sábado, 11 de agosto de 2018

Lula ganhou o debate. Opinião, acredite, de Miriam Leitão

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Na análise que faz do debate entre os candidatos a Presidente, hoje,  a coluna de Miriam Leitão, imagina-se com que dor no coração, admite que, “Lula venceu o debate por uma espécie de W.O. às avessas“, por não ter sido apontado como responsável pelas desgraças que vive o país.
Faltou chamar, diretamente, de incompetentes aos outros candidatos, o que se explica, talvez,  pela crista lhe ande baixa, depois do vexame a que foi submetida por seus patrões ao ler, repetindo o que lhe ditavam ao ouvido pelo “ponto” eletrônico, sobre as relações entre a Globo e a ditadura, após a entrevista de Jair Bolsonaro.
Fechado numa cela em Curitiba, mantido pelo PT como o candidato ficcional, [Lula] não teve seu legado atacado.
Como disse José Serra em 2010: que bobagem, Miriam!
Certamente acostumados às conversas em salões de restaurantes e salas de embarque de aeroportos, onde Lula é considerado algo como um demônio, D. Miriam e seus auxiliares, julgando-se mais inteligentes que todos ali, não conseguem entender o óbvio: não citaram Lula porque a única forma de “matá-lo”, politicamente, é o silêncio.
Evocar Lula, fora daqueles ambientes de classe média insuflada de ódio, é evocar a lembrança da população de que este pode ser um país menos injusto e mais próspero, exatamente o contrário do que a ele fizeram rezando pela cartilha dos “Cabos Daciolo do Mercado”, que proclama que a salvação virá da livre iniciativa, apenas.
Como são “candidatos de faz-de-conta”, que só têm alguma chance eleitoral com a exclusão de Lula da disputa, o lógico e o natural é que esmerem-se em fazer de conta que Lula não existe.
Não é por outra razão que Lula teve de dar uma clarinada, lá de Curitiba, para que Haddad e Manuela D’Avila se exponham mais. Quer e precisa frustrar o plano de excluí-lo da polêmica pelo silêncio, pelo isolamento na Sibéria de Curitiba.
Os altos estrategistas da direita brasileira sabem disso, mas têm dificuldades em conter o ódio e o ressentimento com que seus porta-vozes crocitam e que os torna obtusos ao ponto de reconhecer-lhe apenas um mérito, o de “não destruir, no primeiro mandato, a herança que recebeu” de Fernando Henrique Cardoso.
E, ao contrário do que fizeram os microcandidatos no debate, não entende que, para o sistema, eles são a mais perfeita tradução do que disse Fernando Henrique Cardoso: “é o que temos”.
Depois D. Miriam não reclame se, de novo, forem lhe dizer o que falar pelo ponto eletrônico.

FATOS REAIS...

Haddad e o jornalismo Chico Xavier

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Agora que a Veja está morrendo, preocupa-me que a Folha esteja assumindo o chamado “jornalismo Chico Xavier”, onde o repórter não se limita a escrever sobre fatos revelados por “fontes” – em geral personagens de segundo plano, que querem ficar “amiguinhos” de jornalistas – e passa a psicografar pensamentos dos personagens-vítimas  das histórias a serem contadas.
Nada contra o jornalismo com opinião e até com paixões confessadas – não só o pratico como acho um ato de honestidade com o leitor – mas eu não sou, confesso, capaz de saber o que Aécio Neves anda pensando com seus botões nem o que Alckmin conversa com Dona Lu.
Hoje há uma matéria sobre como Fernando Haddad “abandona perfil de professor e mergulha no PT“.
O que seria “um perfil de professor”? Não-militante? Será que a Folha aderiu ao “Escola Sem Partido”?.
E, logo em seguida, escrutina em detalhes o pensamento íntimo de Lula:
A preferência não era por ele. Nunca foi. Luiz Inácio Lula da Silva queria que Jaques Wagner assumisse seu lugar de candidato do PT ao Planalto quando a Justiça Eleitoral o declarasse inelegível.
Sinceramente, é algo de fazer inveja a diagnóstico de analista.
Alguém imagina que Lula fosse dizer: “ô, companheiro, num quero esse Haddad, não“?
Porque Haddad está sendo citado como o tal “Plano B” de Lula há exato um ano, desde quando a sentença de Sérgio Moro abriu a possibilidade – confirmada – de manobras que impedissem o ex-presidente de ser candidato, como registrava o El País:
Lula tem demonstrado estar pensando no assunto. E, ao que sinaliza, seu favorito é o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad. “O Haddad pode ser uma personalidade importante se ele se dispuser a correr o Brasil. Já falei para o Haddad: você tem que botar o pé na estrada, falar da educação, falar do que você fez na educação”, afirmou Lula, em uma entrevista no dia 20 de julho. A fala do ex-presidente ocorreu poucos dias depois que ele publicou uma foto em sua página oficial no Facebook na qual aparece ao lado de Haddad. O texto que acompanha a imagem recorda do dia em que seu então ministro tomou posse no ministério da Educação. E enaltece seus feitos no cargo.
A reportagem atribui dotes maquiavélicos a Haddad, descrevendo atos e artimanhas que teria feito para envolver o ex-presidente – um ingênuo, como se sabe, não é? – até tomar o lugar do suposto “preferido” Jaques Wagner que, curiosamente, vinha sinalizando há meses ter pretensões eleitorais em seu estado.
(…)criou pontes com dirigentes da base, como o ex-presidente do PT Rui Falcão, o atual tesoureiro Emidio de Souza e o antigo chefe das finanças Márcio Macêdo.
(…)aproximava-se de amigos pessoais de Lula, como Paulo Okamotto, presidente do instituto que leva o nome do petista, e o advogado Sigmaringa Seixas.
O homem é uma víbora!
Quanto a Jaques Wagner, não parece óbvio que, alguém que pretendesse ser “o candidato do Lula” não sairia, é claro, admitindo que o PT poderia indicar “o vice do Ciro”?.
Será que se esquecem de que Lula foi o principal artífice da indicação de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2002?
Haddad precisa ter a capacidade de não escorregar nas cascas de banana de ego que irão lançar à sua frente. Não resisto a usar a forma que Leonel Brizola empregaria: “vão lhe fazer bilu-bilu para ver se ele entrega a rapadura”.
Tem de deixar de lado a vaidade e dizer que “é do Lula”, haja o que houver.
Esta é a razão essencial da escolha de Haddad.
O resto é psicografia.

