sábado, 21 de novembro de 2015

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SEÇÃO: OPINIÃO

O Robson e o pé de chinelo

chinelo
Chamava-se Robson e eu não tenho a menor ideia do que se sucedeu a ele.
Era o único negro (único!) da minha turma do primário, na Escola Pública Isabel Mendes, entre o Lins de Vasconcellos e o Méier.
Tímido, algo envergonhado, com certeza porque passava boa parte do ano usando um pé de sapato e o outro de chinelo (que então não era moda) , porque “estava machucado”. Um dia, soube que era para economizar o par de sapatos que ganhava da “Caixa Escolar”- uma contribuição mínima (coisa de R$ 5) que se pedia a todos os alunos para pagar uniforme, material e calçado dos que nada tinham e  que o “politicamente correto” pôs fim – e entendi sua timidez.
Porque para mim, e acho que para os outros meninos, o que havia era inveja de não estar metido naquele Vulcabrás quente e desconfortável, nem que fosse só um dos pés alforriado da obrigação. A vaidade viria mais tarde, a classe média ainda não vestia as crianças como “príncipes e princesas”, a não ser no dia de ir ao retratista, fazer aqueles quadrinhos com seis, oito imagens numa só folha.
O Robson vivia por dentro, mais que por fora, a discriminação. Porque certamente seus pais sofriam duas, as por serem negros e a por serem pobres. E acho que era essa a maior, embora a outra existisse quase como naquelas advertência de “não pode ser vendido separadamente” que imprimem em algumas coisas.
Quanto mais entre os pobres, por mais iguais, menor a discriminação. Só rapazinho fui perceber que havia ainda algo não dito e até “engolido” nas relações familiares: na companheira de meu tio-avô, Maria Vitalina, filha de uma escrava, que plantava couve e carregava trouxas de roupa no vilarejo de  Conservatória;  a Biu (Severina), segunda mulher de meu tio. Ou no Sebastião, a quem só se chamava de Compadre, e em sua mulher, sempre muito elegante, a Comadre (acho que nunca soube seu nome de batismo). Todos negros, todos da família, com um “quase” que vinha do ranço europeu, dos filhos e netos e bisnetos de portugueses, embora já estivéssemos quase todos  algo encardidos de nossa história e das ruas de terra.
Todos eram pobres e, gostassem ou não, estávamos juntos e misturados, em parte, naquela pasta da pobreza, que não era a riqueza da elite nem era a miséria da favela, esta sim, quase toda negra, pois ainda eram poucos os nordestinos, os novos pretos da elite paulista e sulista.
Eu só percebia mesmo algo de estranho com a cor da pele com um casal de amigos do meu pai, a Dulce e o Nélson. Ela, professora universitária; ele, creio que engenheiro (morreu cedo) da Petrobras. Como assim, negros bem-sucedidos profissionalmente, ainda mais morando na Zona Sul?
Não, aí não, porque o negro era o Pai Tomás – Sérgio Cardoso, com o rosto pintado de negro, repetindo ao senhor o “Sim, Mister Legris” (por ironia, cinza, em francês) – e a Mamãe Dolores, que afinal serve para criar como mãe postiça uma criança havida de um “mau passo”.
Nélson e Dulce eram “exóticos”.
Assim, devagar, fui entendendo que a discriminação racial, pra valer, é aquela que não se conforma com a ascensão social dos negros, a que os trata até com piedosa condescendência, desde que fiquem “no seu lugar” e sejam bons, pacatos, que conservem para sempre a timidez assustada do garoto Robson.
