sábado, 15 de fevereiro de 2020

Veja mostra fortes indícios de execução de miliciano “bomba”

A revista Veja mostra, agora à noite, fotos que sugerem que o ex-capitão e miliciano Adriano da Nóbrega, figura próxima dos Bolsonaro, foi executados com tiros de curta distância e não morto em confronto, como é a versão oficial.
VEJA teve acesso a imagens que revelam que Adriano da Nóbrega foi abatido com tiros disparados a curta distância. As imagens reforçam a acusação feita por sua esposa e por seu advogado de que ele foi executado — e de que as forças policiais nunca quiseram realmente prendê-lo. São fotografias de diversos ângulos, feitas logo depois da autópsia, que devem ajudar a revelar o que aconteceu nos minutos que se sucederam à entrada dos policiais no sítio onde o ex-capitão estava escondido, no município de Esplanada. De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano, depois de reagir, foi abatido com dois tiros — um de carabina e outro de fuzil. Um dos projéteis atingiu a região do pescoço. O outro perfurou o tórax. (…) As fotos obtidas pela reportagem sustentam parte dessa versão — mas apenas parte. Os disparos que mataram Adriano da Nóbrega foram feitos a curta distância. Além disso, as imagens revelam um ferimento na cabeça do ex-capitão, logo abaixo do queixo, queimaduras do lado esquerdo do peito e um corte na testa.
Obtidas com exclusividade, as fotos que ilustram esta reportagem foram submetidas à avaliação do médico legista Malthus Fonseca Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor do Instituto Médico Legal do Distrito Federal. Ele debruçou-se sobre o material sem saber a identidade do morto. Depois de ressaltar que o ideal seria estudar o próprio corpo e ter conhecimento das armas usadas na operação policial, Galvão citou alguns pontos que lhe chamaram a atenção. O primeiro são as marcas vermelhas localizadas próximas da região do peito, chamadas pelos peritos de “tatuagem”, que indicariam um tiro a curta distância. “É um disparo a uma distância na qual a pólvora ainda tem energia cinética suficiente para adentrar o corpo. Então, foi um disparo a curta distância. O que é a curta distância? Depende da arma e da munição. Seriam 40 centímetros, no máximo, imaginando um revólver ou uma pistola. Mais que isso, não”, declarou Galvão. E acrescentou: “Pode ter sido uma troca de tiros? Pode. Pode ter sido uma execução? Pode. Qual é o mais provável? Com esse disparo tão próximo, o mais provável é que tenha sido uma execução. Mas tem de analisar com mais detalhes”.
O segundo ponto destacado pelo médico legista é uma marca que aparenta ser um tiro na região do pescoço. “Pode ter sido um disparo após a vítima ter caído no chão, porque a imagem me sugere ser de baixo para cima, da direita para a esquerda, em quase 45 graus. Esse disparo pode ser o que o povo chama de ‘confere’”, afirmou. Confere é o famoso tiro de misericórdia, efetuado quando não há a intenção de salvar a pessoa baleada. Galvão também destacou uma marca cilíndrica cravada no peito do corpo. “Tem muita chance de ser a boca de um cano longo após o disparo, quente, sendo encostada com bastante força por mais de uma vez. Nesse momento, ele estava vivo, com certeza, porque está vermelho em volta. É uma reação vital.” O professor observou ainda que o ferimento na cabeça poderia ser um corte provocado por um facão, um machado ou um choque com a quina de uma mesa. Pessoas próximas a Adriano da Nóbrega dizem que ele foi torturado. O machucado na cabeça, por exemplo, teria sido resultado de uma coronhada de pistola.
Os sinais de que foi um assassínio estão cada vez mais fortes.
Adriano é um arquivo morto. Mas ainda não ilegível, apesar de uma máquina policial que gera mais suspeitas que confiança.

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