segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A PRIVATARIA TUCANA: "O ESCÂNDALO DO SÉCULO"

Em 12/12/2011

Por Luciano Martins Costa

Observatório da Imprensa

O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr, intitulado A privataria tucana, publicado pela Geração Editorial na coleção “História Agora”, está produzindo um estranho fenômeno na imprensa brasileira: provoca um dos mais intensos debates nas redes sociais, mobilizando um número espantoso de jornalistas, e não parece sensibilizar a chamada grande imprensa.

O autor promete, na capa, entregar os documentos sobre o que chama de “o maior assalto ao patrimônio público brasileiro”. Anuncia ainda relatar “a fantástica viagem das fortunas tucanas até o paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas”. E promete revelar a história “de como o PT sabotou o PT na campanha de Dilma Rousseff”.

Ex-repórter do Globo, originalmente dedicado ao tema dos direitos humanos, Ribeiro Jr. ganhou notoriedade no ano passado ao ser acusado de violar o sigilo da comunicação de personagens da política ao investigar as fonte de um suposto esquema de espionagem que teria como alvo o então governador mineiro Aécio Neves. Trabalhava, então, no jornal Estado de Minas, que apoiava claramente as pretensões de Neves de vir a disputar a candidatura do PSDB à Presidência da República em 2010.

Os bastidores dessa história apontam para o ex-governador paulista José Serra como suposto mandante da espionagem contra Aécio Neves, seu adversário até o último momento na disputa interna para decidir quem enfrentaria Dilma Rousseff nas urnas.

“Outro ninho”

Informações que transitaram pelas redes sociais no domingo (11/12) dão conta de que Serra tentou comprar todo o estoque de A privataria tucana colocado à venda na Livraria Cultura, em São Paulo, e que teria disparado telefonemas para as redações das principais empresas de comunicação do país.

Intervindo em um grupo de conversações formado basicamente por jornalistas, o editor Luiz Fernando Emediato, sócio da Geração Editorial, afirmou que foram vendidos 15 mil exemplares em apenas um dia, no lançamento ocorrido na sexta-feira (9). Outros 15 mil exemplares estavam a caminho, impressos em plantão especial para serem entregues às livrarias na segunda, dia 12, juntamente com o lançamento da versão digital.

Aos seus amigos do PSDB, Emediato recomendou cautela e a leitura cuidadosa da obra, afirmando que o trabalho de Amaury Ribeiro Jr. não é “dossiê de aloprado, não é vingança, não é denúncia vazia, não é sensacionalismo. É jornalismo”.

O editor indicou ainda aos leitores que procurassem informações no blog do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), no qual, segundo ele, estariam as pistas de “outro ninho offshore na rua Bernardino de Campos, no bairro do Paraíso, em São Paulo. A investigação agora chega na família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Vamos ver onde isso vai parar”, concluiu.

O Titanic da política

A julgar pelo volume e a densidade das denúncias, pode-se afirmar que, sendo verdadeira a história contada por Amaury Ribeiro Jr, trata-se do mais espetacular trabalho de investigação jornalística produzido no Brasil nas últimas décadas. Foram doze anos de apuração e depurações. A se confirmar a autenticidade dos documentos apresentados, pode-se apostar nessa como a obra de uma vida. A hipótese de completa insanidade do autor e do editor seria a única possibilidade de se tratar de uma falsificação.

Confirmado seu conteúdo, o livro representa o epitáfio na carreira política do ex-governador José Serra e um desafio para o futuro de seus aliados até agora incondicionais na chamada grande imprensa.

O editor garante que são 334 páginas de teor explosivo, escancarando o que teria sido a articulação de uma quadrilha altamente especializada em torno do processo das privatizações levadas a efeito durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Os documentos envolvem o banqueiro Daniel Dantas, a família de José Serra e alguns personagens de sua confiança.

Não apenas pelo que contém, mas também pelos movimentos iniciais que lhe deram origem, o livro representa uma fratura sem remédio na cúpula do PSDB e deve causar mudanças profundas no jogo político-partidário.

“Privataria”, a expressão tomada emprestada do termo que o colunista Elio Gaspari costuma aplicar para os chamados malfeitos nas operações de venda do patrimônio público, ganha agora um sentido muito mais claro – e chocante.