Descobri também  os meus próprios preconceitos:  um dia, em Uruguaiana, na fronteira gaúcha, um bando de guris sujinhos e maltrapilhos deu de correr atrás do jipe que levava Leonel Brizola. Eram todos muito pobres e eram todos bem lourinhos.
E que aquela exceção confirmava a regra mental de que os pobres eram pretos, donde brota a ideia de que merecem  era um pouco de caridade e muita polícia, para que se conservem tímidos, assustados, bem pretos e e bem pobres.
Não é dizer que não há discriminação racial, mas social e nem falar que os negros são discriminados porque são pobres, ou são a maioria na pobreza. Não, o racismo existe é não há um dia em que a gente não o perceba e não o deva combater, porque é uma das maiores abjeções que o comportamento humano pode ter.
O gráfico da Folha: como deixar de comemorar uma vitória, sem dizer que o "doutor" FHC afundou a qualidade do ensino e que o "analfabeto" Lula segurou a queda do indicador.
O gráfico da Folha: como deixar de comemorar uma vitória histórica da inclusão, sem dizer que o “doutor” FHC afundou a qualidade do ensino e que o “analfabeto” Lula segurou a queda do indicador.
Mas a de entender que, por mais que se o combata, deve-se combater com mais vigor aquilo que o mantém no cativeiro da pobreza, para o qual – sirvo-me do Cartola, genial – “é necessária nova abolição”.
É aí que dói à ignorância racista: que o povo negro tenha acesso à educação, que tenha a capacidade de compreender o que se passa no mundo e diante dele erga a sua cabeça, como ser humano que olha a todos nos olhos e não com os olhos baixos do Robson.
A igualdade tem suas horas de luta, de afirmação, de desafio, tal como tem a liberdade. Ainda estamos nela: na era das cotas, das ações afirmativas, da necessidade de repelir. Mas como avançamos, e como nos falta avançar!
Porque ela é um longo processo de construção – que tem seus heróis, e deve-se cultuá-los – que se completa em serena placidez e comunhão, pelos processos onde a sua afirmação vá se tornar cada vez menos necessária.
Porque ela não é necessária onde há igualdade. Porque os negros jamais seriam escravizados se dispusessem do aço, da pólvora, dos navios que tinham os seus captores.
Como jamais serão escravizados quanto tiverem, como nunca tiveram,  as armas – afinal, um fruto do conhecimento – em quantidades iguais ou mesmo apenas semelhantes aos brancos. E o aço, a pólvora, a caravela moderna têm o nome de educação.
Até lá, é não esmorecer, sem deixar de compreender que a intolerância, o ódio, a agressividade, a negação feroz do outro são as paliçadas onde se defende o indefensável, onde se quer deter o avanço da humanidade, da civilização, da fraternidade.
O ódio é a voz do passado, é coisa do senhor que ergue o relho. A mão que o detém no ar é que é sólida, impávida, serenamente heróica, porque tem mais força e determinação.
Como uma pedra, o racismo pode ser partido em pedaços menores, mas só desaparecerá num processo de erosão.
E como um dia – ainda bem – seremos todos mestiços, com cor da humanidade na pele e na cabeça, que  o Dia da Consciência Negra seja a festa do que há de vir.
E meu neto e o neto do Robson possam ir à escola de chinelos, com os dois pés, e porque serão livres e felizes. Que possam tirá-los e chapinhar na lama como convém às crianças, depois de uma chuva que nos lave tantas dores que terão ficado para trás.

