, quando as Forças Armadas foram postas a patrulhar as ruas da cidade, depois de intensas pressões políticas e às vésperas da eleição que levaria ao Governo do Estado o recém-tucano Marcello Alencar?
Ouvi, agora cedo, o advogado Nilo Batista, então governador do Rio de Janeiro sobre isso.
A intervenção militar de 2018 é uma nova versão daquilo que aconteceu em 1994?
Tem me incomodado muito algumas comparações entre a atual intervenção na Segurança Pública com o que aconteceu em 1994, quando eu completava o mandato de Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro. Eu quero frisar algumas diferenças essenciais, embora haja, também, algumas coisas em comum, sobretudo o fato de que a intervenção de agora oculta fatos econômicos, também aquela se destinou a ocultar a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional, feita pelo presidente “nacionalista” Itamar Franco.
No resto, as diferenças são gritantes.
Enquanto o Governador Luis Fernando Pezão pediu e implorou por uma intervenção e a aplaude, nós – Brizola e eu, que sentava na cadeira de governador para completar o mandato que era dele, pelo voto popular – procuramos evitar ao máximo possível, pensando no povo do Rio de Janeiro, negociamos uma “redução de danos” daquela pressão política, que culminou com um convênio  – que saiu publicado inclusive no Diário Oficial. Por este convênio, a União intensificaria a atuação em funções que já são suas: controlar a entrada de armas e drogas no Estado.A rigor, nem mesmo isso era necessário, pois já podiam estar fazendo isso há muito tempo, porque é sua atribuição.
O Governo do Estado, então, não “entregou” a Segurança aos militares…
Ando lendo, agora, em alguns jornais que “o  Exército ocupou a Segurança, a Justiça” naquela ocasião. Não é um fato. Tínhamos e continuamos a  ter um Secretário de Justiça, que era o interlocutor com o governo da União, o advogado Arthur Lavigne, um secretário de Polícia Civil, o Dr. Mário Covas – um dos primeiros a enfrentar os bicheiros naquele episódio em que prendeu  em flagrante Fernando de Miranda Ignácio, genro de Castor de Andrade, que tentava comprá-lo com uma mala cheia de dólares – e um secretário-comandante da Polícia Miliar, o Coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira e o coronel José Halfeld Filho o comandante do Corpo de Bombeiros. Todos continuaram em suas funções, com seus comandos.
Anteontem, uma repórter do Estado de S. Paulo disse que o general Câmara Senna, que chefiou aquela ação, disse que teria sido boicotado pelas forças estaduais. Não houve boicote algum. Houve, sim, uma enorme preocupação.
Este senhor, em lugar de dialogar com os poderes legítimos, instalou-se num quartel, mandou chamar a imprensa e disse que estava “com a faca nos dentes”. Qualquer um ficaria preocupado com a população e eu fiquei, é óbvio. E disse que não se iam tolerar arbitrariedades, nada além disso. 
Não é a mesma atitude que o general Walter Braga Neto tem tomado até agora, não é?
O general Braga Netto tem demonstrado uma atitude absolutamente oposta. Age com discrição e não tem procurado criar um clima de pânico. Está fazendo o que é devido: planejando e estruturando ações . Não está sendo um títere dos anseios quase genocidas das oligarquias brasileiras.
Espero que ele continue me lembrando o Marechal Deodoro, então presidente do Clube Militar, pouco antes da abolição, que escreveu uma carta à Princesa Isabel, pedindo que o Governo Imperial não fizessem os soldados serem “encarregados de captura de pobres negros que fogem à escravidão ou porque vivam já cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de luz da liberdade lhe tenha aquecido o coração e iluminado a sala”.
Que o general se inspire neste exemplo e não deixe que o Exército invista contra os quilombos urbanos do neoliberalismo.
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