Os sites dos principais jornais do país praticamente ignoraram o assunto. Mas portais importantes como o Terra Magazine entrevistaram o autor. O tema é capa da revista Carta Capital, e não há como os jornais considerados de circulação nacional deixarem a história na gaveta. Mesmo que seus editores demonstrem eventuais falhas na apuração de Amaury Ribeiro Jr., o fenômeno da mobilização nas redes sociais exige um posicionamento das principais redações.

Se a carreira de Serra parece ter se chocado contra o iceberg do jornalismo investigativo, a imprensa precisa correr imediatamente para um bote salva-vidas. Ou vai afundar junto com ele.

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A INÚTIL "MORALIDADE" SELETIVA DA MÍDIA

Texto extraído do site: TIJOLAÇO, em 10/12/2011

O que faria uma pessoa abrir uma empresa num paraíso fiscal?

Imagine se a filha ou o genro de Dilma Rousseff o fizessem?

Ou se este genro de Dilma Rousseff repassasse, desde uma empresa (sua) nas Ilhas Virgens uma bolada de dinheiro para outra sua empresa no Brasil e, acionado por dívidas previdenciárias, não tivesse nem mesmo um automóvel em seu nome para ser penhorado?

Ou se a filha da Presidenta estivesse respondendo na Justiça pela quebra do sigilo bancário de 60 milhões de pessoas, por acesso indevido aos cadastros do Banco do Brasil?

Ou se um diretor do Banco do Brasil comprasse, por operações cruzadas, praticamente uma prédio inteiro da Previ, caixa de previdência dos funcionários?

Tudo isso aconteceu e está documentado no livro de Amaury Ribeiro Júnior, com uma única diferença.

Os parentes eram de José Serra, não de Dilma Rousseff.

O que basta para não ser notícia nos nossos “moralíssimos” jornais.

Quando se age assim, desparece a autoridade moral para criticar.

E se enganam se acham que vão poder abafar o caso com a falta de notícias.

O livro de Amaury Ribeiro puxou vários fios da meada imunda das privatizações.

E este novelo vai ser exposto.

Ontem, aqui, já mencionamos um deles.

A AES, empresa americana que comprou a Eletropaulo e a Cemig – de uma forma que deixou até Itamar Franco, dócil às privatizações, indignado – também faz negócios com as elétricas brasileiras a partir das Ilhas Virgens.

Lá, em algumas simples caixa postal, ficam a dúzia de empresas-fantasmas que exploram a conta de luz dos paulistas e devem um fortuna ao BNDES.

A imagem é reproduzida de um dos contratos que se fez para encontrar saída para esta escandalosa inadimplência e favoritismo.

Contratos subscritos pelo srs. Britaldo Soares e Eduardo Berini, que são diretores da Eletropaulo e/ou procuradores de duas dúzias de empresas-fantasmas, que só existem no cartório do paraíso fiscal caribenho.

A privatização das empresas estatais é o maior escândalo da história do Brasil.

E, com os jornais ou contra eles, virá à tona.

DO PARAISO FISCAL AO PARAISO, SP. A CONEXÃO CITCO-PHC

Não, não é FHC, de Fernando Henrique Cardoso. É mesmo PHC, de Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente.

É o primeiro dos fios do novelo obscuro puxado pelo livro “Privataria Tucana” que, nós dissemos, iam começar a ser puxados.

Aos fatos, sem ilações e com documentos.

O livro de Amaury Ribeiro mostra que as empresas de fachada offshore de Ricardo Sérgio Oliveira, Verônica Serra e seu marido Alexandre Bourgeois foram abrigadas no Citco Building, edifício-sede de um grupo de companhias que, além das Ilhas Virgens onde se situa, se espalha pelos ancoradouros piratas de Aruba, Curaçao, Bahamas, Ilhas Cayman, Barbados e por aí …

Eles foram para a sede da Citco B.V.I. Limited, em Tortola, como está documentado no livro de Amaury.

Foram longe, porque a Citco tem um escritório de negócios no Brasil. Bem ali em São Paulo, na Avenida Bernardino de Campos, 98, 14° andar, no bairro – se podemos perdoar a ironia – do Paraíso, onde funciona a Citco Corporate Serviços Limitada, uma “pequena empresa” – com capital registrado de apenas R$ 10 mil – dirigida pelo senhor José Tavares de Lucena, representante plenipotenciário da Citco Corporate Services, situada no 26° andar do número 701 da Brickell Avenue, em Miami, Flórida.

