sábado, 8 de abril de 2017

A verdade involuntária: a “estabilidade” é o caos social

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Vivemos uma situação estranha na economia, muito bem resumida, num arroubo de verdade impensada, pelo letreiro que surgiu no comentário da jornalista Teresa Heredia, na Globonews: “Recessão e desemprego derrubam inflação e devolvem poder de compra aos brasileiros”.
Não, não é um deslize, é um retrato.
A queda da inflação é a aplicação, em dose cavalar, do conceito clássico de que a inflação cresce pelo excesso de demanda e, portanto, cai com a retração da procura por gêneros de consumo diário, bens e serviços.
Os preços não sobem porque não se vende.Como não se vende, não se produz. E como não se vende nem se produz, não se arrecada.
Não se arrecadando, a “solução” passa a ser a estabelecer “déficits” cada vez maiores no Orçamento para, formalmente, cumprir “meta” situadas cada vez mais baixas e, em tese, completamente ao inverso do tal “saneamento das contas públicas.
Estamos, hoje, trabalhando com duas “ancoras”, de resistência imprevisível.
Uma é o dólar, depreciado.
A outra é a expectativa, minguante, de que o governo possa garantir, no médio prazo, redução dos seus déficits, o que vem saindo ao contrário. O maior gancho desta “âncora” é a reforma da previdência, que começa a se soltar, com perspectivas cada vez menores que vá ser algo além de um pálido remendo.
Hoje, por um empresário na coluna de Miriam Leitão, em O Globo.
“Na boca do caixa, o meu primeiro trimestre ainda foi negativo. Os índices de confiança estão subindo, mas já brinco que eles viraram indicadores de esperança.”
Não haverá recuperação da economia sem que ela volta a funcionar.
O que se busca, hoje, é o equilíbrio na paralisia, impossível numa sociedade com as carências da brasileira.
A nãos ser que, como no letreiro da Globonews, a gente acredite que quanto mais desemprego e recessão, o poder de compra vá crescer.
Porque essa verdade só serve para uma pequena parcela da população. Para a outra, que a paga, é só exclusão, miséria e atraso.
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O dedo do Duda aponta para Skaf

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Vai se descobrindo mais um capítulo do segredo de Polichinelo de que esta praga chamada “marqueteiro eleitoral”, que eleva em dezenas de milhões o custo das campanhas eleitorais e paga, por caixas as mais diversas, por empresas.
Agora, surge a delação premiada de Duda Mendonça, narrando as peripécias dos pagamentos feitos (e não feitos) pela Odebrecht para financiar a campanha de Paulo “Pato” Skaf ao Governo de São Paulo.
A história tem lances de filme de espionagem, com senhas, contrassenhas, fazendas na Bahia e outros “folclores”.
Duda estava como “favas contadas” para delatar algo de Lula mas, como se diz por aqui, “deu ruim”.
Assim, vai ficando claro que todos usaram recursos empresariais, parte registrados, em parte não registrados. Porque também o marqueteiro de Aécio, Paulo Vasconcellos, foi pago em parte pela mesma empreiteira.
É preciso dar um basta à hipocrisia, porque todo mundo sabe que as campanhas de propaganda (especialmente rádio e televisão) exigem gastos imensos de quem pense em se eleger.
Uma reforma política séria tem de atacar os programas de propaganda política, onde o essencial é que o candidato se comunique com a população se expondo, não escondido sob uma montanha de recursos cinematográficos e efeitos especiais.
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Lula se diz tranquilo e quer que depoimento a Moro venha logo

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Lula diz que está “ansioso” para que chegue logo o dia 3 de maio, data de seu depoimento a Sérgio Moro no caso do suposto “tríplex” que dizem ser seu, no Guarujá, “porque é a primeira oportunidade que eu vou ter de poder saber qual é a acusação que eles têm contra mim e qual é a prova que eles têm contra mim”.
Em entrevista, por telefone, transmitida ao vivo pelo Facebook desde sua casa, em S. Bernardo, à rádio “O Povo CBN”, de Fortaleza, o ex-presidente disse esperar que apresentem provas da acusação e falou que está “tranquilo”.
Assista abaixo o vídeo:
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Temer chama Boni para o Planalto. E o Bonner?

