sábado, 11 de abril de 2009

CRÔNICA DO MÊS DE MARÇO DE 2009

TÍTULO DA CRÔNICA: "UMA CONVERSA DE MUITOS ANOS"

AUTOR: Fernando

O tempo passa, já são vinte e um anos de encontros. Encontros marcados pela luta de manter viva à vontade de viver com qualidade. E qualidade é, e sempre foi, a palavra de ordem para os valores e aspectos humanísticos que sempre cultivamos.
Ética, lealdade, honestidade e amizade são aspectos vivenciados em filosofias, que ajudaram a manter o grupo numa perspectiva duradoura. Nascemos no final da década de 1980. Era março de 1988, quando a promulgação da constituição brasileira enche de esperança essa mesa de bar. Mas nossa mesa não é qualquer mesa, ela é aquela cantada por Gonzaguinha: "Mesa de bar é lugar para tudo que é papo da vida rolar/Do futebol até a danada da tal da inflação/É coração, fantasia e realidade/Mesa de bar/É onde se toma um porre de liberdade/Companheiros em pleno exercício de democracia."
Apostamos na liberdade que nascia com os ideais da estrela branca mergulhada no vermelho-sangue, sangue do povo brasileiro.
Ah, A mesa discutia o nascimento da política Neoliberal... a queda do muro de Berlim... e comparava tudo isso com uma amarga cerveja quente. Lamentamos e repudiamos as normas oriundas do "Tio Sam". O final dos anos 80 chega na nossa mesa também com alegria, alegria da confraternização do Rock Nacional, da liberdade conquistada e refletidas nas letras e melodias, alegrando nossas tardes de sábado.
Entramos nos anos 90 e os assuntos da pauta nos finais de semana estavam repletos de grandes conflitos, de grandes decepções nacionais. Os governos tidos como liberais que nasciam no Brasil, viviam sobre planos econômicos, que na maioria deles, inflacionavam tudo, inclusive o mercado cultural da música. Achava-se um jeito para adquirir grandes trabalhos da MPB, foi importante neste momento histórico, conhecer grandes nomes, ouvir, discutir e posicionar-se diante do que era colocado à mesa.
Os anos 90, mas especificamente em 1994, em nossa mesa ocorre o concenso de que a copa do mundo de 94 encerra de vez o futebol arte e inicia-se o futebol de força, brucutu, futebol "dunga". Deixamos o futebol de lado, que temos assuntos mais importantes para discutir: o processo de globalização toma conta do mundo, e emerge a grande discussão da cultura mundial, a resistência da cultura local, frente ao novo modelo sociocultural, a luta das minorias, a massificação cultural, o processo de idiotização, a contracultura foram temas que estiveram presentes em nossa mesa, gerando debates e grandes discussões.
A música continua sendo o tema principal de nossas conversas. Aparece por aqui o "CHAMA"(Chapada Musical do Araripe), pensávamos que seria o inicio de uma nova era musical para a cidade, primeiro passo de um trabalho para o incentivo à musicais de qualidade. Não fomos mais "chamados". Depois disso, repudiamos uma febre que estava nascendo, contaminando principalmente as novas gerações, deformando melodias, jovens e a identidade de nossa região. Concomitantemente, surgem grandes nomes da música regional, com grandes trabalhos, desmascarando os pseudoforrós. Nessa mesa a Bossa Nova ainda faz sucesso, dando sabor e conservando o "bom gosto" assim como o lúpulo o faz com a cerveja.
Chegamos ao século XXI com a esperança que a nossa mesa de bar teria muitos assuntos a discutir e debater. Um ex-sindicalista, conterrâneo, assume a presidência da república, e dá um novo rumo as questões sócioeconômicas, políticas e culturais, gerando assim um leque de comentários para muitos sábados. Posicionamos contrários a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, parecia que eles haviam invadido nossas casas. Aumentava à aversão do mundo com os povos norte-americanos, na nossa mesa, elogios, somente para grandes nomes da sua cultura que se posicionava contrário ao genocídio. O desenvolvimento sustentável, o racismo, a xenofobia, os trangênicos, a violência, a música popular, a queda do império W. Bush, a informática, as mulheres, a qualidade da cerveja, tudo isso está presente na mesa do novo século.
Estamos amadurecidos e cientes do nosso compromisso com o mundo, na busca, e na luta por grandes valores pautados na amizade, como também, cientes de que podemos fazer um mundo melhor. Os textos, os filmes, os programas, os jogos, as músicas, os comentários, sejam peças importantes no desenvolvimento do senso crítico de cada um, na busca da investigação, interpretação e transposição das idéias, ajudando assim no crescimento de todos, modificando conceitos, quebrando tabus, e que a cerveja, o vinho, a música, sejam sempre brindados na ância da paz, da harmonia e da felicidade de todos.


OBS: Esta crônica foi feita em homenagem à confraternização dos 21 anos da Turma do Zé Pajé, comemorado em Março de 2009.