sábado, 15 de fevereiro de 2020

No Planalto, o “livrem-se dos livros”

Bela Megale, em O Globo, conta que parte da Biblioteca da Presidência da República – criada há mais de um século, por Venceslau Brás – está sendo desmontada para abrigar algo parecido com um serviço de telemarketing de uma “OMG” (Organização “Meio” Governamental) presidida pela Dona Michelle Bolsonaro, destinada a promover o voluntariado social.
A foto do jornal e a de como era antes da fúria vândala mostra o destino daquele espaço.
É lá que as “senhoras” dos ministros – no caso de Paulo Guedes, a irmã, dirigente da associação de universidades particulares – associam-se a eventos aos quais emprestam suas augustas figuras à caridade 2.0 dos “projetos sociais”.
Nada contra a busca da indulgência e aos momentos edificantes de trajar um casual em alguma periferia.
Só que, informa a nota, o espaço para as moças fazerem a integração virtual com estes eventos já havia sido providenciado, sete meses atrás, quando Bolsonaro criou a OMG, ao custo de R$ 330 mil, no Ministério da Cidadania, a cinco minutos de carro da residência presidencial.
Não havia, portanto, nem necessidade, nem economicidade em instalar o quase call center no anexo do Planalto onde está o acervo que Getúlio Vargas ampliou, Fernando Henrique informatizou e Lula, na reforma feita no Planalto em 2005 deu um espaço digno e adequado para consulta pública.
Não há espaço, agora, para guardar mais livros, aquelas coisas esquerdistas, um amontoado de letrinhas.
O pior é ler isso sendo saudado nos comentários do leitores. “Ninguém lê”, “digitaliza e joga fora”, “passado é passado, vamos viver o presente”.
Definitivamente há epidemias por aqui que provocam mais mortes cerebrais que as do coronavírus.

Pesquisa mostra Lula, Moro e economia como adversários de Bolsonaro-22

Com todas as ressalvas que merece, pela origem e pela distância de dois anos e meio até o real processo eleitoral a pesquisa encomendada pela Veja – os números detalhados você pode ver no DCM– mostram, essencialmente – e pela ordem – que Jair Bolsonaro tem apenas três adversários de peso, hoje.
O primeiro, disparado o mais forte, Lula.
Os três ou quatro pontos de desvantagem não significam nada diante de uma campanha política e de uma comparação direta invitáveis numa campanha. É coisa que se “vira” em poucos dias de campanha ou até antes dela, se o ex-presidente tiver anulada, como será essencial para que concorra, a sua condenação.
O segundo, Sérgio Moro, postado como uma traíra à espera da inviabilização do chefe mas, até a pesquisa o prova, de ir para um enfrentamento direto com ele.
Moro não amplia, quase, a extrema-direita e, “rachando” com Bolsonaro, não lhe tira mais que um décimo dos eleitores. Estão superpostos, vê-se.
Moro depende ainda de um fator imprevisível e imponderável: o julgamento, no STF, se sua suspeição no julgamento de Lula. Veremos o que prevalecerá, se o ódio a Lula entre os ministros ou o medo de que uma decisão favorável ao ex-ministro pavimente seu caminho para o poder ou para o próprio Supremo que, com ele, tomará um caminho terrivelmente autoritário.
Por último, vem aquilo que acho que será o mais decisivo: a capacidade de Bolsonaro de manter certo equilíbrio na economia, ainda que num estado de estagnação que a mídia acena, sempre, como a “recuperação logo ali”.
Os sinais de degradação econômica estão ficando evidentes, mas ainda é fortíssima a impressão de que, com a inflação em baixa, o “parou de piorar” seja visto sempre como um “começou a melhorar”. Só muito recentemente este clima de otimismo sem fundamentos deu, ao menos, uma amenizada.
Não creio que o binômio estupidez-milícia vá produzir efeitos maiores sobre Bolsonaro sem um abalo, também, nas condições da economia.
Afinal, de uma e de outra, convenhamos, a dose não foi pequena nestes quase 14 meses. Afora setores da classe média menos idiotizada, dos tiraram o autoengano de que o sapo, no Planalto, pudesse virar um príncipe, pouco efeito fazem, tamanha é a irracionalidade do ódio que tomou conta de vastos territórios do chamado “senso comum”.
E são informações que aparecem e somem segundo permite-as o submundo policial-judicial.
E este submundo, hoje, tem o controle o país.

