sábado, 6 de abril de 2019

O “acordão”: Bolsonaro tuíta, o Congresso governa

Tales Faria, em seu blog no UOL, diz que “os encontros que presidente Jair Bolsonaro começou a realizar com presidentes de partidos políticos chegou tarde e já não terão o efeito esperado: de trazer as legendas para a base de apoio do governo no Congresso”.
Tem razão e tem razão nas observações que faz a seguir, de que Câmara e Senado tomaram o freio nos dentes e prertendem transferir o centro das decisões  para o Congresso, numa espécie de “parlamentarismo branco”, de fato.
Não se interessam por partilha da máquina administrativa pois, relata Tales, “pois não acreditam que venha nada de significativo do Planalto”.
Que este parece ser o roteiro, é cada vez mais evidente.
A pergunta obrigatória, a seguir, é se este país pode funcionar nesta situação esdruxulamente hibrida, onde o parlamento legisla como quer e o governo não governa, como quer o presidente da República, que parece mais interessado em tuitar pautas morais, ocupar-se com a desativação dos radares nas rodovias e discutir a orientação ideológica do nazismo.
Depois de quatro anos de retração ou estagnação econômica, isso pode funcionar?
Há quatro anos começaram-se a desmontar as políticas públicas. Ainda com alguns limites na era Joaquim Levy do segundo governo de Dilma Rousseff, de lá para cá o que aconteceu foram retrocessos, restrições, paralisação de obras e nenhuma – nenhuma! – diretriz econômica que não fosse o puro corte de investimentos.
Os deputados e senadores podem ser bons para criar despesas, como nunca o serão para cortar.
Mas sem um governo sem comando, nem estas serão implementadas com um mínimo de eficiência.
O Brasil corre o risco de virar um grande MEC.

Confirmado: Olavo entrega a Educação e leva a Comunicação

No café da manhã com jornalistas, Jair Bolsonaro confirmou o que, mais cedo, já se tinha noticiado aqui: que o cadáver do ministro da Educação, Ricardo Velez, permanecerá em câmara ardente durante o fim de semana e será sepultado na segunda-feira.
Entregues seus despojos por Olavo de Carvalho, o guru leva em troca a área de Comunicação, para qual aprovou a indicação, dias atrás,  de Fábio Wajngarten para dirigir a Secom.
Quem acha que a ofensiva publicitária de Jair Bolsonaro ia ficar apenas nas mídias sociais se prepare porque, ao contrário do antecessor Floriano Amorim, Fábio vai botar dinheiro no uso da mídia convencional.
Vélez dedica-se, no momento, ao seu último mico: o de dizer que permanecerá no cargo e não se demitirá.

A era @Goebbels, a mentira de ser repetida não mil, milhões de vezes

A revista Veja desta semana traz uma longa reportagem sobre a única atividade em que Jair Bolsonaro e prole apresentam um desempenho excepcional.
“Desde a posse, em 1º de janeiro, até a última quarta, 3 de abril, o presidente, de acordo com a consultoria Bites, assinou 781 posts no Twitter, uma média de 8,39 por dia. O resultado quase dobra quando são somadas as publicações no Facebook e no Instagram — um total de 1 524 mensagens, o que dá em média 16,3 textos diários.”
Os filhos Carlos e Eduardo – Flávio anda ocupado em não deixar digitais na laranja e fez apenas 66 postagens neste ano – têm desempenho semelhante.
Tudo amplificado por uma máquina de propaganda que a nossa valorosa Justiça faz questão de não ver:
(…) o laboratório de estudos de rede NetLab, da UFRJ, levantou os perfis que mais apoiaram e passaram adiante mensagens de apoio ao presidente através de hashtags no Twitter entre 21 e 29 de março. A conclusão: dos vinte cam­peões de postagens pró-­Bolsonaro, seis eram claramente robôs e outros nove apresentavam movimentação altamente suspeita. O exército robotizado faz as postagens de Bolsonaro chegar a um público maior que os seus 26,9 milhões de seguidores nas redes sociais.
É a lição de Joseph Goebbels  posta em prática, agora em tempos cibernéticos:
“A essência da propaganda é ganhar as pessoas de uma forma tão sincera, com tal vitalidade que, no final, elas sucumbam a esta ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas com as suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito, mas este deve tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito nem o percebam (…)A propaganda jamais apela à razão, mas sempre à emoção e ao instinto.”
Eles não vão parar e nem mesmo amenizar o tom com que fazem sua máquina de propaganda funcionar. Se permitirem que as pessoas pensem, estão perdidos. O estado de guerra deve ser mantido permanentemente.
VAGINA

Reduzir a pobreza à metade: por isso Lula está preso

Os dados são do Banco Mundial, insuspeitos.
As políticas econômicas de Lula e seu reflexos continuados no primeiro governo Dilma reduziram à metade a pobreza no Brasil.
No segundo, depois que ela teve de engolir a mesma política restritiva que segue vigindo no Brasil, ela voltou a aumentar.
É algo tão gigantesco que explica porque fazem questão de mantê-lo num cubículo.
Não é a ele que prendem.
É ao que ele fez, e não foi por, alegadamente e sem prova, dizer que ele recebeu um apartamento.
20% de 210 milhões de brasileiros fora da pobreza são 40 milhões de pessoas, a população da Argentina inteira.
No lugar dele, pusemos um imbecil, cuja primeira providência é propor que idosos desvalidos recebam 400 reais por mês.
Pior que a crueldade, só mesmo a vergonha.
SANTOS1

