O poder de José Hawilla no futebol brasileiro

J. Háwilla é o dono do nosso futebol
"Mesmo se você trabalha com honestidade, com transparência e dignidade, como sempre fiz, eles falam. Eu acho que é ciúme." - J. Háwilla
Financial Times | Joe Leahy | 27/05/2015
A confissão de culpa de José Hawilla, o proprietário e fundador da Traffic, a empresa de mídia esportiva que virtualmente controla o negócio do esporte no país, atinge o cerne da hierarquia do futebol brasileiro.
O jornal O Globo descreveu o empresário, agora com 71 anos, ele próprio um ex-jornalista e apresentador de TV, como "O proprietário do nosso futebol" em uma entrevista de 2010.
Autoridades dos EUA informaram que o J. Hawilla se declarou culpado de acusações de extorsão, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros e, como parte de um acordo de confissão, concordou em devolver US $ 151m.
Em um documento apresentado por um tribunal distrital dos EUA em Nova York, procuradores alegaram que o J. Hawilla, através da Traffic ao longo dos últimos 20-25 anos, pagou subornos a vários dirigentes da federação de futebol para garantir os direitos de TV nos torneios.
Eles incluem a Copa América, a competição sul-americana, e a Copa América Centenário, que marcará o aniversário de 100 anos do torneio e será realizada no próximo ano.
Hawilla também teria pago subornos para garantir os direitos para a Taça de Ouro, realizada pela Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe - Concacaf, e da Copa do Brasil.
Em 1996, ele negociou um esquema de patrocínio para a confederação de futebol do Brasil, a CBF, com uma grande empresa de material esportivo dos EUA, que o documento não identifica. Ele teria pago a metade de seus lucros do negócio a um funcionário de alto escalão da CBF, que também não foi identificado.
O valor dos subornos aumentou de forma constante ao longo dos anos, passando da casa dos seis dígitos em dólares, pelos direitos da Copa América no início de 1990, para US $ 100 milhões que J. Hawilla, através de uma joint venture chamada Datisa, supostamente concordou em pagar aos comandantes da Conmebol, a confederação de futebol sul-americano organizadora da Copa América, para um contrato de 10 anos assinado em 2013.
A antiga empresa de publicidade Traffic foi comprada em 1980 por J. Hawilla que queria introduzir-se na publicidade nos estádios de futebol. 
Em 1987, ele assumiu direitos sobre a Copa América, com a Traffic ostentando que elevou o torneio para o "mesmo nível em termos de qualidade dos campeonatos europeus".
Mas uma de suas realizações de grande vulto veio em 1996, quando ele afirmou ter intermediado um acordo entre a Nike e a CBF, tornando a empresa a principal patrocinadora da seleção brasileira.
Ele expandiu os negócios para os EUA e a Europa no início dos anos 2000, através da criação de sucursais antes de entrar no negócio de investir em jogadores em 2008, através da criação de fundos de investimento que adquirem os direitos econômicos de jogadores profissionais.
Ele envolveu-se com os mais altos escalões do poder no Brasil, e contou com o governador da potência econômica do Brasil, o estado de São Paulo, entre outros políticos, em uma festa para comemorar o 30º aniversário de sua empresa em 2010.
O jornal O Globo informou que a receita do grupo foi estimada em US $ 500 milhões, embora o J. Hawilla nunca tenha revelado o número real, queixando-se, então, que ele era o alvo de rumores sobre negócios espúrios.
- "Mesmo se você trabalha com honestidade, com transparência e dignidade, como sempre fiz, eles falam. Eu acho que é ciúme." - J. Háwila em O Globo.