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SEÇÃO: POLÍTICA (Texto extraído da Carta Maior)

20/11/2015 - Copyleft

A deslegitimação de governos populares é recorrente na história brasileira

Não é a primeira vez que grupos conservadores no Brasil se mobilizam para impedir a existência de um partido de base popular.


Maria Rita Loureiro
Paulo Pinto
Assistimos, hoje, ao processo sistemático e concertado de criminalização dos dirigentes do PT e a desqualificação da competência do governo de Dilma em conduzir as políticas econômicas.  Procura-se, com isso, destruir o único partido político de base popular que assumiu o poder nesse país e que ousou realizar, mesmo de forma muito tímida, políticas de redução de suas seculares desigualdades sociais.
 
Por que a deslegitimação política do PT representa um traço estrutural na ordem social brasileira? Porque não é a primeira vez, e muito provavelmente não será a ultima, que grupos conservadores no Brasil se mobilizam para impedir a existência de um partido de base popular - não tutelado e com vínculos orgânicos com a classe trabalhadora. Como Faoro já mostrou, “o processo histórico brasileiro é recorrente e repetitivo, é uma sucessão de retornos de formas e de tempos que não passam de recondicionamentos de outros tempos”.
 
Vale relembrar alguns exemplos: o primeiro foi o que levou à ilegalidade do Partido Comunista em 1948, em plena ordem democrática, com base em argumentação jurídica bastante controversa, mas aceita então pelo STF. Portanto, legitimada juridicamente. O mais significativo é que isso ocorreu no Brasil enquanto outros países da América Latina, mesmo no contexto da Guerra Fria, mantinham seus partidos comunistas legalizados. 
 
O segundo exemplo se refere à própria ascensão eleitoral de Vargas, em 1950. Mesmo seu trabalhismo autoritário era intolerável para as classes dominantes. Vale citar uma declaração de Carlos Lacerda, em seu jornal a Tribuna da Imprensa, lançando uma provocação histórica às Forças Armadas, quando Getulio estava prestes a se tornar candidato à presidência da república na sucessão de Dutra.   
 
“O Sr. Getulio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar” (Biografia de Getulio, de Lira Neto, vol. 3 p.188). 
 
Como Vargas, nos anos 50, o governo do PT hoje, sessenta anos depois, também não pode governar. Essa memória nos ajuda a compreender em grande parte a crise política atual.
 
Há ainda outro ponto comum nesses dois momentos repetitivos da história brasileira: a elevação do salário mínimo, crucial no processo de redução das desigualdades sociais: da mesma forma que agora, os governos Lula e Dilma, elevaram sistematicamente o salário mínimo em termos reais (ajudando inclusive  a alimentar o ódio contra o governo por parte da classe média, que quer ser “diferenciada” dos pobres), é importante relembrar que a campanha de Lacerda “contra o  chamado mar de lama que atinge o Palácio do Catete” cresceu exatamente depois da elevação histórica de 100% do salário mínimo pelo governo Vargas em 1º maio de 1954.
 
O que resultará desse processo de destruição do PT? A despolitização da sociedade, a desqualificação da vida política, o retrocesso da ordem democrática e das conquistas sociais trazidas pela Constituição de 1988 que começaram, ainda que timidamente, a serem efetivadas pelas políticas sociais mais recentes. Pensem na frase que aparece nos discursos de certos economistas: “A Constituição de 1988 não cabe no PIB brasileiro”. 
 
Mais ainda, o que está em jogo nesse momento é a capitulação mais completa do governo frente ao chamado “poder de fogo do mercado”. É o retrocesso da política externa brasileira, orientada por iniciativas como o banco dos BRICS e pela maior autonomia frente às potências hegemônicas e às suas corporações internacionais. E a possível reversão do sistema de partilha na exploração do pré-sal pela Petrobrás. É também o retrocesso na cooperação política e econômica entre países e forças democráticas de esquerda na América Latina.   
 
Por fim, cabe alertar aos partidos de esquerda que imaginam recolher no futuro os espólios do PT: os exemplos históricos aqui trazidos permitem dizer que nada lhes garantem que eles também não serão objeto, se alcançarem o poder, do mesmo processo de aniquilamento que o PT hoje está sofrendo.
 
Socióloga e professora da área de Administração Pública e Governo da FGV/SP 

HUMOR:

SEÇÃO: POLÍTICA (Extraído da Revista Carta Capital)