Transferência de votos fará ser inútil veto à candidatura Lula

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A vontade popular, como um líquido, procura e descobre por onde se derramar-se se lhe fecham a torneira por onde deveria, naturalmente, fluir.
Os pretensiosos é que crêem que o povo, qual um peru num círculo de giz, fica desorientado e não descobre como fugir de um cativeiro que é, apenas e tão-somente, simbólico, porque não abateram sua determinação política.
Por isso se surpreendem com o resultado da pesquisa da Corretora XP/Banco Itaú que revela que, obrigado a substituir-se por Fernando Haddad na disputa presidencial, Lula já o coloca no 2° turno.
Arrisco-me a dizer que, a esta altura, já em empate técnico com Jair Bolsonaro, porque a pesquisa (curiosamente tabulada em inglês, já se vê) é por telefone – que elimina do universo pesquisado a gente mais pobre e mais remotamente situada, área onde a força de Lula é unanimemente reconhecida quanto pelo fato de que também contém os 3% dos votos em Manuela D’Ávila, sua vice, o que faz com que se aproxime, fácil, dos 20%.
Sabe-se que o pequeno espaço que não podem tirar da  esquerda na televisão vai multiplicar o conhecimento de quem é o candidato de Lula se não permitirem que ele concorra.
Só existe uma maneira de, tendo de representar Lula, Haddad não ir ao segundo turno e vencer.
É não aceitar “ser o Lula”, o que vai para a urna e para o Governo em nome de Lula e que será de Lula o comando da ação política de Lula.
Quando há coerência entre os personagens, a transferência de votos se opera sem traumas.