Veja mostra fortes indícios de execução de miliciano “bomba”

A revista Veja mostra, agora à noite, fotos que sugerem que o ex-capitão e miliciano Adriano da Nóbrega, figura próxima dos Bolsonaro, foi executados com tiros de curta distância e não morto em confronto, como é a versão oficial.
VEJA teve acesso a imagens que revelam que Adriano da Nóbrega foi abatido com tiros disparados a curta distância. As imagens reforçam a acusação feita por sua esposa e por seu advogado de que ele foi executado — e de que as forças policiais nunca quiseram realmente prendê-lo. São fotografias de diversos ângulos, feitas logo depois da autópsia, que devem ajudar a revelar o que aconteceu nos minutos que se sucederam à entrada dos policiais no sítio onde o ex-capitão estava escondido, no município de Esplanada. De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano, depois de reagir, foi abatido com dois tiros — um de carabina e outro de fuzil. Um dos projéteis atingiu a região do pescoço. O outro perfurou o tórax. (…) As fotos obtidas pela reportagem sustentam parte dessa versão — mas apenas parte. Os disparos que mataram Adriano da Nóbrega foram feitos a curta distância. Além disso, as imagens revelam um ferimento na cabeça do ex-capitão, logo abaixo do queixo, queimaduras do lado esquerdo do peito e um corte na testa.
Obtidas com exclusividade, as fotos que ilustram esta reportagem foram submetidas à avaliação do médico legista Malthus Fonseca Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor do Instituto Médico Legal do Distrito Federal. Ele debruçou-se sobre o material sem saber a identidade do morto. Depois de ressaltar que o ideal seria estudar o próprio corpo e ter conhecimento das armas usadas na operação policial, Galvão citou alguns pontos que lhe chamaram a atenção. O primeiro são as marcas vermelhas localizadas próximas da região do peito, chamadas pelos peritos de “tatuagem”, que indicariam um tiro a curta distância. “É um disparo a uma distância na qual a pólvora ainda tem energia cinética suficiente para adentrar o corpo. Então, foi um disparo a curta distância. O que é a curta distância? Depende da arma e da munição. Seriam 40 centímetros, no máximo, imaginando um revólver ou uma pistola. Mais que isso, não”, declarou Galvão. E acrescentou: “Pode ter sido uma troca de tiros? Pode. Pode ter sido uma execução? Pode. Qual é o mais provável? Com esse disparo tão próximo, o mais provável é que tenha sido uma execução. Mas tem de analisar com mais detalhes”.
O segundo ponto destacado pelo médico legista é uma marca que aparenta ser um tiro na região do pescoço. “Pode ter sido um disparo após a vítima ter caído no chão, porque a imagem me sugere ser de baixo para cima, da direita para a esquerda, em quase 45 graus. Esse disparo pode ser o que o povo chama de ‘confere’”, afirmou. Confere é o famoso tiro de misericórdia, efetuado quando não há a intenção de salvar a pessoa baleada. Galvão também destacou uma marca cilíndrica cravada no peito do corpo. “Tem muita chance de ser a boca de um cano longo após o disparo, quente, sendo encostada com bastante força por mais de uma vez. Nesse momento, ele estava vivo, com certeza, porque está vermelho em volta. É uma reação vital.” O professor observou ainda que o ferimento na cabeça poderia ser um corte provocado por um facão, um machado ou um choque com a quina de uma mesa. Pessoas próximas a Adriano da Nóbrega dizem que ele foi torturado. O machucado na cabeça, por exemplo, teria sido resultado de uma coronhada de pistola.
Os sinais de que foi um assassínio estão cada vez mais fortes.
Adriano é um arquivo morto. Mas ainda não ilegível, apesar de uma máquina policial que gera mais suspeitas que confiança.

Lula e o Papa: sinal aos fariseus

Aos incomodados minions e adjacentes, que estão vociferando nas redes pelo Papa ter recebido Lula no Vaticano, para uma conversa sobre justiça social, urrando pelo fato de que Francisco dê a mão a quem chamam de ‘condenado”, vale lembrar.
Em setembro do ano passado, Jair Bolsonaro ajoelhou-se e recebeu a imposição das mãos de Edir Macedo, participou de lives com Silas Malafaia, viajou no avião presidencial com Marco Feliciano, para ficar apenas nos mais notórios nomes de outras religiões.
Não sei se é possível perceber a diferença de significado dos personagens…
Quem quiser, use Provérbios 13:20.
“Aquele que anda com homens sábios será sábio, mas um companheiro de tolos será destruído.”

