sábado, 16 de março de 2019

Um país avacalhado

Talvez não se precisasse mais do que sermos um país onde Lula está preso numa solitária e Jair Bolsonaro está no Palácio do Planalto para justificar o título acima.
Mas, como há gente tola o suficiente para acreditar que um homem que tinha autoridade sobre o uso de centenas de bilhões em investimentos públicos e favores fiscais possa ter conspurcado sua autoridade em troca de uma reforma de segunda num pombal no Guarujá e que outro, que jamais propôs alguma coisa alem de atirar, matar, castrar e estuprar possa ser o caminho para a paz social, gasto algumas linhas para provar o que afirmo.
A Justiça, depois de desmoralizar-se numa perseguição inquisitorial, por anos a fio, está em frangalhos. Um procurador da província faz um acordo para ficar com R$ 2,5 bilhões à sua disposição. A Procuradora Geral da República pede a anulação da monstruosidade e a categoria, até onde se sabe, revolta-se contra ela. O Supremo Tribunal Federal, depois de apanhar na cara por longa temporada – até mesmo oferecendo a face para isso – converte-se em delegado de polícia para, depois de arrombadíssimas todas as suas portas, “descobrir” quem o está enlameando e difamando, quando isso está mais do que claro para qualquer um que ligue o computador e acesse as redes sociais.
A economia, há três anos, não tem projeto algum senão vender o que puder, cortar onde não deve e dizer que todos os insucessos que coleciona são “culpa dos governos anteriores”. Que, tendo ganho o bilhete premiado da descoberta de uma imensa jazida de petróleo coloca na presidência da empresa estatal que o encontrou um homem que sonha em privatizá-la.  Um ministro da Economia que apresenta como proposta “genial” deixar que se esvazie o Estado, eliminando metade de seus servidores (sem efeitos econômicos de curto ou médio prazo, pois aposentar-se-ão os funcionários eliminados) e que eliminem as vinculações do Orçamento que obrigam a gastos em saúde e em educação.
Educação, aliás, que está entregue às intrigas diárias entre incompetentes, facistóides e um charlatão que despeja ofensas e obscenidades diariamente no Facebook, chamando de drogados e homossexuais os jornalistas que – timidamente, até – ousam criticar essa situação de barbárie. A ordem para formarem as crianças para ouvirem o slogan presidencial é até pouco diante do quadro que lá se instalou.
Ordem nas escolas, exceto por um massacre ou outro, desordem nos quartéis, com as Forças Armadas sendo desmoralizadas pela barganha pública de suas aposentadorias enquanto generais reformados vão ocupando a máquina pública e circulando, desenvoltos, com atores pornô e louvadores de milicianos.
A imagem do Brasil no exterior, antes tão cara a eles, transformada em objeto de chacota, com o fundamentalismo do minando o Itamarati e poderia seguir adiante, em quase todas as áreas do Governo, ou pseudogoverno, talvez nome mais apropriado ao que temos.
O fato objetivo é que não há saída da crise para um país que degrada sua vida institucional.
Como não há legitimidade em quem ascendeu ao poder, embora pelo voto, através de um processo ilegítimo. A vontade nacional, quando se expressa, como aconteceu, no sentido destrutivo, só destruição traz, se não se move por esperanças.
A falta de sonhos é o portão do pesadelo.