‘Estadão’ não esconde ‘dor de cotovelo’ por mau desempenho de Alckmin

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A manchete do Estadão, hoje, é quase um lamento pela chance que Geraldo Alckmin teve de mudar a impressão geral de nada do que se faça por ele consegue  desfazer a sua falta de capacidade de empolgar e convencer as pessoas.
Vai ser difícil esperar um crescimento expressivo nos tucanos que as pesquisas, inexplicavelmente postergadas, pudessem atribuir ao seu desempenho televisivo, uma vez que a aliança com o centrão não vitaminou os índices do ex-governador paulista.
Por isso, mais que por qualquer coisa, justifica-se uma análise do debate de ontem que, ao fim e ao cabo, pouca importância de massa tem além de uma primeira impressão sobre os candidatos que se engalfinham para ter a vitória ungida pela Justiça, que tirou Lula do páreo, e não por sua capacidade.
Millôr Fernandes, numa daquelas suas frases ferinas, disse que “muito mais importante que ser genial é estar cercado de medíocres”.
O debate de ontem na Bandeirantes era a ocasião por excelência para alguém brilhar e meio à mediocridade.
Mas, ao que parece, a mediocridade espalhou-se ali como um vírus destes de epidemia que não poupa ninguém.
Ciro Gomes, que tinha capacidade para destacar-se ali com o apelo nacional, popular e democrático, arranjou uma “ideia-força” de marqueteiro, a de anistiar os brasileiros inscritos no cadastro do SPC para se agarrar durante todo o debate, como se isso fosse a panaceia da economia. Claro que é possível até mesmo fazer algo neste sentido, mas o alívio da situação de inadimplência é, essencialmente, fruto da retomada da atividade econômica. Até porque, sem isso, é como enxugar gelo.
Perdeu a chance de, assumindo ser uma voz pelo direito de Lula participar da eleição, reduzir as arestas que criou à esquerda e os ressentimentos dos simáticos ao ex-presidente.
Boulos, logo na abertura do debate (e depois não mais, até para minha surpresa) fez a menção a “Lula estar preso e Temer estar solto”, mas também não se aprofundou ou insistiu na questão central deste processo eleitoral: a de que ele se dá com a interdição da maior força política do país e com o evidente objetivo de dar formalidade a um projeto de dominação do povo e desmonte do país.
Jair Bolsonaro, ao que parece, não teve problemas com a sua incapacidade de expressar-se de forma articulada. Seu eleitor também não tem capacidade de entender argumentos e, portanto, estão ambos entendidos no reino da estupidez. Ninguém, exceto Boulos no primeiro bloco, quis confrontá-lo.
Henrique Meirelles é patético, incapaz de falar sobre qualquer coisa que não seja uma ridícula autolouvação em que se apresenta como o responsável pelo sucesso dos governos de Lula. Um amigo disse-me que Meirelles parece ser alguém que ” só escreve no Excel, não no Word”.
Álvaro Dias fez exatamente o que se tinha antecipado aqui. Fez da Lava Jato e de Sérgio Moro os sucedâneos de Hugo Henrique, o cão bichon frisé com que sustentou sua candidatura ao Senado em 2014. Bateu no PSDB sem nenhum pudor, num espetáculo de amnésia de ter sido, por anoes e anos e até há pouco, também ele um tucano.
Marina Silva é mais do mesmo: fria, antipática e destino ideal para as perguntas de quem não quer “fazer marola” e que o debate não ‘esquente”. Foi e é o acompanhamento ideal para o “Chuchu” Alckmin.
Este, a meu ver, foi o grande perdedor.
Incapaz de imprimir emoção, deixo que dele fale a tucanérrima Vera Magalhães, do Estadão, que lhe dá o penúltimo parágrafo de sua análise do debate, acima apenas da ausência de Lula:
O tucano procurou se manter propositivo, mas soou professoral e pouco didático. Enfileirou uma série de siglas de difícil compreensão para o eleitorado comum e evitou revidar na mesma moeda as chineladas [muito leves, diz este blog] que recebeu. Soou frio e burocrático a maior parte do tempo”.
 Era dele a chance de brilhar, demonstrando-se enérgico, capaz, convincente.
Ah, por fim, o candidato a “meme”, o tal Cabo Daciolo, com direito a criação da inédita “União das Repúblicas Socialistas da América Latina”, a ser combatida “em nome de Jesus”.
Pobre Cristo, não merecia esta cruz…

A ‘Imobiliária Temer’ não vira escândalo para deixar Temer esquecido

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A revista Piauí publica um detalhado levantamento sobre a “Imobiliária Temer” , sob o título “Minhas Casas, Minha Vida”, onde se mostra a evolução do patrimônio do atual  – e quase esquecido – ocupante do Palácio do Planalto.
Dois parágrafos, das dezenas onde meticulosamente quando, como e por quanto foi construída a “Imobiliária”:
Michel Temer, as três filhas do primeiro casamento, sua atual mulher e o caçula têm hoje um patrimônio imobiliário concentrado nessa faixa da cidade [o corredor Alto de Pinheiros, Pinheiros, Itaim Bibi e Vila Olímpia] que vale pelo menos 33 milhões de reais. Quase tudo foi adquirido nas últimas duas décadas, período que coincide com a ascensão política do patriarca, de deputado suplente a presidente da República.
De janeiro de 1998 até agora, a família Temer movimentou 61,7 milhões de reais na compra e venda de imóveis na Zona Oeste paulistana, conforme um levantamento inédito feito pela piauí. Nesses vinte anos, o patrimônio imobiliário do clã Temer aumentou quase cinco vezes – passou de 6,8 milhões para os atuais 33 milhões de reais (os valores descritos nesta reportagem foram sempre corrigidos pelo IGP-DI de março de 2018). Curiosamente, o presidente ficou mais pobre, ao contrário de Marcela e dos filhos, beneficiados por doações do patriarca.
O repórter Allan de Abreu enfiou-se nos registros de cartório e desenha, com detalhes, o latifúndio urbano dos Temer, ao lado dos que também fizeram os seus amigos de anos José Yunes – o homem do envelope de R$ 1 milhão de Lúcio Funaro – e o coronel João Batista Lima, cais do porto da Rodrimar.
Vale a leitura, num país que vive eleições anormais porque um ex-presidente é acusado por um apartamento a ele “atribuído” – seja lá o que for isso e por frequentar um sítio que não é seu.
A “Imobiliária Temer”, porém não será um escândalo, pois tudo o que se quer de Temer, hoje, é que fique escondido, quieto e esquecido e não atrapalhe seu candidato “clandestino”, Geraldo Alckmin.