A gambiarra de Bolsonaro

No dia em que a perícia revela que foi uma “gambiarra” elétrica a causa do terrível incêndio do Museu Nacional, assistiu-se à instalação de uma “gambiarra” política no Palácio do Planalto.
Os encontros entre Jair Bolsonaro e os líderes dos partidos do Centrão é daqueles em que se poderia dizer: “fiz a ligação, mas não garanto que vá aguentar”.
Para aprovar a reforma na Comissão de Constituição e Justiça, algo mais rápido e de baixa tensão, é possível e até provável que aguente.
Mas todo mundo sabe que para a alta tensão e os dois meses, quase, da Comissão Especial da Previdência, os fios emendados depois de xingamentos e, sobretudo, da exclusão daqueles partidos da montagem do governo (exceção ao DEM, que é de uma cepa resistente a quase tudo) não suportam a carga.
O deputado Arthur Maia, do DEM e relator da tentativa de reforma de Michel Temer disse a Miriam Leitão que há uma conta presente na cabeça dos parlamentares: “dos 23 deputados que votaram a favor da proposta na Comissão Especial em 2017, só quatro foram reeleitos, dos 14 que votaram contra, 10 voltaram”. Um dos quatro que voltaram foi ele próprio, ainda assim perdendo votos em relação a 2014.
Isso, claro, importa muito mais que posições “de princípio”. E os parlamentares sabem que é preciso ter com que compensar o desgaste que sofrerão. E não será com a popularidade de Bolsonaro, que segue caindo e é das mais baixas  já registrada para um presidente na fase inaugural de seu mandato.
Essa história de que “conselhos políticos” e “diálogo” vão suprir as garantias de participação do Centrão no governo é como aquela velha frase de parachoques de caminhão: “Amor é lorota; o que manda é a nota“.
Pois isso, a declaração do presidente de que “caiu do cavalo” quem esperava que houvesse cargos neste entendimento é uma advertência a ele próprio, que cairá do cavalo se achar que abraços e sorrisos são o suficiente para garantir o circuito que pensa ter montado para ter apoio parlamentar.
Bernardo Mello Franco, em O Globo, diz que há problemas de confiança graves, pelos ataques que Bolsonaro fez aos representantes da “velha política” a quem fez salamaleques ontem: “o presidente inverteu o poema de Augusto dos Anjos: a mão que apedrejou é a mesma que afaga”, e que ninguem sabe o que essa mão fará amanhã.
Talvez, Bernardo, valesse lembrar outro dos versos de Augusto dos Anjos nos mesmos Versos Íntimos: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro”.
É isso que assombra os deputados, assim que entregarem seus votos.

Governo à ONU: 64 foi da ‘maioria do povo’. Ibope mostra o contrário

O Governo brasileiro mandou a Fabian Salvioli, relator especial da ONU sobre Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não Repetição telegrama dizendo que, em 1964, “não houve um golpe de Estado, mas um movimento político legítimo que contou com o apoio do Congresso e do Judiciário, bem como da maioria da população”.
Não dá nem para discutir o resto da delirante e estúpida manifestação do Itamarati.
Fiquemos na “maioria da população”  estar apoiando o golpe ou o tal “movimento político legítimo”.
O Ibope fez duas pesquisas, em fevereiro e no final de março de 1964. Poucos dias antes do 31 de março/1° de abril, portanto.
Faça um esforcinho, porque o material não está com boa qualidade no acervo digital da Folha, onde foi publicado na página F1 da edição de domingo, 9 de março de 2003.
O governo que foi derrubado tinha classificação de ótimo ou bom para 45% dos entrevistados e 16% de ruim e péssimo. Bem mais do que tem Jair Bolsonaro: 34%  de aprovação e 24% de rejeição, segundo o mesmo Ibope.
Só 14% achavam que Jango queria dar um golpe de Estado, o que acredito que vá dar mais se perguntarem o mesmo sobre o atual Presidente.
Se Jango pudesse ser candidato – ao que nunca se lançou – metade dos brasileiros (49,8%) estava disposta a dar-lhe o voto.
69%, radical ou moderadamente, apoiavam as reformas de base; 67% defendiam a reforma agrária, as principais bandeiras do trabalhismo e da esquerda.
E, afinal, 90% dos brasileiros queriam a eleição presidencial de 65, que a ditadura cancelou.
Maioria da população querendo golpe? Onde, sr. Bolsonaro?
Esta conversa só existe porque a mídia – esta, sim, querendo o golpe – usou as manifestações da direita para simular uma maioria golpista e repetiu a patranha durante mais de 30 anos. Para ela, aliás, o mundo se resumia e se resume à Zona Sul do Rio e aos Jardins paulistas.
Sugiro à Folha que, em lugar de ficar nestas discussões inócuas sobre “foi ou não foi”, recupere a pesquisa que publicou e, até, a disponibilize para que possa, também, ser enviada para a ONU.
Contra os delírios, o melhor remédio são os fatos.
Satanas

Maria Cristina Fernandes: bom não se cumprirem as promessas dos 100 dias

Maria Cristina Fernandes, no Valor, mostra um balanço das promessas de 100 dias de governo feitas por Jair Bolsonaro.
Metade (17 de 35) nem foi tocada e só sete – a maioria meramente declaratória – foi cumprida.
Mas, diante da natureza das promessas, a jornalista chega à conclusão de que, ainda bem, a maioria delas não saiu do papel.