Justiça

Uma vitória da “caixa preta” do Judiciário

Ministro da Justiça decide acabar com secretaria de reforma do Judiciário
por André Barrocal — publicado 19/11/2015 16h39, última modificação 19/11/2015 20h24
José Cruz /Agência Brasil
José Eduardo Cardozo
José Eduardo Cardozo resolveu sacrificar a Secretaria de Reforma do Judiciário em nome do ajuste fiscal
O Judiciário sofreu uma derrota no Congresso na votação do veto de Dilma Rousseff à lei que elevaria o salário de seus servidores de 53% a 78%. Apesar de o Congresso ter sido cercado por servidores e até de juiz pressionar parlamentar por telefone, faltaram seis votos para o reajuste vingar. O mais caro Judiciário do mundo em termos proporcionais por ora não terá mais verbas.
A semana reserva, no entanto, uma boa notícia para os tribunais. O Ministério da Justiça decidiu acabar com uma repartição criada há doze anos para ajudar a fazer o Judiciário funcionar melhor e a jogar luz nas regalias dos magistrados e de seus funcionários. 
Em decorrência da decisão da presidenta de cortar cargos federais, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, resolveu que, na sua seara, uma das áreas sacrificadas será a Secretaria de Reforma do Judiciário. A secretaria será dissolvida. A extinção já foi comunicada internamente no Ministério. 
A repartição foi criada em 2003, primeiro ano de governo do ex-presidente Lula, para quem era preciso “abrir a caixa preta” do Judiciário. A decisão causou rebuliço à época. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) de então, Mauricio Correa, reagiu falando em “despautério” e “excrescência”. 
A secretaria foi a mentora de mudanças na Constituição feitas em 2004 conhecidas como Reforma do Judiciário. Entre outras coisas, as mudanças criaram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Públicos (CNMP), órgãos destinados a servir como “fiscal do fiscal” - de juízes no primeiro caso e de procuradores de Justiça, no segundo.
“O mínimo de transparência existente hoje no Judiciário é resultado das iniciativas da Secretaria de Reforma do Judiciário”, diz o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luciano da Ros, autor da pesquisa Abrindo a caixa preta: três décadas de reformas do sistema judicial do Brasil, ainda em andamento.
Para da Ros, a contribuição mais importante da Secretaria até aqui foi “pensar o Poder Judiciário como políticia pública”. A incapacidade – ou desinteresse – do Judiciário de enxergar-se como serviço público é um dos maiores defeitos deste Poder, segundo a professora Luciana Gross Cunha, coordenadora do Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
Com a extinção da secretaria, teoriza Luciano da Ros, a tarefa de refletir sobre o funcionamento do Judiciário talvez possam ser do CNJ. O que não é uma hipótese muito desejável. Para um antigo membro do CNJ, o advogado Marcelo Neves, o Conselho é hoje um órgão corporativista e “sem significado prático, principalmente no controle da corrupção”. 
Mais de dez anos depois, um dos maiores problema no Judiciário que caberia à secretaria ajudar a enfrentar é o excesso de processos. Um relatório anual divulgado em setembro pelo CNJ aponta um estoque de 99 milhões de processos no País, quase um para cada dois brasileiros. Deste total, 71% jamais tiveram qualquer despacho. Na média, os processos esperam dez anos por uma decisão.
O conflito dá a tônica no Judiciário, segundo pesquisa de agosto da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). O estudo “O uso da Justiça e o litígio no Brasil” considera “alarmante” o número de processos. Diz ser resultado da estratégia de um grupo reduzido de atores de levar tudo para os tribunais: bancos, operadoras de cartão de crédito, telefônicas e órgãos públicos.
A cultura da briga judicial reina nos cursos de Direito brasileiros, na opinião de Luciana Cunha. “As faculdades formam profissionais que buscam o Judiciário, mas não deveria ser assim.”
As faculdades de Direito são muitas no Brasil e uma garantia de altos salários.
Em 2010, o então conselheiro do CNJ Jefferson Kravchychyn descobriu: o País tinha mais cursos de Direito (1.240) do que todo o resto do planeta junto (1.100). O bacharel em Direito tem o maior rendimento por hora entre todos os trabalhadores com curso superior, segundo pesquisa de julho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 
“Há uma indústria em torno do Poder Judiciário no Brasil”, diz Luciano da Ros. 
Com a saída de cena da Secretaria da Reforma do Judiciário, esta “indústria” só tem a ganhar.

REFLEXÃO:

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SEÇÃO: SAÚDE

Destaques

TRATAMENTO DA DIABETES





POLVILHO DA LOBEIRA – Solanum grandiflorum 




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adverte da necessidade de acompanhamento rigoroso e periódico dos níveis de glicose no sangue, mantendo-se quando necessário, apoio insulínico ou a administração de hipoglicemiantes orais até que a restauração lenta do Pâncreas ocorra em grau satisfatório, a ponto de estabilizar a glicemia. Em pesquisa realizada pelo endocrinologista V.H.P. Brandão, foi possível demonstrar a eficácia do Polvilho da Lobeira na regeneração pancreática, inoculando camundongos com Aloxona, substância que provoca a destruição das células produtoras de insulina, esses animais se tornaram diabéticos. O grupo desses camundongos foi tratado com o Polvilho da Lobeira e apresentou aumento significativo das células beta. O grupo controle que não recebeu nenhum medicamento permaneceu com as alterações produzidas pela Aloxona. O autor recomenda uma dosagem intensa de Polvilho por um período não inferior a dez meses.

