sábado, 7 de julho de 2018

Singer: a direita radicalizou e bloqueou as saídas

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aroeiraferradura
Ótima análise de André Singer, na Folha,diz que o processo de radicalização política do Brasil – uma obra da mídia e do Judiciário, sobretudo – bloqueou o caminho de conciliações e pactos políticos (que Lula representou e, com parco sucesso, Ciro Gomes tenta reeditar) e nos levou a uma situação em que as eleições parecem mais ser uma porta de entrada para a “crise permanente” que uma saída para os impasses colocados ao país.
Vale muito a leitura.

Direita optou por radicalizar

André Singer , na Folha
Em menos de cinco meses, as expectativas econômicas sofreram uma séria reversão. Conforme noticiou a Folha na última quinta (5), “em março, a alta esperada para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018 encostava em 3%, com alguns economistas prevendo algo acima disso”. Agora as projeções caíram para cerca de um terço daquele montante.
Em outras palavras, o Plano Meirelles deu errado e a ponte para o futuro nos levou ao passado de estagnação dos anos 1980 e 1990. Compreende-se, assim, que o ex-ministro da Fazenda amargue 1% das intenções de voto e Lula continue com mais de 30% nas pesquisas, apesar de preso. 
Da metade da pirâmide para baixo, o eleitorado quer, sobretudo, voltar ao período em que havia emprego e renda.
O problema está em como reconstruir as condições para tal retomada. O processo do impeachment, iniciado em 2015 e concluído em 2016, abalou as bases do pacto que permitiu o “milagre” lulista de reduzir a pobreza sem confronto político. Na sequência, a conjuntura foi transformada por importantes mudanças locais e mundiais. 
Na esteira do golpe parlamentar, e sem a legitimação de um pleito presidencial, houve bloqueio dos gastos públicos, retirada de direitos trabalhistas e abertura do pré-sal para empresas estrangeiras. No plano externo, a ascensão de Donald Trump significou o acirramento dos conflitos globais. 
As vaias a Ciro Gomes (PDT) e os aplausos a Jair Bolsonaro (PSL) na CNI (Confederação Nacional da Indústria), quarta (4) passada, expressam bem o ambiente polarizado do qual não conseguimos escapar. 
Os apupos vieram quando o candidato do PDT —longe de ser um radical, ainda que intempestivo— apenas afirmou que reabriria o debate sobre as mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O postulante do PSL, por sua vez, foi ovacionado quando disse que iria colocar “generais nos ministérios”.
Bolsonaro reiterou que não entende de economia, delegando ao economista ultraliberal Paulo Guedes a formulação dos planos para a área. Mas se propõe a garantir a ordem, por meio de presença militar, para que o capital possa reinar inconteste. “Os senhores são os nossos patrões”, declarou o deputado na CNI.
Como disse um amigo, a direita está venezuelizando o país. Joga fora a Constituição de 1988 que, bem ou mal, garantiu a fase mais completamente democrática que o Brasil teve. Se forem bem-sucedidos, a instabilidade prosseguirá. Diante de tal ofensiva, fica difícil conciliar. 
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Vitória belga fará Brasil lembrar que está perdendo mais que no futebol

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bola
A partir de agora, para nós, brasileiros, “não vai ter Copa”.
Triste, mas não humilhante como aquele inexplicável 7 a 1 de 2014, a derrota da Seleção para os belgas, fez o país voltar, segunda-feira, à vida normal e, quem sabe, se “ligar” que, em outubro, estaremos jogando algo mais importante para a população, embora as eleições cada vez mais se pareçam com as desgraças do futebol, com a marquetagem tomando conta de tudo.
Dois anos de golpe e a interferência intolerável do Judiciário na política nos afastaram da ideia de que, tanto quanto o futebol se ganha no campo, governos se conquistam nas urnas. Afinal, desde o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, vêm sendo ganhos no “tapetão”.
E mais: como depositar esperanças numa eleição onde, ao que tudo indica, o favorito será impedido de disputar e até mesmo de apoiar ativamente um substituto, reduzido ao silêncio de uma cela?
Curiosamente, é também por isso que nenhum candidato decola. Como disputar com Sérgio Moro, Edson Fachin e outras togas o papel de anti-Lula?
Como vai se portar o povo brasileiro diante desta eleição onde não se escolhe?
Sobretudo, o que se passará com o povo brasileiro onde estamos proibidos de crescer, de termos empregos, de termos serviços públicos, de termos um papel no mundo que não seja o de receber carraspanas e desprezo dos EUA e dos países desenvolvidos?
Como no jogo de hoje, porém, há algo que diminui as dores da derrota: ter-se lutado.
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Entrega da Embraer à Boeing foi ótimo negócio. Para a Boeing, claro.