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Poder360 noticia que Michel Temer chamou para ser consultor do governo 0 ex-global José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.
Sem trocadilho, o repórter Marcelo Barbiéri,diz que Boni trabalhará “pró-bono”, sem salário, “movido pelo espírito do ‘bom brasileiro’, interessado em ajudar o Planalto e a imagem do presidente”.
Esqueça-se o fato, constrangedor, de Boni ser agora um concessionário do Governo, desde que ganhou uma emissora do Governo Fernando Henrique, em 2001, na região do Vale do Paraíba.
Aos 81 anos, Boni não é o todo-poderoso homem de comunicação que era há duas décadas, como o manda-chuva da Globo.
Talvez apenas um “recuerdo de Ypacaray”.
O negócio agora não é com o chefe do Boni, mas com o chefe do Bonner, João Roberto Marinho.
Que não está muito interessado num paciente que dá sinais de estar em estado terminal.
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Corrosão do governo assusta a direita

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Michel Temer não tem, no horizonte visível hoje, votos para aprovar uma reforma da previdência que vá além de uma demão de tinta rala.
A notícia, hoje, que pretende acabar com o abono salarial – um salário mínimo por ano pago a quem ganha até dois mínimos – mostra que a equipe econômica está mandando seu recado: as contas não fecham.
Esta “fórmula” é apenas uma bobagem, destinada a sinalizar que é preciso dinheiro. Porque mexer no abono exigiria o mesmo quorum  de 308 votos (que não há), pois o pagamento está previsto na Constituição (§ 3º do Art. 239).
É preciso arranjar dinheiro, mas a pauta empresarial-rentista que está imposta a Temer o impede  de fazê-lo pela via do imposto, apenas pela do arrocho.
E esta é cada vez menos palatável a parlamentares que vêem chegando o calendário eleitoral.
Hoje, no Valor, Raphael de Cunto resume a situação de Temer no parlamento, comparando-a aos “bons tempos” do Império de Cunha:
A diferença no comportamento da Câmara fica mais evidente quando se compara as votações do projeto da terceirização. Em 2015, sob a presidência do ex-deputado Eduardo Cunha, o projeto foi aprovado por 324 votos a favor, 137 não e duas abstenções. O texto votado no fim de março teve 231 sim, 188 não e oito abstenções. Ou seja, contra a opinião do governo (a presidente era Dilma Rousseff), Eduardo Cunha conseguiu quase 100 votos a mais que a proposta agora apoiada – e mal trabalhada, segundo os aliados – pelo Planalto. Os votos contrários e as abstenções também cresceram.
A ilegitimidade do governo fruto de uma conspiração era compensada na ideia – que pareceu possível – de produzir uma carnificina completa sobre os direitos sociais e o patrimônio público que, afinal, em boa parte vai se consumar, mas sem perspectivas de alcançar a solidez de algum tipo de pacto político, como registra Luís Costa Pinto, no Poder360:
A ausência de clareza e de firmeza nas teses propostas pelo governo para a reforma da Previdência traduz a falta de um projeto de longo prazo. Os recuos sucessivos dos negociadores políticos, e a condução atabalhoada da comunicação, são sintomas de uma desagregação perigosa da equipe palaciana e podem estar começando a revelar uma notícia aterradora: não há mais coelhos na cartola. Quando isso ocorre nos espetáculos dos magos de quintal é porque o fim da festa se aproxima.
Este fim de festa será espacialmente danoso para o país.
De um lado, vai acelerar o ritmo de liquidação de tudo o que houver a vender, à cata de recursos que tornem menor o rombo gigante.
De outro, vai açular os apetites de poder das transviadas instituições brasileiras e atirar a disputa eleitoral para fora do “convencional”, com o, a esta altura, quase inevitável aventureirismo que experimentamos há quase 30 anos, pois esta é a alternativa possível à direita que se agregou a um governo que entrou em decomposição.
O que ocorreu com Sarney, ao que tudo indica, acontece agora com Temer.
O único “problema”, desta vez, é que o “rapaz valente” está ainda agarrado à carcaça que apodrece.
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O marketing da guerra

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A famosa frase de Carl von Clausewitz sobre a guerra ser a continuidade da política por outros meios ainda não previa que o marketing político poderia tomar os mísseis como suas peças de propaganda.
De novo, isso aconteceu na noite de ontem.
Com 59 mísseis Tomahawk, Donald Trump acertou mais do que uma base aérea no remoto deserto sírio.
Atingiu em cheio seu primeiro alvo: recuperar algum suporte interno, depois das frustrações políticas e judiciais de suas ações “machoman” contra imigrantes.
Causou danos severos às crescentes especulações e “saias-justas” sobre a história de agir em cooperação com o russo Vladimir Putin.
Mostrou ousadia em relação aos chineses ao ordenar o ataque com o presidente chinês Xi Jinping em pleno território americano, onde chegou ontem para uma visita de dois dias.
Um ataque ainda não esclarecido com gás, numa guerra civil de anos, com várias facções – uma delas o Estado Islâmico – em luta e mortes com requintes de crueldade, inclusive decapitações públicas, está longe de ser um “limite intolerável” onde já se ultrapassaram todos os limites, toleráveis ou não.
Até porque é no mínimo duvidoso que o presidente sírio, Bashar Al Assad, fosse comprometer a maré de sucessos militares que vem tendo com uma monstruosidade, embora enorme do ponto de vista humano, insignificante para o conflito em que está metido.
Mas a guerra tem sua própria racionalidade insana, que é a política.
E, no caso de Trump, política é marketing.
Makes America big again.
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Greve para a Argentina. “Eu sou você, amanhã”?

