sábado, 13 de julho de 2019

Greenwald ao “WP”: “mesmo que me prendam, publicarei tudo”

Com chamada na capa, o Washington Post traz hoje reportagem de seu correspondente no Brasil, Terence McCoy, contando o que vive o jornalista Gleen Greenwald, sofrendo as ameaças “semioficiais” com que Sérgio Moro insufla os bolsonaristas.
Enquanto eles acham que podem calá-lo com meia dúzia de rojões e uma caixa de som em Paraty, o caso vergonhoso para o Brasil se espalha pelo mundo.
E Greenwald é claro: mesmo que o prendam, publicará todo o material das promiscuidades de Curitiba.

Glenn Greenwald já enfrentou dificuldades
para ser reporter antes. Mas não assim.

Terence McCoy, no The Washington Post
RIO DE JANEIRO – Glenn Greenwald ficou nervoso. Ele tinha outra grande história em andamento, e a atmosfera em torno de seu escritório em casa era frenética: cachorros latindo, 27 câmeras de segurança filmando, grandes homens armados de guarda.
Durante semanas, de uma casa transformada em um bunker, Greenwald publicou alegações lançando dúvidas sobre a imparcialidade da investigação de corrupção que levou à prisão do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e contribuiu para a ascensão do presidente Jair Bolsonaro.
Em dois dias, ele publicaria outra história alegando que o juiz que supervisionou o caso de Lula, Sérgio Moro, herói nacional no Brasil por seu papel na corrupção, havia conspirado com promotores para condená-lo.
“Este material vai sair”, disse ele. “Mesmo que eles me ponham na prisão.”
A perspectiva parecia real o suficiente. Greenwald, o jornalista norte-americano polarizador que ganhou proeminência relatando os programas de vigilância do governo dos EUA expostos por Edward Snowden, havia prometido meses de histórias – um constante vazamento de vazamentos que poderia pôr em perigo a agenda de Bolsonaro. Alguns membros do Congresso pediram sua deportação. Outros o acusaram de cometer um crime. Ameaças de morte estavam rolando.
Mais recentemente, a Polícia Federal, comandada por Moro, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, começou a investigar as finanças de Greenwald em uma investigação que os defensores da imprensa vêem como uma tentativa de silenciá-lo.
As ameaças públicas contra Greenwald representam um teste inicial para o Brasil sob Bolsonaro, o ex-oficial militar de direita que ganhou a presidência no ano passado com apelos ao nacionalismo, homofobia e nostalgia pela ditadura militar de duas décadas do país.
Este governo tolerará denúncias prejudiciais de um jornalista gay? Ou será que vai silenciá-lo, confirmando os temores do potencial de autoritarismo de Bolsonaro?
“Há todas essas perguntas ocultas que encontraram um veículo para expressão nesta história”, disse Greenwald. “É mais do que apenas Sérgio Moro. É sobre o tipo de governo que vamos ter.”
Greenwald mudou-se para o Rio em 2005, depois de conhecer o homem que se tornaria seu marido durante as férias aqui. Na década seguinte, ao abordar questões americanas de longe, ele construiu uma vida brasileira. Seu marido, David Miranda, é um membro socialista do Congresso. Eles adotaram duas crianças brasileiras e abriram um abrigo para cães. Eles agora vivem em uma casa cavernosa, construída em torno de uma pedra gigante, em uma rua arborizada em um condomínio fechado perto de uma montanha.
Suas reportagens e opiniões polêmicas há muito tempo atraem fãs nos Estados Unidos – e também críticos, alguns dos quais ele atacou ferozmente online: “You idiot” é o epíteto favorito no Twitter.
A partir de 2016, no entanto, que ele se tornou uma figura polarizadora também no Brasil. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, sucessora ungida de Lula, estava cortando o país em linhas partidárias. Greenwald começou a escrever colunas em português que criticavam os procedimentos. Eles encontraram uma audiência enorme, convencendo-o de que havia espaço aqui para um site de notícias investigativas.
O Intercept Brasil, lançado em agosto de 2016 como um desdobramento da organização de notícias on-line Greenwald co-fundada dois anos antes, juntou-se a uma indústria de mídia que logo seria prejudicada por uma campanha política polarizada, a prisão de Lula e a ascensão de Bolsonaro. O candidato de direita fez ataques à grande mídia um pilar de sua campanha.