Disney está saindo caro para o BC

“Está um pouquinho caro”, disse Jair Bolsonaro, ao comentar – e só nisso, esquecendo das empregadas domésticas na Disney – a desastrosa fala de ontem de Paulo Guedes.
Só Deus sabe o quanto terá custado ao “mito” se conter diante da estupidez de seu ministro, até porque seu cérebro limitado acha que prosperidade econômica é dólar barato-gasolina barata- inflação baixa, sem compreender que estes não são valores absolutos, mas ferramentas de política econômica.
Mas dá para ter noção do que custou ao país: o BC teve de reaparecer no mercado de câmbio, com US$ 1 bilhão de contratos de swap, que consiste vender dólares com garantias da cotação atual mais algum juro.
A queda de 0,4% no volume de serviços, em dezembro, registrada hoje pelo IBGE veio mais forte que a esperada, completando o trio de quedas – indústria, comércio e serviços – que esfriou a festa do “agora a coisa vai” do final do ano. Não se espera melhor sorte para janeiro.
Depois de cinco anos de retração ou estagnação, é muito difícil fazer com que o Brasil não cresça.
Mas este governo está conseguindo.

A DOR DE COTOVELO DE BOLSONARO...

Guedes e o seu castigo

Entre as expressões que ficaram para além dele, Leonel Brizola criou uma de rara profundidade.
“A maldição dos pobres”.
Foi, originalmente, usada para Moreira Franco, quando este assumiu o governo na onda do Plano Cruzado e começou a destruir os Cieps.
33 anos depois, é provável que aconteça mais uma “edição” de tal praga rogada.
A quinta-feira promete tremor nos mercados financeiros, com o aumento do número dos diagnósticos significando que a retração econômica na China está sujeita a durar mais tempo e, pior, se o número do IBGE sobre o setor de serviços acompanhar a direção de queda registrada na indústria e no comércio.
Mas é o episódio de grosseria “sincera” de Guedes, defendendo o câmbio alto e debochando das empregadas domésticas o que responderá pelos abalos do dia, já antecipado por quedas fortes nas bolsas asiáticas e europeias e pelo premarket de Wall Street.
A capa do Extra captou a mensagem.

TEMOS A PIOR ELITE DO MUNDO. UM PAÍS TÃO DESIGUAL E COM UMA ELITE TÃO DESUMANA.

‘Doméstica na Disney’: o desprezo de Guedes não cabe em sua própria boca

Ele não consegue se conter. Seu elitismo, seu desprezo às pessoas humildes e trabalhadoras não aceita ficar preso dentro do peito, precisa escapar, em jorros, pela boca.
Falando em Brasília, no Seminário de Abertura do Ano Legislativo da Revista Voto, Paulo Guedes defendeu assim a alta do dólar, que hoje bateu seu recorde histórico:
“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada!”
Pobre empregada doméstica, ganhando um salário mínimo, se não gastasse um centavo durante dois anos ainda não teria o suficiente para a excursão mais modesta ao parque norte-americano!
Este verme moral devia ser posto a viver um Mês com o salário mínimo para ter ideia da monstruosidade do que pensa. Aliás, tem, disse porque é essa a maldade que nele habita e tentou consertar:
“Vão dizer ‘ministro diz que empregada doméstica estava indo para Disneylândia’. Não, o ministro está dizendo que o câmbio estava tão barato que todo mundo mundo estava indo para a Disneylândia”.
Foi isso mesmo o que o senhor disse, ou será que as quase oito milhões de empregadas domésticas brasileira não são parte do “todo mundo”?
O senhor, sr, Guedes, não é apenas um homem sem coração, é também um burro, que consegue escoicear a própria testa e carregar nela, gravada, a marca da estupidez.
Há dias chamou de parasitas os servidores públicos, entre eles a sua mãe, que era funcionária e o criou, pelo visto não tão bem a ponto de respeitar as pessoas.
Agora, faz uma versão daquela história do FHC, que ao menos dizia que as empregadas iam à Europa.
A estupidez de sua fala é tão grande que aposto que até um energúmeno como Jair Bolsonaro está tendo, a esta hora, ganas de demiti-lo e só não o faz porque a elite financeira deste país é bruta, burra e mesquinha como o senhor Guedes.