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Efeitos Colaterais: Não foram percebidos até o momento efeitos colaterais e não reage com outros medicamentos.

Posologia: Até 130 de glicemia uma cápsula (500 mg) após o café da manhã; de 130 a 200 de glicemia uma cápsula após o café e outra após o jantar; acima de 200 de glicemia três cápsulas por dia, uma após cada refeição.

Referência Bibliográfica:
www.pesosemedidas.com.br
www.opcaofenix.com.br

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SEÇÃO: POLÍTICA

Marinho a Brizola: “construir escolas, está bem… Mas não precisa disso tudo, faça umas escolinhas.

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Luis Augusto Erthal é um teimoso. Insiste em ser jornalista, insiste em ser brizolista, insiste em editar livros e insiste em promover a cultura de sua terra, Niterói, onde me encontro exilado já faz tempo. Faz pior, insiste em ser meu amigo há mais de 30 anos, desde a finada Última Hora. E insiste, juntando toda a teimosia, em publicar jornais, um deles o que me envia, sobre os 30 anos do Programa Especial de Educação, que o povo conhece como Cieps, ou Brizolões.
Tem mais coisas, mas começo pelo depoimento pessoal que dá, no qual eu tenho culpa, porque “matriculei-o” por dois anos nos Cieps, em horário integral. Mas como jornalista, capaz de trazer detalhes, propostas, conquistas e dificuldades do mais ambicioso projeto educacional que este país já viveu. Ia dizer já viu, mas não o posso fazer porque não viu, pois essa revolução educacional, que mobilizou milhares de professores e centenas de milhares de crianças, jovens e adultos, numa área construída maior do que Brasília, na sua inauguração, foi criminosamente boicotada pela mídia.
Uma grande e generosa aventura, que jamais sairá de nossos corações, de nossas vidas e de nossos sonhos, que deixo que ele conte, porque o faz melhor que eu.
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“Governador, faça umas escolinhas…”