“Bolsonaro usa Trump como modelo”, disse Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas, em Austin. “Parte do trumpismo está atacando a imprensa e tendo a imprensa como inimiga. Bolsonaro tentou jogar pelo mesmo manual.
Os partidários de Bolsonaro perseguiram e ameaçaram os verificadores de fatos, dizem os defensores da imprensa . A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo contou quase 62 casos de agressão física contra jornalistas em 2018 em um contexto político.
“O fato de que tivemos que criar um levantamento sistemático de instâncias – uma necessidade que não havia sido percebida até então – mostra que a última campanha foi atípica”, disse a gerente executiva da organização, Marina Iemini Atoji.
Quando Bolsonaro ganhou a eleição, o Repórteres Sem Fronteiras, em Paris, chamou-o de “Uma séria ameaça à liberdade de imprensa e à democracia no Brasil”.
Foi nesse contexto, diz Greenwald, que uma pessoa – ele se recusou a dizer quem – entrou em contato para oferecer informações que enviariam tremores através da ordem política.
Uma figura central no arquivo de materiais que obteve foi Moro, uma das pessoas mais populares do Brasil, visto por muitos como um defensor da probidade pública.
A primeira história do Intercept, publicada no início de junho, desafiou essa narrativa. Alegou que Moro havia trabalhado de forma inadequada com promotores federais para prender Lula, o líder nas eleições presidenciais, limpando o caminho de Bolsonaro para a presidência. Moro negou ter cometido erros.
O relatório gerou respostas que refletiram as divisões do país. Embora a maioria tenha desaprovado suas alegadas comunicações com os promotores durante a investigação “Lava Jato”, as pesquisas mostraram que a maioria continua a apoiá-lo. E Greenwald, que nunca escondeu seu desdém por Bolsonaro, viu-se diante de uma acusação que ouviu antes : que ele é menos um jornalista do que um ativista.
“Ele está muito claramente posicionado no Brasil”, disse Oliver Stuenkel, professor assistente de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. “Muitas pessoas dizem que ele tem uma agenda e ele não é objetivo”.
Logo a história se tornou tanto sobre Greenwald – sua sexualidade, seu casamento com um homem brasileiro, sua condição de estrangeiro – quanto sobre as alegações que o Intercept publicava.
Carlos Bolsonaro, o filho do presidente, divulgou teorias de conspiração e insinuou chamar de “menina” o marido de Greenwald . Uma petição online para a deportação do jornalista acumulou quase 100.000 assinaturas. Mensagens homofóbicas atravessaram as mídias sociais. Moro disse que o Intercept foi “aliado” de “hackers criminosos”.
Na semana passada, o site Antagonista, que tem uma reputação no Brasil como anti-Lula, informou que a polícia federal estava investigando as finanças de Greenwald. As autoridades recusaram-se a confirmar ou negar uma investigação.
“Nossa constituição é muito dura na defesa da liberdade de expressão e imprensa”, disse Leandro Demori, editor executivo da Intercept Brasil. “Mas as nossas instituições são fortes o suficiente para proteger a constituição? Acho que não. Eu realmente não sei. Estamos com medo.
Greenwald está inclinado a concordar. Ele sofreu ameaças e denúncias após as revelações de Snowden. Mas isso parece diferente, ele disse. É mais pessoal.
“Com Snowden, eu era apenas o repórter”, disse Greenwald. “Neste caso, não há fonte identificável, então eles me identificaram pessoalmente, como se eu fosse a pessoa que pegou o material.
“Eu sou um bom alvo. Sou estrangeiro. Eu sou gay. Sou casado com um político socialista.”
Ele olhou para fora por um momento, onde tudo era sol e folhagem. Ele diz que o Brasil ainda é “paraíso”. Mas além das árvores havia muros de concreto, agora recém-fortificados com espirais de arame farpado eletrificado. Atualmente, ele raramente se aventura além de sua barreira, ele disse, por medo de assassinato.
Ainda assim, ele não tem planos de sair.
“Eu não vejo o Brasil como um lugar estrangeiro”, disse ele. “É a minha casa.”
INDIGESTO