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devora
Não é nenhum jornal esquerdista ou nacionalista. É a Bloomberg, publicada por O Globo quem oferece a explicação, sob o título ” Saiba por que a Embraer é tão importante para a Boeing”:
“O acordo da Boeing com a Embraer é estratégico para a empresa americana não só porque amplia sua presença no exterior como também porque permite à empresa entrar no mercado de aeronaves de médio e pequeno porte. Além disso, reforça sua posição para competir com a europeia Airbus, num momento em que o duopólio das duas gigantes da aviação mundial começa a sofrer concorrência de rivais de Rússia, Japão e China. Além disso, ao acrescentar os jatos da família E da Embraer ao seu portfólio, a Boeing aumenta o arsenal para sua mais recente batalha com a Airbus: o mercado de aeronaves de 100 lugares. “
Mas não para aí o diagnóstico da agência norte-americana de notícias econômicas. Segundo ela, “a Embraer trará para a Boeing uma expertise em engenharia que a gigante americana poderá usar no projeto de seu novo jato comercial de médio porte, apelidado por analistas de 797.” Ou seja: a tecnologia gerada no Brasil será “chupada” pela gigante para produzir jatos de sua própria linha e não do simulacro de “joint venture” anunciado com a brasileira.

No comunicado das duas empresas, fica claro de quem será o comando: toda a área de avisação comercial será entregue e comandada deste os Estados Unidos, como registra o comunicado à CVM:
“(…)a joint venture na aviação comercial será liderada por uma equipe de executivos sediada no Brasil, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Muilenburg [Dennis Muilenburg, presidente mundial da Boeing].”
E quais são as alegadas “vantagens” para a Embraer?Ah,aproveitar a “força de vendas” da Boeing… Num mercado concentrado como o de jatos, que tem uma ou duas dezenas de fabricantes, que adquire aeronaves em escala global e não por proximidade e em se tratando de uma  empresa como a Embraer, com duas décadas como player ( e bem sucedida) no mercado mundial de aeronaves isso é ridículo.
Ah, sim, aponta-se como vantagem também o acesso a crédito mais barato (dá para entender agora o crédito do BNDES à empresa?) e a força do potencial dos EUA ao estabelecer (para si) e recusar (para os outros) proteções alfandegárias na exportação/importação  de aviões…
Fez, claro, um aparente “cercadinho” para a área de tecnologia militar. Bobagem e fantasia. Tecnologia de aviação civil e militar não se separam plenamente nuncae o efeito será apenas de reservar um espaço para brigadeiros aposentados e para alguns promissores engenheiros do ITA,  que desenvolverão, como um segredo de polichinelo nas redes da empresa, seus projetos, peneirados pelos norte-americanos em tudo que lhes possa ser promissor (ou perigoso) em sistemas de aviônica.
A queda de mais de 14% das ações da Embraer registrada hoje, porém, tem menos a ver com o mau negócio para a empresa e para o Brasil e mais com o fato de que, como a negociação só será concluída no próximo ano e o TCU ainda não votou – recorde-se do que se publicou aqui, há quase um ano, quando Henrique Meirelles propôs, em setembro do ano passado  a autorização para vender a “golden share” da empresa – a capacidade de o Governo brasileiro entregar, por dinheiro, a possibilidade de vetar um acordo tão lesivo ao país.
Temer, porém, está agindo vigorosamente para acelerar essa decisão.
Afinal, não é todo dia em que se pode entregar 50 anos de investimento do país em criar uma bem sucedida indústria aeronáutica.
Uma bobagem, para um país que deve é plantar soja, apenas.

RECADO PARA OS CONSUMIDORES...