Roberto Marinho tentou fazer Brizola abortar o projeto desde o início

Luiz Augusto Erthal
Não poderia publicar uma matéria sobre os Cieps sem dar um depoimento pessoal, por mais que me doam algumas das lembranças hoje sopesadas na distância desses 30 anos. Tive o privilégio de ver esse programa nascer e acompanhar cada passo da sua implantação. Talvez seja o jornalista que mais colocou os pés dentro dessas escolas, em muitas delas quando ainda se encontravam na fundação.
Estive no Palácio Guanabara, como jornalista e assessor de imprensa, nos dois governos Brizola (1983-1987 e 1991-1995). Cheguei em 1984 para participar de um projeto jornalístico, cujo objetivo era criar um caderno noticioso dentro do Diário Oficial do Estado, o D.O. Notícias, como ficou conhecido, uma estratégia para tentar enfrentar o cerco da mídia contra o governo. Fui designado pelo editor, Fernando Brito, mais tarde assessor-chefe de imprensa do governador, para cobrir as áreas de educação e esportes.
Passávamos os dias como combatentes às vésperas de uma grande batalha naqueles primeiros meses. Brizola conquistara o governo fluminense superando grandes obstáculos, desde atentados à sua vida até a fraude da Proconsult, uma tentativa desesperada de impedir sua chegada ao governo fluminense.
Havia uma enorme expectativa em torno dele desde a posse no Palácio Guanabara, que mais pareceu a queda da Bastilha, com o povo ocupando de forma descontrolada aquele símbolo de poder.  Afinal, nos estertores da ditadura, cada naco de poder reconquistado pelo povo era valioso. Vigiado de perto pelos militares, que permaneciam ainda no controle, bombardeado pela mídia conservadora e sufocado economicamente, Brizola tinha pouco espaço de manobra. Até que algo aconteceu.
“Agora esse governo começou!”, lembro bem da exultação do Brito ao voltarmos da apresentação do projeto dos Cieps, com a presença de Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, no Salão Verde do Palácio Guanabara. Uma revolução havia sido colocada em marcha. Estava claro para todos nós.
Brizola não tinha condições políticas de retomar naquele momento, como nunca mais teve, a reforma agrária e as outras reformas de base preconizadas por ele e por Jango em 64. No entanto, cria como ninguém no poder transformador da educação. Órfão de pai, que morreu emboscado ao retornar da última revolução farroupilha, em 1922, ano do seu nascimento, Brizola e seus irmãos foram alfabetizados pela mãe em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul. Calçou os primeiros sapatos e usou a primeira escova de dentes aos 12 anos, na casa de um reverendo metodista, cuja família o adotou. Pode, então, estudar até formar-se em engenheiro. Fora salvo pela educação.
Quando governador do Rio Grande do Sul (1958-1962), construiu nada medos do que 6.300 escolas. “Nenhum município sem escola”, era o lema. Mas a realidade do Rio de Janeiro nos anos 80 era bem diferente. Ao retornarem do exílio, após 15 anos, Brizola e Darcy se depararam com a obra macabra da ditadura: o inchaço das grandes cidades, a favelização, a desestruturação familiar e o surgimento do crime organizado, que separavam, como bem sabemos hoje, nossos jovens de seu futuro. Aquelas escolinhas alfabetizadoras e formadoras de mão-de-obra técnica e rural do Rio Grande do Sul não resolveriam o problema do Rio de Janeiro pós-golpe.
A solução: uma escola integral em turno único, ofertando educação, cultura e cidadania; mantendo os jovens durante todo o dia longe das ruas e da sedução do crime organizado; dando alimentação, assistência médica, esportes e muito mais. Tudo isso, porém, tinha um custo e exigiria a ruptura de um velho paradigma da política brasileira – de que os recursos públicos sejam colocados à disposição das nossas elites e não do povo. A inobservância desse princípio levou o presidente Getúlio Vargas ao desespero e suicídio; o presidente João Goulart à morte no exílio e a presidente Dilma, agora, a um completo isolamento político, culpados, todos eles, por fazerem transferência direta dos recursos públicos para o povo e não para as elites.
Logo após o lançamento do programa dos Cieps, Brizola ainda tentou estoicamente obter o apoio do então presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho. Sabia o quanto ele seria capaz de influenciar, para o bem ou para o mal. Apresentou-lhe pessoalmente o projeto e nos relatou depois:
“Ele olhou, olhou, olhou e não disse uma palavra. Em uma segunda oportunidade em que nos encontramos, eu cobrei: ‘Então, doutor Roberto, o que achou do nosso projeto’. Então ele disse: ‘Olha, governador, se o senhor quer construir escolas, está muito bem. Mas não precisa disso tudo. Faça umas escolinhas… Pode até fazê-las bonitinhas, tipo uns chalezinhos…’.” Depois disso não houve mais diálogo entre eles.
Os Cieps começaram a brotar do chão com a arquitetura inconfundível de Oscar Niemeyer. Eu fazia sobrevoos de helicóptero para fotografar as obras e, vistas do alto, indisfarçáveis, pareciam pragas que irrompiam da terra árida dos subúrbios e das cidades da Baixada Fluminense. Era a praga rogada pelo povo esquecido que, enfim, tomava sua forma visível e ameaçadora, pois apontava para uma nova ordem.
“As gerações formadas pelos Cieps farão por este País aquilo que nós não pudemos ou não tivemos a coragem de fazer”, afirmava Brizola. Esta, e só esta, é a razão do ódio e do horror que essas escolas incutem até hoje em nossas elites.
Eles ainda estão aí. Descaracterizados, desconstruídos, desativados, degradados. Mas cada um desses 508 Cieps ainda traz consigo a semente da grande revolução sonhada por Brizola e Darcy. São quinhentas “toras guarda-fogo” feitas de concreto armado, uma imagem dos pampas gaúchos com que Brizola gostava de ilustrar o futuro do nosso povo:
“Às vezes a fogueira do gaúcho parece ter-se apagado à noite, mas existe sempre a tora guarda-fogo, que esconde aquela centelha interior. Pela manhã, basta assoprá-la para a chama ressurgir.”