De novo, cortar sem dizer de onde. Para destruir o Estado

Paulo Guedes disse hoje que “metade dos servidores públicos federais vai se aposentar nos próximos cinco anos” e que sua intenção é não preencher as vagas, “apostando na digitalização” dos serviços.
É uma soma de burrice com mistificação que não tem amparo nos números da administração, me política econômica e nem mesmo na qualidade dos serviços prestados.
O Brasil tem hoje menos funcionários públicos federais do que tinha no governo Collor: no final de 2018, 626 mil ativos, contra 662 mil em 1991.
O que cresceu, como é óbvio, é o número de aposentados e pensionistas o que, com a reforma de Guedes, crescerá mais rapidamente.
A população, então, era de 150 milhões de pessoas; hoje são 210 milhões, um crescimento de 40%, o que quer dizer, portanto, uma redução de  mais de 40% no número de funcionários federais por habitante.
Quais são os funcionários que o Dr. Guedes quer “digitalizar”?
Os 70 mil professores do ensino superior de universidades federais, quase 10% do total de servidores?
Os milhares de médicos, enfermeiros e agentes de saúde dos serviços federais ou do “Mais Médicos”?
Os fiscais de meio-ambiente, vigilância sanitária, agropecuários, de trabalho, da receita?
Ou será que parte dos 13 mil policiais federais pode ser cancelada?
Mesmo os funcionários, é claro, pretender cortar a metade dos funcionários não quer dizer economia, mas a contratação de terceirizados, com imensos lucros para os agenciadores de mão de obra.
O desmonte do Estado e a privatização dos serviços públicos nem mais são camuflados.
E como sem estado não há nação, a liquidação do Brasil.

Ao contrário do que diz o matador, nossa diversidade é nossa força

O fato do matador fanático da Nova Zelândia,  Brenton Tarrant, ter incluído o Brasil no capítulo “Diversidade é Fraqueza” de sua alucinada carta, para criticar nossa miscigenação racial, não é, afinal muito diferente – sem nenhuma menção a instintos assassinos – , claro, ao que muitos reacionários brasileiros pensam, atribuindo nosso atraso à herança indígena, à imigração forçada dos negros e, até, ao sangue português.
Não é ideia rara, aqui, mas é tola em qualquer parte.
Ao contrário, diversidade é nossa força, é o que sempre fez este país dar lições de convivência, claro que com muitas e muitas falhas discriminatórias mas que – ao menos até algum tempo atrás – iam se reduzindo geração após geração.
Nada justifica o racismo ou a autoconcedida supremacia reacial, mesmo em doses menores que as do passado mas, ainda assim, fomos caminhando, até mesmo para tornar crime o racismo e a injúria racial.
E dessa caminhada só nos veio mais força e identidade.
Ao contrário do que acontece com pessoas que pensam como este matador – tanto é que ele foi à procura de muçulmanos para fazer sua chacina – não precisamos ser idênticos para nos reconhecermos como iguais.
E nos reconhecermos como iguais em um povo é a chave de nossa libertação nacional. Justamente por isso a escondem, a evitam, a deformam, para que não possamos ser a civilizaçao do Terceiro Milênio, como sonhava Darcy Ribeiro:
Nós, brasileiros, (…)somos um povo em ser, impedidos de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na “ninguendade”. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de ser brasileiros. Um povo, até hoje, em ser, na dura busca de seu destino. Olhando-os, ouvindo-os, é fácil perceber que são, de fato, uma nova romanidade, uma romanidade tardia, mas melhor, porque lavada em sangue índio e sangue negro.

O "RATO" SE ESCONDENDO...

O marketing da barbárie

O tal Olímpio quer professores e funcionários armados nas escolas para “evitar tragédias” como a de Suzano.
Bancada da bala usa massacre de Suzano para faturar, mostra Bernardo de Mello Franco, em O Globo.
A cereja podre do bolo amargo veio hoje, mais cedo, quando o histérico vereador Fernando Holiday, do MBL, foi ao Twitter anunciar que tentará obstruir a indicação do nome de Marielle Franco a uma praça paulistana, pela falecida ter sido “uma vereadora extremista que defendia ideais perturbadores”.
Não, não é apenas estupidez e insensibilidade, embora sejam estúpidos e insensíveis.
É o marketing da selvageria com que se promovem ante uma sociedade transtornada pelo ódio que nossas elites construíram.
Não são elementos curiosos, “folclóricos”, apenas bobalhões, como muita gente tende a ver.
São os vermes do ódio que sobrenadam no caldo de brutalidade que impuseram ao povo brasileiro.
Só há uma maneira de acabar com eles, é secar este caldo, sem o qual voltam a ser as larvas que eram.
Desprezem-nos, porque é só o que merecem.
Mas a mídia mexe e remexe essa panela, porque precisa desta gente para impedir que o povo brasileiro recorde que, não faz muito tempo, este era um país de esperanças.