SERÁ QUE QUEIROZ É A PRÓXIMA "QUEIMA DE ARQUIVO"?

Câmbio nas alturas dá o medo de um queda maior …

O “rali” do dólar prossegue numa escalada além de qualquer previsão.
Hoje, fechou a R$ 4,35.
Quase 10% de valorização desde o início do ano, o que é demais em qualquer análise, por mais pessimista que seja.
Numa análise simples, teria de voltar a uma certa “normalidade”.
Mas não é necessariamente simples nada nas finanças, hoje.
Nenhum dado sólido saiu ainda da China para avaliar-se os efeitos do coronavírus, senão um “oba-oba” precipitado cm uma leve redução dos novos casos.
As ações que se relacionam com a exportação de commodities para a China estão em estado de completa loucura.
Também segue, com muito raras exceções pontuais, a saída de capital aplicado aqui em bolsa por investidores estrangeiros: desde janeiro, cerca de R$ 24 bilhões, mais da metade de tudo o que saiu em 2019.
A Bovespa está sustentada por pequenos investidores, diretamente ou via fundos e estes são muito mais vulneráveis ao stress das perdas repentinas.
Por isso a falta de equidade com a renda do câmbio é mais perigosa.
Com os grandes, há frustração do desempenho econômico local, e o fato de que, em todo o mundo, está se observando o que os economistas chamam de “flying to quality”, quando se procura a segurança do mercado norte-americano de moeda, títulos e ações.
A moeda dos EUA está se valorizando em todas as praças – analise, nos sites de cotações, o chamado “índice dólar”, que o compara a uma cesta de moedas – e o Euro tem a sua pior cotação em quase dois anos.
Meses de dólar alto – e cada vez mais alto – por mais que a demanda esteja reprimida por renda baixa e desemprego e a oferta sobrando por ociosidade e baixo consumo só não cobram seu preço em inflação porque a abulia econômica não a pressiona senão aqui e ali.
Mas no mundo real, da produção e do comércio – não no das finanças – as margens estão comprimidas e repasses vão acabar acontecendo, haja ou não quem compre.
Estamos como aquelas duplas de trapezistas, como o de baixo: não dependemos só de nós para não cair, mas de que o de cima não chacoalhe muito.

NUNCA TIVEMOS TANTOS MILITARES NO PODER...

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O Planalto, agora, é todo militar

A confirmar-se a nomeação do general Walter Braga Netto para a a Casa Civil da Presidência da República, o Palácio do Planalto se torna, virtualmente, uma instituição militar, porque coabitarão ali o general Heleno (GSI), o general Luiz Ramos (Secretaria de Governo) e o major reformado da PM, Jorge Antonio Oliveira, na Secretaria-Geral.
Os efeitos, claro, não podem ser bons.
Afinal, quando o Exército invade e ocupa a política, nada mais natural que a política também invada o Exército.
Discreto, Braga Netto não é um politiqueiro como seu colega Ramos, que já no comando militar de São Paulo, espalhava-se em churrascos e selfies com políticos.
Embora Onyx Lorenzoni já fosse pouco mais que um zero à esquerda, ainda era um deputado e tratar com milico, afinal, não é das coisas mais agradáveis para os parlamentares.
A relação, que já é ruim, tende a piorar.
Braga Netto traz, também, um inconveniente: tem-se de achar uma função para ele e certamente não serão as jurídicas, em parte já podadas da Casa Civil para o amigo e homem de confiança Jorge Oliveira, que vão atrair o novo general.
Pensar que ele vá assumir missões estratégicas esbarra no fato de que este governo não tem estratégia alguma.
A impressão é que Bolsonaro está se fechando num casulo militar, dada a sua incapacidade de articular-se na política.
Casulos, como se sabe, são protetores, mas são também prisões das quais só as larvas que se desenvolvem são capazes de sair, rompendo-os quando estão suficientemente fortes.
Não parece ser o caso da larva em questão.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Os “parasitas”