ASSISTA O VÍDEO: "a cura do Rio Doce"

SEÇÃO: POLÍTICA

Cunha e a “conversão” dos fariseus

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Se o prezado amigo e a cara leitora quiserem entender porque a mídia, agora, destaca a cruzada dos demotucanos, que não aceitam mais “um minuto de Cunha”, dê um pulinho na coluna de Lauro Desculpe  Jardim.
Ele publica que Eduardo Cunha registrou “dezenas  de domínios de (sic) internet, apropriando-se de Jesus”, algo que os blogs “sujos”, entre eles este aqui, já havia feito no início de abril.
Obvio que Lauro sabia há muito disso, porque é muito bem informado, como muito bem informados são dos demistas e os tucanos, e o mundo inteiro sabia que para Eduardo Cunha tudo era negócio, até o nome de Deus.
Mas agora “requenta” o tema, para provocar mais indignação na opinião pública, com toda a razão já enojada com aquele sacripanta.
O mesmo falso beato Cunha que  lhes servia, porque servia à paralisia do Governo, recusando-se a votar os projetos de seu interesse e, ao contrário, pondo em pauta tudo o que acarretasse mais despesas públicas, mais receitas para os políticos (doações empresariais) e mais histeria social (redução da maioridade). Tudo, sempre, com o apoio maciço do DEM e do PSDB.
E servia, sobretudo, para manter a espada do impechment dobre a cabeça de Dilma Rousseff, quase um Moisés, capaz de abrir as águas do mar constitucional  ao golpismo até o poder que não conquista pelo voto, este povo não-eleito.
Enquanto sobrou uma gota de esperança de que houvesse o clima político para a derrubada da Presidente, viviam “mostrando as canjicas”, todos sorriso, para Cunha. Encontros, jantares e, mesmo diante dos papéis vindos da Suíça, mostrando-lhe os dólares, ele merecia “o benefício da dúvida”, nas palavras do líder tucano Carlos Sampaio, tão furioso com os outros acusados.
A rigor, não houve fatos novos e não importavam as explicações de Cunha, desde o “usufrutuário” à carne enlatada, porque o essencial, na questão do decoro parlamentar, foi a descarada mentira de dizer que não tinha contas. Da qual  a humanidade inteira tinha ciência, mas não era motivo de que a oposição rompesse com o presidente da Câmara.
Agora que a possibilidade do impeachment se desfez, o desejo tucano segue sendo o mesmo: o de paralisar o Governo.
Estamos há menos de um mês do recesso legislativo e dificilmente se terá outra semana de plenário cheio até o dia 18 de dezembro, porque  – incrível isso, não é? – já se teve de fazer um esforço imenso para tê-lo esta semana e votar os vetos presidenciais.
As medidas provisórias do ajuste fiscal estão na fila de votação. E pela ordem, trancando a pauta da Câmara, que não pode ser invertida para que as mais importantes sejam postas antes em votação.
De outro lado, também o Conselho de Ética não vai deliberar nada até o recesso, porque os aliados de Cunha por lá vão pedir vistas e ainda há o prazo de apresentação da defesa.
E, então, a Câmara dos Deputados fica virtualmente paralisada até fevereiro  do ano que vem. E o Governo, bom ou mau, sem o ajuste fiscal, sem orçamento, manietado.
Aí está a explicação sobre o surto ético da oposição, recém-separada de Cunha, que o acovardamento político do PT, infelizmente, não tem explicado à população.
E, assim, deixa que a imprensa a confunda com essas caras de santinho com que se apresentam agora os ex-tucanocunhistas.
Definitivamente, quem não parte para a polêmica está deixando que as elites e sua mídia usem a política como sua arma para confundir o povão.