O “mercado” quer seu selvagem e sonha com a “fadinha jantável”

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nean
Nesta surreal democracia brasileira, onde a turma da especulação acha que é (e por que não acharia?) dona da vontade do povo brasileiro e um grupo de investimentos, a XP (leia-se, Itaú) sente-se à vontade para, nas barbas da justiça eleitoral, emplacar pesquisas sobre quem o dinheiro quer a governar o Brasil, a mensagem é clara e apavorante.
Os pós-yuppies do dinherio, do alto de seus  emebiêis de bobagens, querem o Brasil governado por um brucutu, que mantenha a turba em ordem e até conte com, quem sabe, grupos de “marombados” para “dissuadir” os recalcitrantes que teimem em dizer que não concordam com a ideia de um Washington Luiz do século 21, que pudesse achar que “governar é distribuir porrada”.
Metade deles acha que Jair Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil, segundo publica o site Infomoney:
Para 49%, Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil. Em abril, 29% acreditavam nesta hipótese. Naquela época, liderava as apostas Geraldo Alckmin, com 48% dos apontamentos. As avaliações sobre a viabilidade eleitoral, contudo, mergulharam nos últimos dois meses. Agora 26% dos investidores acreditam que ele vencerá as eleições.
Como não é uma pesquisa de intenção de voto, mas a expressão do que deseja a “turma da bufunfa”, a favorita para “cumprir tabela” do segundo turno eleitoral é a “fadinha” Marina Silva, que pouco mais do que o trabalho de palitar os dentes dará ao capitão do mato.
Não é à toa que, no Facebook, o professor Gilberto Maringoni fala do entusiasmo do empresariado (empresariado?) brasileiro com a sua “solução final”:
Pouco importa se as mãos de quem dirigirá o país estiverem sujas de sangue, se há apologia de Brilhante Ustra, ou se há pregação misógina, homofóbica ou de ódio aos pobres. Isso é bobagem. Estamos falando de negócios.  E negócios são coisa séria!
Estão de parabéns os afetados juízes brasileiros, que conseguiram transformar a política em ante-sala de uma ditadura e num corredor sombrio para a volta à treva.
ESTRATEGIA

Na terra, mar e ar, vender o Brasil, e rápido, antes que acabe!

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kc390
Ontem à noite, o lixo majoritário na Câmara dos Deputados aprovou a venda de jazidas da Petrobras – nas áreas concedidas conhecidas como de “cessão onerosa”, por terem sido usadas na capitalização da estatal, em 2010 – no valor de cerca de R$ 100 bilhões, segundo estimativas dos jornais. Áreas “prontinhas”, sem risco, mapeadas sismicamente e com diversos poços exploratórios feitos com ciência, trabalho e dinheiro brasileiros, a garantir a quantidade e a qualidade do petróleo a ser extraído
Hoje de manhã, anunciou-se o que será a “nova” Embraer: 80% para a Boeing e um “tasquinho” de 20% para Embraer, além de uma sede no Brasil, para dar emprego a executivos e gerentes, enquanto a produção vai sendo espalhada pelo mundo, por onde melhor convier o preço e a capacidade da mão de obra. A “parceria” do elefante com a formiguinha, claro, vai se dar sobre os produtos concebidos e desenvolvidos aqui, como a bem sucedida linha de jatos médios E2,  a aviação executiva e o imenso potencial de mercado do transporte militar KC-390.
O Governo Michel Temer e as ratazanas políticas que ele reúne têm pressa. E, convenhamos, em matéria de lesa-pátria estão se saindo como um “Governo FHC concentrado”, com um grau de traição nacional extremamente elevado, nestes dois anos e pouco de golpe.
Que, afinal, fizeram para isso.
São negócios imensos, certamente com comissões a granel, enquanto nós discutimos a diferença de preço do apartamento do Lula. Ou melhor, “atribuído” a Lula, que jamais passou um dia lá, para gozar do banheirão identificado como piscina e da churrasqueira “gourmet” cuja triste imagem todos vimos.
Não há quem grite contra isso e, ainda mais vergonhoso, não há quem o faça nas Forças Armadas, empenhadíssimas em subir as favelas cariocas e em fazer de uma caricatura que bate continência à bandeira norte-americana o presidente da República.
Não importa que estejamos dizendo adeus não só a riquezas, mas também ao nosso potencial de desenvolvimento tecnológica.
Afinal, para quem quer ser brucutu, tacape basta.

