sábado, 2 de abril de 2016

A planta do deserto

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Ontem, o El Pais publicou um estudo sobre o “perfil digital”  dos manifestantes pró e anti-impeachment, no qual – chama-me a atenção uma amiga de muitos anos – este blog é citado.
“Foi possível verificar também que uma proporção muito grande dos leitores de portais como a Rede Brasil Atual e o blogTijolaço  foram ao ato “contra o golpe”, mas como se tratam de veículos pequenos, isso quase não se expressa no total de manifestantes.”
Ninguém é imune ao sentimento de orgulho – ou mesmo de vaidade – e mesmo o “veículo pequeno” não dói nada, porque os 10 milhões depageviews do blog em março são  imensamente mais do que seu autor poderia imaginar, mesmo em momentos de delírio.
Algo que só me obriga a ser mais dedicado e procurar ser melhor no meu trabalho.
Foi bom que tivesse surgido este “gancho” para que eu tocasse num assunto: o da manutenção do blog.
E, você lerá, não para pedir contribuições, mas para pedir que isso seja feito com limites.
Explico. Já havia acontecido raras vezes. Mas, nos últimos dias, o blog, além de muitas e generosas pequenas contribuições, recebeu algumas grandes: especificamente quatro, de mil reais cada.
É evidente que devo agradecer com humildade aos leitores que se dispuseram a doar tamanha quantia. Nem sei que é algo que possam fazer sem lhes criar problemas.
Há um texto em que Monteiro Lobato narra suas andanças atrás de dinheiro para sua “Petróleos do Brasil”, fazendo palestras e vendendo ações, em que um negro, já de certa idade, pega o papel e subscreve um valor alto. Lobato vê que era homem humilde, e resolve adverti-lo de que aquilo era dinheiro demais em algo tão arriscado e improvável.O homem diz que eram quase todas as suas economias da vida e que não acredita que vá tê-las de volta, mas confirma a subscrição com uma frase que faz o escritor desmontar-se: “é que eu acredito no Brasil”.
Ainda assim, eu gostaria de pedir de coração a estes amigos generosos que não façam depósitos de alto valor como aqueles. Não é valor justo pelo meu trabalho, não é algo que não vá fazer falta a quem doa e não é justo para com muitos companheiros que estão, tanto ou mais do que eu, precisando de recursos para manterem suas frentes de luta pela liberdade e pelo ser humano. Dividam, partilhem com que merece tanto ou mais, contribuam com menos, mas continuamente, porque esta é uma longa luta.
Os anúncios do Google, as  assinaturas e as pequenas contribuições já me bastam para sobreviver e já pensar em buscar uma pessoa que me ajude a administrar o blog e a vida, o que só é dificultado agora só pelo fato de eu viver num local algo remoto em Niterói.
Sobrevivemos e crescemos por este espírito de entrega e generosidade que nos vem ligando, e só os imbecis acusam haver aqui dinheiro do Governo Federal porque a vida, em suas cabeças, é só dinheiro. Dinheiro de menos é privação;  mais do que precisamos é, como falou o Papa Francisco, o esterco do diabo.
Ser espartano, austero, para mim – e os que me conhecem sabem disso – não é sequer apenas um dever. É minha forma de viver, e ela não quero nem vou mudar.
Se eu perder isso, perco minhas defesas e me torno vulnerável. O que eu penso e defendo se perderá.
O velho Brizola falava sempre nas plantas do deserto, a quem uma única gota bastava para verdejar. Tenho mais espinhos do que desejei ter, mas não endureço por dentro.

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