O décimo-quarto andar do nosso Paraíso paulistano é também a sede de inúmeras empresas. O senhor Lucena é um homem polivalente, que administra um uma plêiade de empresas dedicadas a negócios imobiliários (a Select Brasil Investimentos), de telecomunicações( BBT do Brasil), informática (Torex International Sistemas de Informática), de embalagens (Dixie Toga, a dos copinhos plásticos) e muitas outras.

Nessa árdua tarefa ele tem a ajuda de outro contador, Jobelino Vitoriano Locateli, ambos muito atarefados com suas tarefas de representar oficialmente instituições de grande porte, como o JP Morgan e Citibank.

Mas sobra um cantinho no amplo andar do prédio da Bernardino de Campos para empresas menores,tão pobres quanto a pobre Citco Corporate Serviços Limitada e seus R$ 10 mil de capital social.

É o caso da Radio Holdings SA , que tem capital social neste valor, dos quais 98,6% (R4 9.860,00) pertencem a PHC, Paulo Henrique Cardoso, como demonstra certidão da Junta Comercial de São Paulo. Lucena e Jobelino revezam-se como administradores da empresa de PHC.

Esta pobre microempresa do filho do ex-presidente Fernando Henrique comprou, por R$ 2,98 milhões - 300 vezes seu capital social – a Rádio Itapema FM, que pertenceu ao grupo Manchete e ao RBS. E o fez como sócia majoritária de ninguém menos que a Walt Disney Company, sob o nome de ABC Venture Corp, no endereço nos famosos estúdios de Burbank, Califórnia.

A rádio, claro, certamente por economia, também foi para efeitos fiscais, para o Paraíso paulistano da Bernardino de Campos, no mesmo lotado 14°andar.

Mas nada disso vai para os jornais.

Sobre os temas tucanos, o jornalismo investigativo brasileiro não aguenta sequer uma manhã de Google.

Será que o Ministério Público é melhor que ele?

A REPORTAGEM DE AMAURY É UM PROCESSO PENAL

Texto publicado no site: TIJOLAÇO (de Leonel Brizola Neto, em 09/12/2011)

O livro de Amaury Ribeiro Júnior são dois, que me consumiram a noite e a manhã, numa escandalizada leitura.

Um dos livros, com 200 páginas, conta a histórias de um time de lavadores de dinheiro, todos girando em volta de José Serra, durante e depois do criminoso processo de privatizações.

Há os “amicci” – Ricardo Sérgio, Vladimir Rioli e Daniel Dantas – e a “famiglia” – a filha, Verônica, o genro, Alexandre Bourgeois e o “primo” Gregório Marín Preciado – com suas contas e contratos na Ilhas Virgens, na paradisíaca cidade de Tortola.

Ou, mais precisamente, em caixas postais, como a P.O. Box 662.

A Caixa Postal 662 é o endereço predileto do crime financeiro organizado. Muito mais perigosa e criminosa que qualquer fortaleza do tráfico.

É lá, por exemplo, que “fica” a AES Holdings, braço criado pela AES americana, talvez para não conspurcar o Cemitério Nacional de Arlington, cidade da Virgínia onde fica sua sede, onde repousam os herois da democracia americana. E outra caixa postal vizinha, a PO Box 31106, ficam a AES Cemig, a AES Tietê, a AES Brazilian Holdings e uma dúzia de outras, de nomes muito interessantes, como a AES Treasure Cove, ou “Buraco do Tesouro”…

Voltemos aos livros do Amaury.

O “segundo livro”, de 120 páginas, é uma fantástica coleção de provas. Os registros, transferências de dinheiro, as operações, a entrada de dinheiro com capitalizações fajutas de empresas, o tráfico de influência, a gestão temerária, a advocacia administrativa, a corrupção estão retratadas, em inglês e português, nos seus mínimos detalhes, no que deve ter sido uma longa e penosa missão de reportagem.

Reportagem? Não, “os livros” de Amaury não são uma reportagem.

Deveriam ser olhados como a instrução de um processo criminal.

É a ísso que o Ministério Público está desafiado.

Amaury Ribeiro já “instruiu os autos”.

É com os senhores, senhores promotores.

PS. Estou em São Paulo, onde será lançado o livro, com um debate ao vivo sobre a obra, a partir das 20 horas. O Tijolaço transmitirá.