O senhor Paulo Guedes chega ao Ministério com um parasita dirigindo seu carro. Entra e outro parasita abre-lhe o elevador privativo, pelo qual sobe ao quinto andar, para seu gabinete.
Uma parasita transmite-lhe as mensagens que o aguardavam, enquanto outro parasita serve-lhe o café fumegante.
O “homem” já não era dos mais simpáticos, carregado do autoritarismo próprio dos banqueiros , ramo no qual simpatia não é coisa que se ofereça a subalternos.
Mas agora ele cruzou o limite entre a humilhação privada e a ofensa pública.
Afinal, embora não sejam raros os maus tratos no trabalho diário, outros executivos, ao menos publicamente, os chamam agora de “colaboradores”.
Cada um daqueles parasitas e centenas de milhares de outros levaram ontem um desaforo para casa.
Tiveram que enfrentar a irritação de mulheres e maridos, que os veem sair cedo e chegar tarde da repartição, muitas vezes além do horário.
Já acostumados ao perigo de falar, nos tempos de hoje, ruminam a vergonha em silêncio.
Sabem que é deles que se fala, não dos “bacanas”, os do segundo e terceiro escalão – em geral, funcionários requisitados do Banco do Brasil, da Caixa, da Receita ou das carreiras jurídicas, porque ganham relativamente bem e aceitam trabalhar pelos cargos da DAS que, sem isso, não contratam profissionais “competitivos”.
Não a eles, que há anos aceitam de tudo esperando aquela gratificação mixuruca, mas que faz falta em seus parcos vencimentos.
Não vão mais se aposentar tão cedo e nem terão reajuste. É tocar a vida com o que se tem, porque veem em volta que muitos não têm mais.
Guedes pode soltar notas “oficiais” dizendo que não disse o que disse nem que pensa o que pensa.
Gravou em sua própria testa um estigma indelével.
A maldição dos humildes gruda mais que um parasita.
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O “excludente” de ilicitude já existe quando o morto é pobre

A Corregedoria da PM paulista já decretou.
Os nove jovens que morreram do baile funk de Paraisópolis cometeram suicídio.
Ninguém mais, além deles próprios, foi responsável por suas mortes.
Os policiais agiram “em legitima defesa” ao encurralarem-nos num brete onde a única saída era pisotearem-se uns aos outros.
Ainda que possa não ter sido deliberado, foi o emprego abusivo da força.
Afinal, eles não são gente como eu ou você, não é?
A turma do “prende e arrebenta” ou do, atualmente,”nem prende, vai matando logo, cancela o CPF” está radiante.
O excludente de ilicitude já está, como há tempos, implantado.
E mais amplo do que queria Sergio Moro. Nem medo, nem surpresa, nem violenta emoção.
Basta que o morto seja pobre, quer maior prova de que era um criminoso?

Guedes elege o novo inimigo da Nação: o servidor público

Diz o G1 que o ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou funcionários públicos a “parasitas” ao comentar, hoje, as reformas administrativas pretendidas pelo governo federal. em palestra na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Segundo ele, seria absurdo o reajuste anual dos salários dos servidores que, segundo ele, já têm como privilégio a estabilidade no emprego e “aposentadoria generosa”.
Como todo autoritário, apela para estratégia de criar um “inimigo interno”, aquele que deve aparecer como causador de todos males.
Os “parasitas”, certamente, não incluem os servidores militares, única categoria com aumento de vencimentos que, este ano, importará numa despesa extra de R$ 4,7 bilhões, mais R$ 7 bi em 2021 e R$ 9 bilhões em 2022.
Nem acha que a “aposentadoria generosa” é a do capitão Jair Bolsonaro, aos 33 anos de idade.
Claro que há maus servidores públicos, daqueles que querem que “o mundo se acabe em barranco para morrerem encostados”. Mas há também, em muitísimo maior escala, o caso do servidor malvisto porque é que personifica “a cara” do serviço público deficiente.
Ou será que você vai achar eficiente o sujeito que, depois de você esperar horas na fila, diz que seu benefício previdenciário, pedido há seis ou sete meses, não tem data para sair? Ou que o exame que você precisa, no hospital, vai demorar três meses?
Além disso, como seria ilegal – e Bolsonaro já afirmou que não se proporá isso – que a reforma valha para os atuais servidores, o impacto sobre as despesas com pessoal da União será, do ponto e vista prático, nenhum.
Como só valerá para novos servidores e os concursos estão suspensos, será zero.
Mas serve para a campanha de ódios.