A milícia escala o Planalto. Por Nílson Lage

A última campanha eleitoral levou ao governo do Estado do Rio de Janeiro uma estrutura de poder marginal com traços tipicamente cariocas, a milícia, e a alçou ao mais elevado nível decisório da República.
O nome não diz bem o que é a coisa: trata-se de um efeito da disputa contínua — tanto bélica quanto diplomática — entre policiais e traficantes (uns com os outros e entre si) pelo controle e pacificação de grandes concentrações urbanas irregulares. Resulta tanto do culto dos super-heróis acima da lei quanto da tentativa de uma sociedade radicalmente liberal conviver com outra, radicalmente repressiva.
A milícia é grosseira e inculta. Dá-se bem com o funk e o sertanejo universitário — mundialização do folclore e expressão lustrada do atraso dos cafundós. Atende à solução fácil de quem busca culpados para problemas de solução difícil, mas antecipa, talvez, a era sem estados e política visível — o controle impessoal que dirigirá os homens por aplicativos, tornando-os livres como pedras que rolam no rio, as maiores por cima das menores.
Tudo começou quando soldados de regimentos baianos oriundos da campanha contra a cidadela de Canudos foram trazidos ao Rio de Janeiro, no final do Século XIX, e acantonaram com suas famílias na encosta do Morro da Providência, junto ao Quartel General, hoje comando do I Exército. Nascia a favela, filha da República que cresceria com a especulação imobiliária e, na raiz, a desigualdade entre regiões do país e o empobrecimento de áreas rurais próximas da metrópole. Sua multiplicação e expansão estimularam o racismo entre os mais ricos e ilustrados — os que se imaginam brancos. Sobrevive de servir à cidade; distribuir drogas no varejo é um dos serviços mais lucrativos que presta.
Presa em armadilha, na fronteira entre dois mundos que se estranham, a polícia negocia, em cada comunidade, com o poder local, exercido pelos traficantes; quando o varejo do tráfico se organiza em estruturas maiores, a negociação se eleva do pelotão à companha, desta ao batalhão, ao comando ou ao governo do Estado, como em São Paulo. O entendimento padrão é liberar o tráfico em troca da paz no entorno urbano. De uma forma ou de outra, corre dinheiro em tais ajustes.
A aceitação desse mecanismo, no Rio de Janeiro, apoia-se na tradicional convivência da população com o jogo do bicho, promoção inventada para financiar um jardim zoológico privado e que gerou complexo de operações bancárias extralegais de alta confiabilidade pública e difusão nacional. A ilusória repressão a essa contravenção — e as vantagens de tolerá-la — é o modelo copiado nos acordos entre polícia e tráfico. Um ex-oficial do Exército e próspero banqueiro do jogo, o Capitão Guimarães (Aílton Guimarães Jorge), é uma espécie de patrono desses ajustes.
Em tais circunstâncias, era previsível que a organização policial se desdobrasse formando grupos paralegais com pessoas afins — militares reformados ou dispensados do serviço, alcaguetes, valentões — para a conquista do espaço que a lei não lhe permite ocupar e dos lucros de toda sorte de atividades nas áreas faveladas, da construção civil e incorporação de imóveis ao fornecimento de luz, gás, televisão por cabo e transporte, além da cobrança de taxas de segurança … e, afinal, da exploração do tráfico.
Como toda organização criminosa de porte, as milícias cuidam de se infiltrar no poder político e associar-se a máquinas ideológicas que exercem o controle psicossocial da comunidade excluída. Quando se trata de perpetuar a exclusão em massa, a solução que mais atende aos interesses dominantes é a sublimação pela fé — dai a associação histórica entre religiões e impérios. A violência é subsidiária e eventualmente, os que a aplicam, como os melhores ginetes, tomam as rédeas nos dentes.
A política, no Brasil, de faz com dinheiro e se beneficia do instrumento de fraude e coerção de que as milícias dispõem — estão aí os casos do Queiroz e da vereadora Marielle; as igrejas de confissões evangélicas neopentecostais oferecem ampla oportunidade de legalizar fundos arrecadados fora das normas legais, porque não pagam impostos e recebem muitas doações voluntárias não declaradas.
Armou-se, assim, a equação que domina a cidade do Rio de Janeiro desde que se sufocou a onda de idealismo cuja mais típica expressão foram os Cieps, o Sambódromo e a ordem dada aos policiais para que, diante da porta de um barraco, pedissem “Por favor, dá licença?” — coisa que causa estranheza não só na burguesa Gávea Pequena ou no Recreio dos Bandeirantes, mas também na Tijuca dos coronéis e até no Méier. dos quase proletários.
sucesso

A contramão da História

É viável transformar o Brasil num país ridículo, na contramão do mundo, onde se exerce o poder a partir de um clã familiar, onde o moralismo (inclusive o sexual) se impõe como política de governo, onde situação econômico-social seja um individualíssimo “salve-se enquanto puder” e, como é visível, regresse a um estágio colonial, sem nenhuma pretensão ao desenvolvimento próprio?
Qualquer pensamento minimamente lúcido perceberá que esta é uma marcha contra o tempo e que, portanto, não pode avançar permanentemente contra ele.
A formação de uma crosta fanática e violenta na sociedade não tem a capacidade de oferecer soluções ao país. Nem mesmo um surto de reativação da economia, pela conjuntura mundial, parece, a esta altura, algo provável.
Sobra, a ela, um discurso e prática autoritários, que se espalha pelas instituições da República.
A demonização dos governos de esquerda – que, aliás, coincidiu com a adoção de políticas contracionistas como desde então temos – é, a rigor, ainda o único programa que a une e mobiliza.
Isso tem validade e ela está vencendo, a cada dia.
É duro suportar isso, porque se faz à custa de queimar gente, de juncar as calçadas de miseráveis, em voltar às cenas de crianças brotando como heras entre os carros nos sinais.
Os portugueses, na era das grandes navegações, chamavam de “a volta do mar” a rota que os afastava do litoral africano para escapar à corrente de Benguela, que, afinal, os trouxe até o Brasil.
Por vezes, um país afastar-se de seu destino é o caminho para chegar a ele.