“Camisa-de força” do novo presidente não será a economia, mas a legitimidade

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camisadeforca
Diz hoje o UOL, em extensa reportagem, que “tempos piores virão”, porque o “próximo presidente assumirá cargo imobilizado por déficit fiscal e terá mandato ameaçado pelo teto de gastos”.
Escreve o jornalista Aiuri Rebello:
Seja quem for o próximo presidente –também não importando sua orientação partidária nem se é liberal ou conservador–, não terá dinheiro para nada. Pode incluir nessa lista grandes investimentos e também as promessas da campanha  eleitoral. A partir de 1º de janeiro de 2019, o principal trabalho do novo ocupante do Palácio do Planalto será gerir uma conta corrente negativa de R$ 139 bilhões, também conhecida como déficit fiscal, e tentar colocar o Brasil para crescer de novo. O novo presidente também assumirá o mandato sob ameaça de cair (…)
Lista, a seguir, “ameaças”: déficit fiscal, os juros da dívida, os custos da Previdência e o teto de gastos, além de um “pacote de bondades” em reajustes de vencimento das carreiras mais bem pagas do funcionalismo. prometido, dado e adiado por Michel Temer para o ano que vem.
É uma obviedade o diagnóstico, mas o tratamento que a maioria dos economistas e dos candidatos a Presidente propõe é de um um simplismo tão imbecil quanto cruel: cortar. Cortar na Previdência, cortar no tamanho do Estado, cortar nos serviços públicos e cortar, claro, na corrupção,  como se  fosse isso a razão dos déficits e, sobretudo, como se ela fosse acabar por decreto.
Falta, porém, um elemento chave para que tudo possa ser compreendido. O próximo presidente assumirá, mantidas as condições atuais – aquela a que nos levaram a mídia e o Judiciário “morolizado” – com pouco ou nenhum dinheiro nos cofres mas, também, com pouca ou nenhuma legitimidade, escolhido por um processo eleitoral deformado, onde o franco favorito é extirpado da disputa.
O que falta no diagnóstico falta na terapêutica capaz de reerguer o Brasil.
Um presidente, para guiar o país na saída do despenhadeiro da crise precisa da credibilidade e da confiança da população. Está aí Michel Temer para provar que, sem elas, tudo o que se fizer dará com os “burros n’água”.
E uma água que está e estará infestada de crocodilos togados.
E é por isso que, carente de legitimidade, não haverá quem possa reverter nossa situação e é igualmente por isso que os “dream teams” de economistas que os presidenciáveis desfilam aos empresários e eleitores são apenas o prenúncio de pesadelos.
Os “iluminados da competência” gostavam de debochar de Leonel Brizola quando este dizia que “os recursos não estão nos cofres, estão na cabeça dos governantes”. Tal como debocharam de Lula ao dizer, em 2008, em meio à crise mundial, que o “tsunami” se tornaria, nestas bandas, uma “marolinha”.
Nossa classe dirigente não consegue entender que o povo, no Brasil, não é o problema, mas a solução.

Condenação por Herzog não é ao Brasil, é ao STF do Brasil

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herzog
A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou hoje  o estado brasileiro pela morte do jornalista Vladimir Herzog, cujo assassinato, depois “maquiado” como um “suicídio” por um laudo cadavérico mentiroso e criminoso.
É preciso, porém, ver que nosso país não foi condenado por ter tido uma ditadura brutal, até porque dela fomos vítimas indefesas.
A sanção imposta ao Brasil foi por não ter havido “investigação, de julgamento e de punição dos responsáveis pela tortura e pelo assassinato do jornalista”.
E isso é resultado da fatídica decisão do Supremo Tribunal Federal. no dia 29 de abril de 2009, quando sete ministros –  Cármen Lúcia Antunes Rocha e Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso – contra o voto de apenas dois (Ricardo Lewandowski e Ayres Britto).
Ali, decidiu-se que os crimes da ditadura, do ponto de vista penal, estavam prescritos, apesar dos acordos internacionais de que o Brasil já era signatário que consideravam a tortura um crime imprescritível.
É, portanto, ao Supremo Tribunal Federal que cabe a vergonha desta condenação.
O mesmo Supremo que assistiu silente o golpe de 2016 e, agora, assiste a matilha midiático-judicial tornar as eleições de presidente um pastiche de democracia.