Texto publicado na Revista Carta Capital em: 30/10/2009 15:47:32
Por: Mauricio Dias
Patrus rodou jornais e revistas e levou a conclusão a Lula: consideram que o governo investe demais em programas sociais.
O Globo é a expressão mais definida dessa visão. Para isso é capaz de deformar fatos para ludibriar o leitor, como fez na reportagem que, no domingo 25, sustentou a manchete do jornal: “Bolsa Família inibe expansão do emprego formal no interior”.
Não se exige perícia para tirar do próprio texto da reportagem o desmentido da manchete. Na página 3, espaço nobre do jornal, é possível fazer a dissecação da mentira. Eis o flagrante do delito, recolhido no quarto parágrafo:
“A precariedade do emprego formal nessas cidades – municípios pobres, com população abaixo de 30 mil habitantes – não tem relação direta com a concessão do Bolsa Família”.
Em seguida, mais um contraste entre texto e manchete:
“A maioria das lojas não assina carteira”, diz a reportagem.
Em vez de ser a condenação do Bolsa Família, esse é, ao contrário, um dos aspectos da crueldade da parcela do patronato tupiniquim que ainda resiste em pagar o salário mínimo exigido por lei, em vigor desde 1940. É prática de exploração de mão de obra barata no Nordeste do País.
Os empregadores não assinam a carteira de trabalho que tira o emprego da informalidade. Evitam, assim, pagar o mínimo que a lei exige em todo o País. Inclusive, em Presidente Vargas, no Maranhão, cenário real da ficção criada por O Globo. O nome da cidade homenageia Getúlio Vargas, o presidente que consolidou as Leis do Trabalho (CLT), como lembra a reportagem em raro momento de fidelidade.
Por displicência ou má-fé, a reportagem não informa o leitor sobre as bases de funcionamento do programa. Eis um resumo:
Benefício Básico: 68 reais (famílias com renda mensal por pessoa de até 70 reais, independentemente do número de crianças ou adolescentes na família).
Benefício Variável: 22 reais (famílias com renda mensal por pessoa de até 140 reais com crianças ou adolescentes de até 15 anos. Cada família pode receber até três benefícios, o que totaliza 66 reais).
Benefício Variável Jovem: 33 reais (famílias com renda mensal por pessoa de até 140 reais com crianças ou adolescentes de até 15 anos. Cada família pode receber até dois benefícios, o que totaliza 66 reais).
O programa alcança mais de 12 milhões de pessoas e os benefícios são cumulativos. Com isso, cada família poderá receber de 22 a 200 reais.
O benefício médio é de 95 reais. Modestíssimo para muitos. Fundamental para quem enfrenta a miséria. Esse valor é a mola mestra da redução da pobreza no Brasil, entre 2003 e 2008, segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas.
Quase 20 milhões de pessoas superaram a condição de pobreza no período cujo impacto provocou queda de 17% na desigualdade social nos últimos cinco anos.
Diante do princípio profissional que estabelece como dever primordial informar o leitor corretamente, a reportagem de O Globo é um atestado de óbito do jornalismo.
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