O centro ofereceu-se a Bolsonaro. Mas ele vai ficar só com a direita…

Na reta final das eleições, ficou claro que o ódio ao PT e a ilusão de que Jair Bolsonaro, por não ter quadros ou apoio político para governar, teria de dar ao centro político espaços político-administrativos fizeram os outros núcleos de direita e as forças do centro do espectro político aderirem, ainda que com certa vergonha (inclusive fingindo-se neutras), à candidatura do ex-capitão.
Além do mais, acreditavam que “as instituições” lhe poriam freios, o educariam e fariam-no seguir as regras, com algum mínimo equilíbrio.
Daí os “isentões” e os que se prestaram a “sabujadas”.
Dois meses e meio de governo já desfizeram completamente este autoengano, até pela repugnância que o comportamento pessoal do presidente carrega.
Mas ficou claro que não apenas o presidente não imporá limites aos núcleos mais radicais do bolsonarismo – é só ver a desenvoltura de gente como Olavo de Carvalho e o “Pitfilho” – como não vai se privar, ele próprio, das “engrossadas” que o fazem tão admirado entre as mentes primárias e odientas.
De tudo se acuse Jair Bolsonaro, mas não de inautêntico.
É o que sempre foi: um tosco, um autoritário, um promíscuo em relação às manchas de criminalidade da polícia, um incapaz para articular, reunir e liderar qualquer coisa que não seja um bando de fanáticos.
turma da bufunfa do mercado financeiro, que não está nem aí para o médio prazo não liga, enquanto estiver dando dinheiro.
Na política, ao contrário, não dá para comprar e vender no day-trade.
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Previdência: as diferenças entre civis e militares

Geralda Doca, um dos raros casos em que repórter de Economia se preocupa em dar informação e não conselhos econômicos, publica hoje, em O Globo, um sintético comparativo das diferenças que a proposta do Governo Bolsonaro terá entre militares e civis.
É claro que isso vai gerar uma imensa polêmica, sobretudo porque as polícias militares vão exigir as mesmas regras, mesmo o governo tendo deixado para logo depois da votação a concessão de um aumento acima de 20% para as Forças Armadas.
Veja o resumo:
Regra de transição
A reforma da Previdência do INSS e dos servidores civis prevê diferentes regras de transição. Na regra do “pedágio”, é exigido um tempo adicional, em relação ao prazo que falta hoje para se aposentar. No caso dos trabalhadores da iniciativa privada, esse “pedágio” é de 50%. Ou seja, por essa regra de transição, se faltar 2 anos para o trabalhador se aposentar pelas regras atuais, ele terá de trabalhar mais 1 ano, num total de 3 anos, após a aprovação da reforma.
Para os militares, esse “pedágio” será de 17%.
Reajustes
O texto dos militares prevê reajustes anuais nos soldos. A reforma da Previdência dos trabalhadores do INSS e dos servidores públicos elimina a obrigação de correção anual nos benefícios de aposentadoria e pensões, que eram garantidos na Constituição.
Valor do benefício
Os servidores públicos civis, que entraram até 2003, que hoje têm direito à integralidade (manter na aposentadoria o último salário da carreira) e paridade (obter na aposentadoria os mesmos reajustes de quem ainda não se aposentou). Na reforma da Previdência, os servidores só manterão esses direitos se cumprirem a idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 para homens.
No caso dos militares, eles continuarão ter direito ao soldo integral.
Alíquotas
No caso dos servidores públicos civis, as alíquotas de contribuição serão progressivas, variando de 7,5% a até 22%. Para os militares, as alíquotas passarão a ser de 8,5% em 2020, subindo um ponto percentual a cada ano até chegar em 10,5%.
Idade mínima
A reforma da Previdência dos trabalhadores do setor privado e dos servidores estabelece idades mínimas para se aposentar. No caso dos militares, a exigência é apenas de tempo na ativa, de 35 anos. (Nota do Tijolaço: como o ingresso na Escola de Cadetes é a partir de 17 anos, a idade, na prática, fica sendo de 52 anos. Ou menos, por conta do tempo de serviço em unidades consideradas de acesso difícil darem direito a um bônus de 4 meses, a cada ano servido, com um mínimo de dois anos, pela lei n° 7.698)
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Não foi só o MP: Moro também foi derrotado ontem no STF