Corte do BPC: para os pobres, crueldade

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Laís Alegretti e Ranier Bragon, hoje, na Folha, pintam um retrato da insensibilidade das elites brasileiras e de seus tecnocratas.
É o decreto em gestação no Governo Temer que suspende o Benefício de Prestação Continuada – o BPC, pago a idosos e deficientes sem fontes de renda mínima de subsistência, estipulada em R$ 238,50 por pessoa da família – no caso de que se verifiquem  “inconsistências ou insuficiências cadastrais que afetem a avaliação de elegibilidade do beneficiário”.
Ou seja, “em caso de dúvida, passem fome”.
O decreto esmera-se na perversão: o beneficiário vai ser avisado do corte por uma método genial: no dia em que chegar na lotérica ou no caixa bancário e sua “merreca” estiver indisponível. Logo ele, que estava para sair dali para a venda, para comprar o “dicumê”.
Quem sabe consegue um fiado do vendeiro, não é?
Mas isso não é tudo.
Apatetado com o bloqueio, sem recursos e em geral com baixa capacidade de lidar com problemas burocráticos, tem dez dias para fazer a regularização:
 Só após o bloqueio, se entrar em contato com o INSS, o beneficiário entenderá o motivo pelo qual teve o benefício cortado. Além disso, terá apenas dez dias para para apresentar a defesa.
Nem é preciso dizer que, se depender de documentos. laudos, certidões e outros papéis é virtualmente que consiga cumprir este prazo.
Ninguém está, claro, defendendo situações de fraudes, usando pessoas simples.
Mas é impressionante como, quando se trata de maracutaias fiscais de grandes empresas e de bancos, como aconteceu com os bilhões sonegados pela Globo ou pelo Itaú, a compreensão do Tesouro é infinita…Anos e anos se passam até que, para perdoar, parcelar ou facilitar o pagamento.

Ainda os “chapados”: a redoma dos juízes

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A natural irritação, ontem, diante da insensibilidade do Poder Judiciário de”empurrar”, em fim de governo, um aumento “para os seus” fez-me deixar de tratar, com clareza, do que considero mais importante para a crise de legitimidade que enfrentam aqueles que, numa situação de normalidade, deveriam ser mediadores dos conflitos da sociedade.
Pois é isso, afinal, o mais grave elemento da desmoralização de nossa Justiça, não os privilégios – que, afinal, sempre tiveram – que gozam diante da imensa maioria do povo brasileiro.
Afinal, a Justiça, a partir de Sérgio Moro, passou a adonar-se evidentemente das decisões políticas da população, como uma espécie de partido político que não necessita de votos para exercer o mando, eis que sua autoridade vem do cargo que ocupam sem legitimidade política – o concurso, afinal, é apenas a legitimidade técnica e olhem lá se nem isso – e que continuarão a ocupar pelo resto de suas confortáveis vidas.
Ao lado do Ministério Público, instituição que lhe é paralela em tudo, inclusive – e mais ainda – no autoritarismo e nos privilégios, assumiu um evidente protagonismo e a pretensão de exercer o mando sobre as leis e as escolhas do país, num maniqueísmo primário dos “bons” contra os “maus”, território onde habitam políticos, partidos, governantes e todos aqueles que, ao contrário deles, dependem da legitimação popular para existir.
O caso das mordomias abjetas – como o auxílio-moradia e os “n” penduricalhos de que desfrutam – e, agora (como sempre) um reajuste absolutamente fora de hora apenas revelam – e revoltam-nos com isso – o fato é  que estamos sendo governados por sujeitos que vivem em uma redoma, que não sentem e não passam pelas dificuldades de 99% dos brasileiros.
Não é à toa que o país está entregue à selvageria. Afinal, o que esperar de uma sociedade onde se afirma o poder autoritário de uma casta, casta que os olhos do povo, não sem razão, passam a ver como a vê-la como uma corporação de nababos.
E cada vez mais ferozes.