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É quase total a greve em Buenos Aires e em quase todas as grandes cidades argentinas, como reconhece o próprio diário governista Clarín, em protesto contra a política econômica do governo de Maurício Macri.
Que, olimpicamente, finge que não está acontecendo nada.
Enquanto as cidades paravam e uma imensa tropa detinha manifestantes a 200 metros de distância, ele, Macri ratificava sua orientação econômica a empresários e banqueiros do Hilton Hotel, numa reunião do Fórum Econômico Mundial para a América Latina.
Pararam ônibus, trens, metrô, aeroportos, fábricas e só parte do comércio funciona, quando tem funcionários para abrir as portas.
Para quem acredita na tradição do “eu sou você, amanhã” com a Argentina, que o Brasil inaugurou nos anos 80 com os planos econômicos, é um sinal preocupante com a greve marcada para o dia 31, contra a reforma da Previdência.
Mesmo para os que não crêem nisso, entretanto, vale o ditado sobre colocar as barbas de molho, quando queimam as do vizinho.

O “hábil” Temer erra e lança “pacote de recuos” na Previdência

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Michel Temer mostrou que está apavorado com a possibilidade de rejeição total – ou quase total – de sua proposta de reforma previdenciária.
E, em consequência, anunciou um “pacote de recuos” na entrevista que deu hoje a José Luiz Datena, na Band: nas regras de transição para o novo regime; pensões; nas regras para trabalhadores rurais; nos benefícios de prestação continuada e na aposentadoria de professores e policiais.
Disse que inegociável é a idade mínima, mas também nisso terá de ceder, talvez nas próprias regras de transição e não tocou na questão dos 49 anos de contribuição, duas outras questões que geram imensa polêmica.
Tantos recuos de uma só vez enfraquecem a posição do governo na cooptação de parlamentares.
Na prática, tudo volta à estaca zero até que se anuncie, nas mudanças admitidas, quais serão as regras a serem votadas.
Dificilmente o relator, Arthur Maia, conseguirá, mesmo nisso, produzir uma fórmula mágica, aceitável a todos.
A esta altura, o Governo aceita aprovar qualquer coisa, para não sofrer uma derrota.
A questão, agora, é que a reforma já ganhou, pela brutalidade original, a rejeição pública e dela dificilmente se livrará com ajustes, por mais extensos que sejam.
E os deputado sentiram na prática a sua possibilidade de colocar o pé no pescoço do governo.
Como dizem os gaúchos antigamente, cachorro que comeu ovelha, não tem jeito, só matando.
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Globo e Itaú sustentam “movimento” que apoia reforma de Temer

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O Estadão noticia que ” foi lançado um novo movimento favorável à mudança [da Previdência], batizado de Apoie a reforma, cujo objetivo é esclarecer a população sobre a questão e pressionar os parlamentares a aprovarem a medida”. O “movimento” que usa vídeos de propaganda em favor das propostas de Temer, tem como articulador  Luiz Felipe d’Avila, “presidente do Centro de Liderança Pública, uma organização voltada para a formação de líderes governamentais”.
Faltou, porém, dizer quem são os dirigentes e financiadores deste Centro, informação que está disponível na internet e deveria ser relevante quando se quer mostrar ao leitor que interesses movem esta posição.
Integram o Conselho Diretor  – veja o time – os senhores João Roberto Marinho (Globo), Ana Maria Diniz (ex-Pão de Açúcar). Eduardo Muffarej (Abril Educação), Fábio Barbosa (ex-Santander e ex-Abril), entre outros, e é mantido pelo BTG Pactual (André Esteves e Persio Arida), pelo Armínio Fraga, o bancos Credit Suisse e Itaú, Shoppings Iguatemi e Bovespa.
Gente, claro, extremamente preocupada em ter com o que sobreviver na velhice.
É a “sociedade civil”, não é , Dra. Cármem Lúcia, participando do debate democrático com o discurso terrorista que a gente antecipou aqui:
“A Previdência é uma bomba-relógio que precisa ser desarmada ou não haverá dinheiro para pagar a aposentadoria.”, diz o tal “movimentista”.
Só haverá para pagar aos bancos, à Globo, aos ricos…