Huck, volte para seu caldeirão de dinheiro

Como cidadão, Huck tem todo o direito de pretender que os brasileiros trabalhem até a morte, que recebam menos que receberiam pelas regras atuais (mesmo ganhando quase nada acima do mínimo), pode ser a favor que as viúvas recebam menos que o salário mínimo se tiverem uma renda qualquer, mesmo que seja de quatrocentos ou quinhentos reais.
É típico de quem vive no seu mundo dourado, louro, de finas roupas, carros caros, lanchas suntuosas, verdadeiros iates, até de jatinho comprado com financiamento do BNDES, como é o dele.
Mas não tem o direito de se intrometer na vida interna dos partidos, nos quais se entra sabendo o que pensam e subscrevendo um programa e um código de ética e disciplina partidárias.
É muito mais democrático que o seu “Caldeirão”, Huck, onde você pune, afasta ou demite simplesmente pela sua vontade, porque ao menos nos partidos há regras, processos internos, direito de defesa e decisão coletiva para decidir se alguém deve ou não continuar ali.
O “compromisso cívico” que Huck alega estar acima dos partidos não esteve, para ele, acima dos seus contratos com a Globo nem com os patrocínios de anunciantes de sabão, bancos, corretoras e pílulas de vitaminas. É seu direito fazer essa opção e se compreende como dinheiro e luxos são sempre mais atraentes.
Tanto são que Huck pode dispor dele para montar “cursos” e “bolsas” para futuros candidatos que de seus “institutos” espalham pelos partidos e elegem.
Seria melhor que Huck fizesse política com seu próprio rosto, não através de prepostos. Eles, porém, tem a vantagem de serem descartáveis, como foi seu “amigão” Aécio, rapidamente apagado de suas redes sociais.
Se o fizesse, que bom que pudesse, na televisão, defender 40 anos de contribuição, pensões de 500 reais, retirada do abono anual…

TESTE

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Doria tem razão: Tábata é a sua cara

Deve-se admitir: pouca gente tem tanta “autoridade imoral” para falar em traição quanto o governador de São Paulo, João Doria Junior.
É bom que se lhe dê ouvidos quando diz, como registra a Folha, que a deputada Tábata Amaral “é rosto, alma e coração do novo PSDB”.
É mais que isso, é a cara dele, Doria, caso em que não cabe falar de “alma e coração”, pois seria uma discussão sobre o nada.
Valeu-se do sucesso pessoal para ingressar num partido político, eleger-se e, ato contínuo, agir contra ele.
Não me cabe opinar sobre o que deve o PDT fazer, embora seja pouco prudente criar víboras na própria casa.
Elas podem ser encantadoras, mas são mortais.
O cerco às ilegalidades cometidas pela Lava Jato continua se fechando, sempre muito lentamente.
Hoje, é a vez de Veja revelar que as comunicações promíscuas entre juiz e promotoria aconteciam também no TRF-4, tribunal revisor das sentenças de Sérgio Moro na 1a. instância.
Em diálogo revelado na revista Veja, o procurador Deltan Dallagnol, da Força Tarefa, diz ao procurador junto ao tribunal superior, Carlos Augusto da Silva Cazarré, que – segundo ele em “encontros fortuitos” – teria antecipado o seu voto num recurso do doleiro Adir Assad e informado ao MP que “achava as provas fracas”:
“O Gebran tá fazendo o voto e acha provas de autoria fracas em relação ao Assad”.
Diz a Veja:
Naquele momento, em paralelo, a força-tarefa negociava com o condenado um acordo de delação (esse acordo seria fechado em 21 de agosto de 2017). Daí a preocupação do MPF com a possibilidade de Assad ser absolvido e voltar atrás nas conversas sobre delação.
Ou seja, absolvido, Assad não teria mais razões para ser delator.
Meses depois, Gebran confirmou a sua condenação, usando na sentença, como prova, o conteúdo de outra delação, fechada depois de Moro ter proferido a sentença original.
Glenn Greenwald, que é advogado além de jornalista, parece estar cumprindo um longo e meticuloso roteiro: mostrar o clima de intimidade reinante na Lava Jato antes de exibir as cenas mais explícitas de promiscuidade entre julgadores e acusadores.