Não foram só Deltan Dallagnol (e seus rapazes da Força Tarefa da Lava Jato)  quem saiu derrotado da sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal.
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro também o foram, tanto ou mais.
A carraspana pública que as falanges bolsonaristas tomaram com a abertura de inquérito para apurar os ataques à Corte Suprema pelas redes sociais inaugurou este processo e deu características políticas inescapáveis à decisão.
E o bolsonarismo reagiu, prometendo guerra para aprovar, em represália, o pacote dito anticrime de Moro e Bolsonaro. O “Filho 01”, alta madrugada já, espalhou pelo Twitter a voz de comando do site do morismo, o República de Curitiba:
A decisão do STF, que em teoria, enterra sim a Lava Jato, não passara ilesa pelo ex-juiz que agora possui poderes de um superministro. Sergio Moro, ao que já havia previsto esse ataque contra a Operação, e apresentou com bastante antecedência o pacote anticrime, a ser votado em breve pelo Congresso, e que colocará as questões sobre caixa dois e corrupção em seus devidos lugares.
Ao contrário, a aprovação do “pacote”, que já não estava fácil, ficou pior ainda.
Mas não foi só isto. O delírio de fazer de Deltan Dallagnol ou de José Robalinho, presidente da Associação dos Procuradores da República – que já esbarrava no fato de não estarem, ambos, no topo da carreira – ficou mais distante, por conta da defesa que ambos fizeram do “Fundão da Lava Jato”, frontalmente atacado ontem (veja, ao final do post, o vídeo selecionado pelo Blog do Esmael).
E outras críticas, ainda piores:
“Não se pode combater a corrupção cometendo crimes, ameaçando pessoas, exigindo delações ou fazendo acordos tendo o irmão como dono de escritório, porque passa as delações. Tudo isso não é compatível com a ordem do Estado de Direito. Assim se instalam as milícias. O esquadrão da morte é fruto disso.”
Mesmo que a “banda de música” do MP queira colocá-los no topo da lista tríplice, escolhê-los, a partir de agora, seria uma provocação do Presidente ao STF que não parece interessar em nada a Bolsonaro.
E olhe que nem começou o desgaste com o inquérito aberto por Dias Toffoli, que promete ser grande.
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Eles latem, a caravana da História passa

Não se pode dizer que não são autênticos os parlamentares da extrema direita eleitos na “onda Bolsonaro”.
Hoje, para atrapalhar um ato em memória do aniversário do assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes,  uma grupo de oito parlamentares do PSL, PSDB, PRB, PV, Podemos e Patriotas(?), postaram-se com caixas de som emitindo latidos, alegando que protestavam contra os maus-tratos a animais.
Oito deputados federais, entre eles Daniel Silveira (PSL-RJ), que rasgou a placa com o nome de Marielle,  posicionaram-se a poucos metros com caixas de som que emitiam latidos
Maus-tratos, para eles, talvez, devem se restringir a balear seres humanos na cabeça.
É inacreditável o retrocesso civilizatório a que foi submetido o nosso país.
Os direitos dos animais já foram.  invocados, 80 anos atrás, para proteger seres humanos, na famosa defesa de Luís Carlos Prestes, feita por Sobral Pinto, exigindo o tratamento da Lei de Proteção aos Animais.
O contrário, de justificar a barbárie com os animais, além de hoje, só uma vez.
Foi quando o atual presidente, se opondo à busca das ossadas dos mortos da ditadura militar, disse que “quem gostava de osso” era cachorro.
Quem vilipendia mortos, ainda mais uma mulher covardemente assassinada, não tem de ser tirado apenas do parlamento, tem de ser tirado do convívio social.
A História os removerá.