quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"A Faixa de Gaza do Nordeste"

Por: Paula Thomaz

Publicado na Revista Carta Capital em 23 de outubro de 2011 às 9:53h

A Serra da Ibiapaba, um território de quase três mil quilômetros quadrados, é disputada por Ceará e Piauí. Por Paula Thomaz. Foto: Gov. Ceará

A Serra da Ibiapaba, um território de quase três mil quilômetros quadrados situado nos limites entre os estados do Ceará e do Piauí, é uma espécie de Faixa de Gaza do Nordeste brasileiro. O apelido, em referência ao território cobiçado por palestinos e israelenses, é explicado pela disputa entre as duas unidades da federação pelo controle do local. Há mais de oito anos, de acordo com o procurador-geral ajunto do Piauí, João Batista de Freitas Júnior, os dois estados vêm dialogando por uma divisão justa das terras. Mas na última semana, o diálogo ganhou ares de conflito.

É que o governo do Piauí entrou com uma ação civil ordinária no Superior Tribunal Federal (STF), reivindicando uma área total de 2.821 quilômetros quadrados que hoje pertence ao Ceará. “Nós fomos pegos de surpresa com essa ação do Piauí”, afirma o deputado estadual Neto Nunes (PMDB).

De acordo com ele, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traçou uma linha divisória entre Piauí e o Ceará, mas essa divisão não é bem aceita. Se o STF atender o pedido piauinense, os municípios que passariam para o outro estado seriam: Poranga (66%), Carnaubal (18%), Croatá (32%), Crateús (8%); Guaraciaba (21%); e Ipaporanga (7%). No passado, ainda no tempo do Império, por um decreto de Dom Pedro I, o Ceará cedeu uma parte do litoral para o Piauí e em contrapartida ficou com uma área de sertão. “Só que agora o Piauí quer uma parte de serra, fértil, bom clima, com pousadas, uma região turística do estado. O IBGE diz e conta que essa área é do Ceará. O pedaço trocado pelo litoral foi o sertão”, conta Neto Nunes.

Para o parlamentar, o ideal seria ouvir a população que atualmente é atendida por serviços dados pelo Ceará. “Todos os postos de saúde que estão nessa área em litígio, foram construídos pelo Ceará, os profissionais de saúde são pagos pelo Ceará, as escolas foram construídas pelo Ceará, então a nossa ideia era que a Assembleia do Piauí, junto com a Assembleia do Ceará, os prefeitos, com as lideranças comunitárias e vereadores, pudéssemos fazer reuniões com a população. Porque não adianta uma população que está sendo atendida no Ceará agora fazer parte do Piauí, até mesmo pelos costumes locais.”

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